Brasília – O governo vai insistir no discurso de que a economia brasileira está saudável, com inflação sob controle e crescimento revigorado, mas, na avaliação de especialistas, o que se desenha é um quadro preocupante para o segundo semestre. Além de o custo de vida não dar sinais de arrefecimento, o país terá de conviver com desemprego em alta, aperto de juros, inadimplência apontando para cima, dólar valorizado, atividade fraca e um mercado externo adverso.
Não à toa, dados que circulam de forma restrita entre técnicos da equipe econômica mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) está perdendo fôlego em vez de expandir. Tudo indica que o crescimento de 2013 poderá ser inferior a 2%, possibilidade que já causa constrangimento entre assessores do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Os técnicos mais sensatos do governo ressaltam que, infelizmente, a presidente Dilma Rousseff comprometeu o crescimento do país ao não tomar as medidas necessárias para corrigir as distorções criadas no último ano da administração Lula, 2010, quando o PIB avançou 7,5%, resultado importantíssimo para garantir a continuidade do PT no Palácio do Planalto.
Naquele período, o consumo das famílias foi impulsionado ao limite, com a oferta maciça de crédito – as pessoas físicas já devem mais de R$ 1,1 trilhão aos bancos, ou 25% de todas as riquezas produzidas pelo país em um ano. Nesse ambiente de fartura, a inflação se assanhou e ampliou as garras diante da obsessão de Dilma de ostentar a bandeira política de ter levado a taxa básica de juros (Selic) para o menor nível da história – 7,25% ao ano.
Para piorar, os gastos públicos saíram do controle, e o governo ficou incapacitado de fazer investimentos em áreas estratégicas, como a de infraestrutura. “É aí que entra outra encrenca para o Planalto”, destaca um técnico do BC. Nas manifestações que tomaram as ruas nos últimos dias, a população cobrou, de forma veemente, hospitais, escolas e transporte público de melhor qualidade.
“Mas como fazer isso se todo o Orçamento da União está comprometido?”, indaga o técnico. Para ele, antes de atender os pleitos das ruas, o Tesouro Nacional precisa ajustar suas contas. E isso passa pelo corte de pelo menos R$ 20 bilhões das despesas. Na opinião do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, como não haverá mudanças significativas daqui por diante, o Planalto não poderá se queixar dos pífios resultados a serem colhidos pela economia. (Colaborou Rosana Hessel)