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Estado de Minas

Fuga de investidores faz o dólar disparar

Depois de sinal dos EUA de que estímulos têm prazo para acabar e de que juros podem subir, recursos migram para títulos norte-americanos e moeda tem valorização de 2,45%


postado em 21/06/2013 00:12 / atualizado em 21/06/2013 07:24

Brasília – Dominado pela irracionalidade, o mercado financeiro deu mostras, ontem, de estar em plena crise. Digerindo ainda as falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), que anunciou na quarta-feira um prazo para o fim de estímulos de US$ 85 bilhões mensais, os investidores fugiram em massa dos mercados emergentes. E o Brasil pagou a fatura de toda essa tensão em dólar: a moeda, em disparada, chegou quase aos R$ 2,30 e nem mesmo uma megaintervenção do Banco Central, de US$ 6 bilhões, foi capaz de impedir a escalada. A moeda dos EUA fechou a R$ 2,259, com alta de 2,45%. A bolsa passou o dia no vermelho, mas mudou de trajetória no fim do pregão e fechou em alta de 0,67%, aos 48.214 pontos.


A aversão ao Brasil foi registrada também pelos indicadores de risco. O EMBI, desenvolvido pelo J.P Morgan, subiu 2,2% e, no mês, a alta chegou a 27%. “O governo perdeu a confiança do mercado e a gente ainda está passando por uma crise de governabilidade, com muitos protestos”, disse Felipe Chad, sócio-diretor da DX Investimentos. “Os investidores olham para cá com medo e reagem com muita irracionalidade”, observou. O banco Morgan Stanley, diante desse quadro, reduziu a previsão de crescimento para a economia brasileira de 2,8% para 2,5% em 2013. Para o próximo ano, a expectativa caiu de 3,4% para 3,2%.

No mercado de capitais, o dia foi de altas e baixas e com muitas incertezas. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) chegou a cair 4,10% no início do pregão e girou abaixo dos 46 mil pontos. Alguns papéis, sobretudo os das empresas de Eike Batista, sofreram bastante. Enquanto a ação da petroleira OGX, a maior do grupo, subiu 11,54%, cotada a R$ 0,87, a mineradora de carvão CCX despencou 37,5%, fechou o dia negociada a R$ 0,80.

Perdas no mundo Os prejuízos, porém, não ficaram restritos ao Brasil. Nova York encolheu 2,34%, o pior nível do ano. Frankfurt registrou queda de 3,28%; Paris de 3,66%; Milão, 3,09%; Madrid tombou 3,41%. No México o tombo foi de 3,92%, o menor resultado entre as principais praças do mundo. “Todos os investidores estão fugindo de ativos de risco e migrando para os títulos do Tesouro norte-americano”, explicou Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. Segundo ele, no Brasil a situação pode ser mais intensa devido aos problemas domésticos, com a inflação em alta, o déficit externo em expansão e os gastos públicos em crescimento. “Tudo isso cria um ambiente que não agrada o investidor externo”, ponderou Rosa.

Para o sócio da Ação DallOcca Investimentos Luciano Miranda, um dos principais indicadores da aversão ao risco, o dólar, deve continuar a subir nos próximos dias, apesar de todo o esforço do Banco Central em tentar conter a alta da moeda americana. “As manobras do governo não estão surtindo muito efeito. Segue havendo bastante evasão de capital e, de modo geral, o pessoal do mercado financeiro está bastante preocupado”, comentou. Os mais pessimistas acreditam que em um cenário extremo, caso haja piora dos fundamentos da economia brasileira, a divisa norte-americana chegue a R$ 3. Eles argumentam que atualmente a moeda já está próxima dos níveis observados em 2009, auge da crise financeira.

Fogo na inflação O dólar em alta, explicou o presidente da Associação Brasileira de Educação Financeira, Edmilson Lyra, complicará ainda mais o cenário de inflação no país. “A gente não sabe onde vai parar tudo isso, mas o governo precisa dar uma resposta rápida”, defendeu ele, que acredita em elevação de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em julho, como parte da resposta ao aumento do custo de vida.

“Nosso grande problema, hoje, é a inflação”, ponderou. Já o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, fez avaliação semelhante À de Lyra. Segundo ele, o consumidor sentirá, em breve, os efeitos da escalada do dólar. “Para as empresas importadoras o custo só aumenta. A consequência disso é o repasse para os produtos, e os consumidores é que pagam a conta”, argumentou.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no acumulado de 12 meses, está em 6,50% até maio. A previsão dos analistas é de que em junho esse número estoure o teto da meta de inflação e, com esse quadro de carestia e ainda com toda a comoção popular, o mercado já acredita que o Banco Central leve a taxa básica de juros a dois dígitos. Para alguns economistas, 10% ao ano se transformou em piso. No mercado de juros futuros, as apostas dispararam e começam a se consolidar ao redor desse percentual.

Evite dívida com viagem


A disparada do dólar, sem sinais de recuo a curto prazo, deixou apreensivos os brasileiros com viagem marcada para o exterior em julho. Com casas de câmbio cobrando até R$ 2,45 pela moeda norte-americana, o passeio de férias certamente ficará mais caro, o que tem obrigado muita gente a refazer as contas e até a rever planos, como suspender os passeios. Na média, o dólar turismo foi negociado ontem a R$ 2,373, com alta de 3,17%.

Educadores financeiros consultados pelo Estado de Minas são unânimes em alertar sobre o risco de, neste momento, fazer dívidas em dólar. “Se a viagem for a lazer e ainda não estiver fechada, o melhor é adiá-la”, orienta o presidente da Associação Brasileira de Educação Financeira (Abef), Edmilson Lyra, que culpa a facilidade de crédito e o consumo irresponsável pelo endividamento recorde das famílias.

Para quem estiver com passagens compradas, a dica é tentar levar, em espécie e em cartões pré-pago, toda a quantia a ser gasta durante o passeio. “O cartão de crédito deve ser usado somente em caso de emergência. Além de os gastos serem atualizados diariamente, o total dos débitos é acrescido de 6,38% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)”, disse o educador financeiro Mauro Calil.

Pesquisar preços cobrados pelas casas de câmbio oficiais pode valer a pena. O Banco Central passou a divulgar, neste mês, um ranking do Valor Efetivo Total (VET), que sintetiza a taxa de câmbio mais os tributos e as tarifas cobradas pelas instituições autorizadas pela autoridade monetária a vender moeda estrangeira. No caso do dólar em espécie, o preço variou 13,6% no mês passado: entre R$ 2,09 e R$ 2,41.

Cautela Com o mercado bastante nervoso, os que viajarão no segundo semestre devem acompanhar as cotações e, aos poucos, comprarem os dólares necessários. “De toda forma, vale ficar com o pé atrás. Não é mesmo um bom momento para se endividar com prestações em dólar”, reforçou Luciano Miranda, sócio da Ação DallOcca Investimentos, alertando para o perigo da volta das férias com dívidas em dólar.

O consultor financeiro Edward Cláudio Júnior também condena o uso indiscriminado do cartão de crédito em viagens internacionais diante do cenário atual. “No momento em que estamos, voltar para o Brasil com fatura a pagar certamente não será uma boa”, disse. Os bancos utilizam como base para cobrança do cliente a cotação do dólar no dia do fechamento da fatura. (DA)


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