A possibilidade de o Brasil perder o grau de investimento é real. A avaliação é da estrategista para América Latina do Royal Bank of Scotland (RBS), Flavia Cattan-Naslausky. "Mais do que nunca, um choque positivo na política econômica brasileira é necessário para conter a deterioração dos fundamentos e recuperar a confiança dos investidores externos e internos. A decisão da S&P é clara: apesar de US$ 374 bilhões em reservas internacionais, a perspectiva de o Brasil perder o grau de investimento é real."
A estrategista do banco britânico avalia em relatório que a reação da agência de classificação de risco ocorre como consequência de movimentos distintos, mas que têm a desaceleração da atividade e a deterioração fiscal como ponto em comum.
Entre os motivos, ela cita o "o desempenho modesto das exportações" e "a diminuição do investimento do setor privado". Para a economista, parte dessa contração do investimento no Brasil é resultado da "política ambígua do governo, que tem reduzido a confiança dos investidores". Outro item importante é a desaceleração "mais persistente no consumo das famílias em um contexto de maior endividamento do consumidor". Esse fato também prejudica as perspectiva de crescimento do País, diz a estrategista.
A consequência de uma economia que cresce pouco pela queda das exportações, investimento e consumo, diz a estrategista, é o "enfraquecimento e a deterioração do desempenho fiscal e o aumento do peso da dívida do governo". Ao lembrar que o Brasil se aproxima das eleições presidenciais, a economista diz que o cenário fiscal "pode ficar pior" em 2014. "Constroem-se expectativas em torno da ideia de que a política fiscal anticíclica passou a ser a regra e não a exceção."
"Além de tudo isso, há um grande problema de comunicação entre as entidades governamentais. Foi notável que na ata do Banco Central divulgada ontem a menção à manutenção da meta de superávit primário de R$ 155,9 bilhões", diz ao comentar que o Ministério da Fazenda já havia anunciado que o governo abaterá R$ 45 bilhões em deduções relacionadas aos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ou seja, a economista diz que nem mesmo o BC incorpora o cenário previsto pela Fazenda.