Prestes a completar 30 anos, o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, entra em sua terceira fase de desenvolvimento, com a promessa de significativas mudanças na configuração. De um distante elefante branco a um terminal saturado, de 1984 até agora é possível identificar duas fases distintas do aeroporto. A concessão à iniciativa privada é a promessa de continuidade da expansão, com a área construída sendo triplicada até o término do contrato em 2043 e a implantação de uma série de ações para garantir nível satisfatório de serviço. O Estado de Minas traça um raio X da minuta do edital da concessão e mostra o que deve mudar no aeroporto com os R$ 3,5 bilhões que a empresa selecionada deve investir nos 30 anos de contrato. Isso significa que obras diversas ainda vão gerar transtornos aos passageiros pelas próximas três décadas.
Pelo estudo de viabilidade desenvolvido pela empresa de consultoria aeroportuária norte-americana Leigh Fisher, subcontratada da Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP) para o projeto de Confins, o volume de passageiros deve aumentar 293,63%. O percentual é o segundo mais alto entre os cinco aeroportos que serão concedidos, atrás somente de Viracopos (Campinas). Para suportar esse aumento mantendo o padrão de qualidade exigido, a concessionária terá que construir dois terminais. As interveções deverão ser feitas paralelamente ao crescimento no número de passageiros.
O primeiro terminal tem que estar concluído até abril de 2016 e o segundo será iniciado a partir do décimo ano de contrato. No mais, será preciso ampliar o pátio de aeronaves, construir estacionamentos (incluindo um edifício-garagem) e prédios de apoio à aviação geral.
As construções fazem parte do plano de engenharia, tendo como finalidade garantir uma série de melhorias na prestação dos serviços do aeroporto. Uma das exigências é que a partir da concessão no máximo 5% dos passageiros aguardem mais que 10 minutos na fila de inspeção de segurança. O tempo de espera na fila de check-in e despacho de bagagem não poderá superar 20 minutos no horário de pico em voos nacionais. Outro exemplo inserido nessa lista é que 65% dos passageiros de voos domésticos terão que embarcar pelo sistema de ponte. O restante pode usar o modelo remoto (por ônibus).
O cumprimento de todas as exigências possibilitará à empresa atingir o nível de serviço exigido pelo governo federal. A ordem é que os cinco aeroportos concessionados sejam classificados como C, segundo os parâmetros internacionais da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). À primeira vista, a nota pode parecer baixa, mas o diretor-geral da EBP, Hélcio Tokeshi, afirma que por se tratar de um padrão médio ele é muito bom. “C é muito melhor que hoje. A ou B é nota do aeroporto da Malásia, o de Dubai”, explica o economista, ressaltando que subir a nota significaria um terminal ocioso na maior parte do tempo, o que implica em aumento de custo. Mas avisa: média quer dizer que vai escorregar para F em certo horários. “Toda infraestrutura tem hora-pico. É péssimo não aceitar que em uma hora a qualidade do serviço não vai cair”, afirmou Tokeshi em evento para apresentação dos estudos para jornalistas.
As intervenções para melhorar o nível de serviço integram a primeira das quatro fases de investimentos em que a concessão foi dividida, sendo executadas entre 2014 e 2018. A concessionária, no entanto, terá que fazer uma série de melhorias nos quatro primeiros meses de contrato. As ações foram divididas entre curtíssimo e curto prazo. Doze ações integram a primeira lista, entre as quais melhoria na sinalização (com informações em inglês e português), aumento no fluxo de veículos e de passageiros nos balcões de check-in, inspeção de segurança, emigração e imigração.
Outras 15 medidas têm que ser adotadas antes de completar 120 dias de contrato, ou seja, antes de a bola rolar para a Copa’2014. Fazem parte da lista a reforma de 75% dos banheiros e fraldários da área de embarque; disponibilização de internet sem fio de alta velocidade; aumento do número de tomadas; balcão de informações bilíngue e criação de novos pontos de comércio de bebidas e comidas.
Variedade O último ponto é uma das principais mudanças a serem implementadas pela concessionária. A distância do aeroporto de Confins em relação a centros comerciais é a oportunidade perfeita para a exploração de atividades comerciais variadas, que vão desde lanchonetes e bancas de revistas até lojas de roupa, farmácias e tantas outras. Os usuários do terminal sofrem com a gama restrita de lojas. O estudo de viabilidade econômica prevê aumento nesse tipo de receita de 365,61% até 2043, aproximando o faturamento a meio bilhão de reais (em valores atuais).
A proposta é que o número de empreendimentos aumente de forma considerável para que os usuários do terminal não precisem sair de lá para ter acesso a serviços básicos. Isso também aumenta as chances de uma das três grandes companhias aéreas escolher Confins como hub (termo usado para denominar um ponto de conexão) doméstico.
Atualmente, a receita média por passageiro de Confins é de US$ 3,40, enquanto a média internacional é de
US$ 8,17, segundo estudo da consultoria Leigh Fisher. “Há um potencial de crescimento da receita não tarifária por passageiro, mas ela ainda ficará abaixo da média dos aeroportos da amostra, devido à baixa participação de passageiros internacionais”, diz trecho do estudo incluído na minuta do edital.