Apesar da desaceleração do IPCA-15 em junho - de 0,46% em maio para 0,38% neste mês -, os núcleos do indicador apresentam estabilidade e reforçam a avaliação de que a inflação continua com sérias dificuldades para perder o vigor, comentou ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro. Ela calculou que a média dos núcleos atingiu 0,51% no índice apurado em maio, subiu 0,50% no IPCA cheio do mês passado e retornou para 0,51% no indicador divulgado nesta sexta-feira, 21, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ela diz que de outubro até agora os núcleos atingiram a marca média mensal de 0,54%, o que significa uma velocidade de 6,67% em termos anualizados no período, bem acima da meta de 4,5%. Ela prevê que o IPCA cheio deste mês suba 0,37%.
De acordo com Alessandra, um dos grupos que colaboram para que a inflação continue robusta são os serviços. Mesmo excluindo as passagens aéreas, que são um item bastante volátil, os serviços atingiram 0,58% no IPCA-15 de maio e também no de junho e registrou 0,60% no IPCA cheio do mês passado. "Os serviços pouco baixaram desde dezembro, quando atingiram 8,69% no acumulado em 12 meses, e agora no IPCA-15 deste mês apresentaram uma elevação de 8,56% nesta base de cálculo", ponderou.
Alessandra destacou que os alimentos contribuíram para a redução pontual do IPCA-15 de junho. De acordo com o IBGE, o grupo Alimentação e Bebidas saiu de uma elevação de 0,47% em maio para 0,27% neste mês. Os remédios também ajudaram na pequena desaceleração do indicador da inflação, pois variaram de 2,94% para 0,65% no período. A colaboração do Vestuário foi marginal, pois saiu de uma alta de 0,76% para 0,72%. Por outro lado, o grupo Artigos para Residência foi o que apresentou a maior elevação, de 0,18% para 0,68%.
Difusão
Um outro indicador que mostra que a inflação está resistente e tem muitas dificuldades para baixar é o elevado índice de difusão, que não consegue ficar abaixo dos 60%. O IPCA-15 de junho atingiu 61,4%, o que representou uma leve queda ante a marca de 62,5% apurada pelo IPCA cheio de maio. Mas aquela marca ficou muito próxima dos 61,6% registrados pelo IPCA-15 do mês passado.
Para Alessandra, a inflação deve atingir o pico do ano em julho, quando deve alcançar 6,54% em 12 meses. A partir daí, o indicador pode apresentar uma trajetória de leve declínio, a ponto de fechar o ano em 5,6%. E, nesse contexto, ela espera que o Banco Central suba os juros em 0,50 ponto porcentual na reunião de julho e repita a decisão no encontro de agosto, levando a Selic para 9% ao ano.
Segundo a economista da Tendências, a reversão da alta da passagem de ônibus em São Paulo e no Rio de Janeiro deve ser captada basicamente pelo IPCA de julho, o que deve fazer com que o índice reduza sua elevação estimada por ela de 0,24% para 0,17%. Alessandra diz que o ritmo da redução da inflação no segundo semestre, no acumulado em 12 meses, não será muito expressivo porque o IPCA entre setembro e dezembro do ano passado subiu muito, pois atingiu uma média mensal de 0,64% no período. Para os mesmos quatro meses deste ano, ela espera uma desaceleração para o patamar de 0,40%.