Adegas climatizadas em casa, a participação em cursos que ensinam a apurar o paladar para diferenciar vinhos tintos, brancos, espumantes, até a compra de programas turísticos traçados para percorrer a rota da bebida mais velha do mundo. Essas são algumas das provas de que o brasileiro está se tornando um interessado consumidor da bebida consagrada por Baco. Aquecendo um mercado que no inverno chega a crescer 20%, e ao ano movimenta mais de R$ 1,2 bilhão somente em rótulos nacionais, até 2016 o consumo da bebida no país deve crescer 30%.
Em média o brasileiro bebe 1,9 litro de vinho por ano, patamar tímido em relação aos vizinhos do Mercosul e bem distante do padrão europeu. Os uruguaios chegam a consumir 22 litros anualmente; os argentinos, 26, e os chilenos, 16 litros por habitante anualmente. Na Europa, o percentual de países como Portugal, onde o vinho é tributado como alimento, o consumo alcança 50 litros por habitante/ano. Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a meta é que em três anos o consumo nacional atinja, 2,5 litros por habitante. Em regiões de maior consumo, como Sul e Sudeste, pode aproximar-se dos 20 litros/ano.
Parceiros do Ibravin, os supermercados são responsáveis pela comercialização de 70% do volume vendido no Brasil. “Montamos um serviço, com adega, sommeliers (profissional especializado no setor) e promovemos uma feira anual de vinhos para atender a demanda crescente do consumidor", comenta Hamilton de Almeida, gerente de negócios da rede de supermercados Super Nosso. Segundo ele, em 2010 o supermercado oferecia 400 rótulos, hoje são 800, sendo 50% de vinhos importados. O faturamento da adega cresce de 25% a 30% ao ano e as garrafas mais vendidas são aquelas que custam entre R$ 30 e R$ 50.
Há preço de vinhos para atender a variados bolsos. Mas há consumidores que afirmam que nem sempre os mais caros, são os que mais agradam. O casal de aposentados Luciene Albuquerque e Ronan Melo são apreciadores da bebida. “O vinho brasileiro tem melhorado muito ao longo dos anos e existem produtos de ótima qualidade”, explica Ronan. Para apurar o paladar, o casal já fez vários cursos de vinhos, viajam por regiões produtoras e o principal, tomam sempre a bebida. O investimento mensal é de aproximadamente R$ 500. “Tenho três adegas em casa”, diz Luciene. Ela conta que compra bons vinhos que custam entre R$ 25 e R$ 35, mas também aproveita oportunidades e investe em rótulos mais caros sempre que encontra promoções. O casal se prepara agora para repetir um dos programas favoritos, a rota do vinho, em Bento Gonçalves, no Sul do Brasil, celeiro de produtores.
Há 10 anos a vinícola Rio Sol se instalou em Pernambuco, e muitos de seus vinhos espumantes como explica o enólogo Ricardo Henriques, tem notas frutadas o que agrada o paladar do brasileiro. “É um espumante que pode ser tomado tranquilamente nas beiras das piscinas e das praias”, o que segundo o especialista tem agradado também o público internacional. A bebida feita no Brasil acaba de arrebatar a medalha de ouro em concurso em Bruxelas, na Europa. Segundo o enólogo, quando começou a atividade 60% dos produtos da Rio Sol eram exportados, hoje 70% já são consumidos no mercado nacional. Os negócios da empresa com espumantes crescem 30% ao ano. A alta para os vinhos varia de 7% a 10%.
Entre 2008 e 2012 o mercado de vinhos e espumantes avançou 35% no país. A expansão poderia ter sido maior, se os tributos fossem mais baixos: cerca de 60% do valor da garrafa corresponde aos impostos. Diego Bertolini, gerente de Marketing do Ibravin, diz que a carga tributária é pesada e por isso o setor busca incluir a fabricação nacional no sistema Simples.