O ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantiu que o governo tem munição de sobra para segurar a instabilidade dos mercados que está fazendo com que o dólar se valorize cada vez mais. “Temos muita bala na agulha para fazer isso. Temos muitas reservas, como nunca tivemos antes. Temos muitos dólares em carteira”, disse o ministro, ontem à tarde, em entrevista coletiva na sede do Ministério da Fazenda.
Para poupar as reservas em moeda estrangeira, de US$ 376,3 bilhões até o dia 18, o governo vem usando armas utilizadas como a recente redução da alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas aplicações de estrangeiros no mercado de renda fixa e dos derivativos (contratos futuros de dólar) para permitir maior entrada de dólar no país. O BC também vem realizando leilões de swap cambial tradicional para segurar a alta da moeda americana. No entanto, esses mecanismos não estão mais surtindo efeito. Ontem, a divisa dos Estados Unidos rompeu o novo patamar que o mercado vinha tendo como base e ultrapassou a barreira de R$ 2,20.
O câmbio andou na esteira de projeções mais favoráveis do Fomc (o Copom do Federal Reserve, Fed, o banco central norte-americano) sobre a economia que indica a possibilidade de uma reversão mais célere da política monetária dos EUA”, disse o economista-chefe do BES Investimento do Brasil, Jankiel Santos. “O discurso de Ben Bernanke (de ontem) confirmou essa percepção ao sinalizar que a compra de ativos será atenuada a partir do final deste ano e encerrada até meados de 2014. Embora tenha indicado que a taxa de juros permanecerá baixa por bastante tempo, o mercado já sabe que a direção agora dos juros nos EUA será apenas para cima”, completou.
Mantega, entretanto, evitou comentar as medidas do Fed. Ele admitiu que iria analisar os recados do órgão com calma para emitir uma opinião. “O banco central americano fez uma manifestação que ainda está sendo analisada pelos nossos técnicos para saber o que eles realmente quiseram dizer. Isso ainda não está muito claro. Os mercados já estão reagindo, não sei se adequadamente, mas temos que esperar pelo menos 24 horas para saber que eles confirmaram que estarão diminuindo os estímulos monetários”, afirmou. “Ainda está um pouco obscuro em que medida e em que velocidade isso vai acontecer”, completou. Na avaliação do ministro, a fala do Fed “é muito enigmática” e ele não sabe qual vai ser o “horizonte”.
O ministro acredita que essa oscilação nos mercados é passageira e o governo está preparado para agir contra uma valorização acentuada do dólar. “É uma situação sob controle e, portanto, é uma instabilidade passageira”, afirmou. Para ele, a alta da divisa norte-americana “deve se amainar em algum momento” porque os “mercados se reposicionam”.
INFLAÇÃO
Na avaliação de Mantega, a inflação “está sob controle” e vem desacelerando a cada mês, apesar de, em 12 meses, ainda estar perto do limite de tolerância estipulado pelo próprio governo. O ministro, no entanto, admitiu que a valorização cambial é preocupante porque causa pressão inflacionária adicional. “Mas, se ela for passageira, essa pressão se dilui. Mesmo porque todo mundo já comprou insumos no mercado futuro. As compras já estão efetuadas pelos preços mais antigos. Se essa valorização do dólar não perdurar e amainar, não teremos efeito sobre a inflação”, afirmou.