Brasília – Os brasileiros que não desistiram de viagens internacionais estão pagando caro para garantir o passeio. O Banco Central passou a divulgar ontem um ranking mensal em que é possível acompanhar a valor médio cobrado pelas instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio. No caso do dólar em espécie, o preço variou 13,6% em maio: de R$ 2,09 (Intercam corretora) a R$ 2,41 (Bradesco).
Usado para compôr o ranking, o valor efetivo total (VET) sintetiza a taxa de câmbio mais o tributo e as tarifas cobradas pelos bancos e casas de câmbio. Para o euro, a autoridade monetária constatou preços de R$ 2,71 (Advanced corretora) a R$ 3,88 (Banco do Brasil), uma variação de 43,1%. O peso argentino variou de R$ 0,32 (OM distrituibora de títulos) a R$ 0,49 (Distri-cash distrituibora de títulos).
O sistema pode ser acessado no site do BC (www.bcb.gov.br). Basta informar se a operação será de compra ou venda, a moeda pesquisada, a forma (espécie ou cartão pré-pago) e a quantia pretendidas. A criação do VET foi aprovada pela Resolução 4.021/2011, do Conselho Monetário Nacional. A partir de 2012, o BC obrigou os agentes cambiais a divulgar o valor efetivo total.
INTERVENÇÃO Testado pelo mercado, o Banco Central interveio de novo ontem, mas o dólar fechou a R$ 2,1720, a maior cotação desde 30 de abril de 2009. Com a venda de leilões de swap cambial tradicional, a autoridade monetária brasileira deixou transparecer que não quer o dólar distante de R$ 2,15. A valorização de 0,84% em relação ao real levou a uma alta acumulada de 1,11% no mês e de 5,94% no ano.
Antes de o Banco Central injetar US$ 1,957 bilhão no mercado por meio de contratos equivalentes a venda de dólar no mercado futuro — representando 97,75% do total ofertado —, a moeda americana chegou a ser negociada a R$ 2,1780. A disparada do dólar já preocupa em relação ao repasse para a inflação. Os contratos futuros de juros voltaram a subir ontem.
No Boletim Focus, divulgado também ontem pela autoridade monetária, economistas do mercado financeiro mantiveram estável a projeção para a taxa de câmbio no fim de 2013 em R$ 2,10 por dólar. Para o fechamento do ano que vem, a estimativa média dos analistas de mais de 100 bancos para o dólar permaneceu inalterada em R$ 2,15.
De olho nos EUA
Brasília – A semana começou com a escalada do dólar e intensa especulação sobre a decisão do Federal Open Market Committee (Fomc), o comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), que se reúne hoje e amanhã para determinar se continua com a política de incentivo à economia. O receio é de que, reduzindo os estímulos que são responsáveis pela injeção mensal de US$ 85 bilhões no mercado, a divisa dos EUA se valorize ainda mais. No Brasil, o impacto será o maior descontrole sobre os preços, alta da inflação e aumento do endividamento das empresas.
Em afirmações recentes, o chairman do Fed, Ben Bernanke, sinalizou que o programa Qualitative Easing (QE) poderá ser reduzido se a economia dos EUA continuar a melhorar. Pela política do QE, atualmente, o Fed compra US$ 45 bilhões em treasuries (notas do Tesouro) e US$ 40 bilhões em títulos lastreados em hipotecas por mês. Após a reunião do Fed, também serão divulgadas projeções trimestrais de crescimento, inflação e desemprego e estimativas sobre a trajetória futura das taxas de juros dos Estados Unidos.
O economista-chefe do HSBC nos Estados Unidos, Kevin Logan, espera que o comitê mantenha os estímulos. Ele alertou, contudo, que será a oportunidade de o Fed esclarecer as declarações do chairman. “Bernanke indicou em maio que o Fomc pode reduzir o ritmo de compras nas próximas reuniões. Ele terá oportunidade de explicar o que vai desencadear essa mudança e quando isso vai ocorrer”, destacou Logan. Outros economistas também não acreditam que o Fed vá reduzir, já na próxima reunião, os estímulos do QE. Mas não há consenso entre os integrantes do Fomc.
De acordo com economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, alguns acham que o incentivo deveria ter sido cortado há algum tempo, mas a maioria quer esperar a melhora efetiva da economia. “Essa maioria acha que a retirada do programa agora pode interromper o processo de recuperação econômica. A ata da última reunião do comitê também considerou o enfraquecimento da economia europeia, grande parceira comercial dos EUA”, argumentou.
Reflexos no Brasil
Qualquer que seja a decisão sobre o Qualitative Easing (QE), vai haver reflexos no aumento de preços no Brasil. A avaliação é do professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Samy Dana. “O mercado reage a duas coisas: ao fato em si e à sinalização do fato. Aqui no Brasil qualquer uma das duas coisas vai gerar mais inflação porque o dólar continuará se valorizando e a moeda norte-americana tem muita força sobre a pressão inflacionária”, disse.
Na avaliação de Alex Agostini, da Austin Rating, o mercado está atento à decisão do Fomc desde 30 de abril, quando Bernanke acenou com redução do QE. “Se ele tirar ou reduzir esse dinheiro, vai diminuir também a oferta monetária e a tendência é a maior valorização do dólar. Todos os países emergentes terão suas moedas desvalorizadas e isso é um movimento normal, que será muito mais intenso no Brasil porque o país tem mais problemas”, disse.
O Brasil é a única grande economia emergente que está em aperto monetário. O Banco Central (BC) aumentou os juros na última reunião, de 7,50% para 8%, e a tendência é de que continue a elevar a Selic. “Há dúvidas de que o governo seja capaz de realizar o superávit primário, a inflação está no teto da meta, e ainda há ingerência sobre setores de energia, como na Petrobras. Isso coloca o país em situação de desigualdade para encarar a volatilidade maior no mercado”, explicou Agostini.
Segundo ele, a valorização da moeda norte-americana ajuda a piorar a condição das contas externas porque as exportações não estão crescendo a ponto de beneficiar as empresas exportadoras e o número de empresas endividadas em dólares é muito alto. (SK)