O Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) revelou, no domingo, 23, que o Brasil ultrapassou a Índia e passou a carregar o título de grande emergente com a maior dívida bruta. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que o País passou a liderar o incômodo ranking porque, em 2012, apresentou a maior alta do endividamento entre os grandes países em desenvolvimento. No ano passado, o País terminou com dívida bruta equivalente a 68,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
Dados do FMI mostram que a dívida bruta brasileira cresceu em 2012 o equivalente a 3,52 pontos porcentuais do PIB na comparação com o ano anterior. O número equivale a R$ 323,7 bilhões. Com esse desempenho, o Brasil terminou o ano passado com dívida bruta de R$ 3,014 trilhões.
Em relação ao PIB, o aumento da dívida brasileira foi o maior entre todos os emergentes do G20: África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, México, Rússia e Turquia. Nesse grupo, os sul-africanos ficaram em segundo no aumento da dívida bruta, com 2,6 pontos no ano. Lá, porém, a dívida bruta é bem menor: 42,3% do PIB. Entre os demais países, a China diminuiu a cifra em 2,6 pontos do PIB, a Rússia diminuiu em 0,8 ponto e a Índia aumentou em 0,5 ponto.
Mesmo com esse aumento observado na Índia, o salto visto no Brasil foi maior e, por isso, os brasileiros tomaram dos indianos o incômodo título de emergente com a maior dívida bruta. Na Índia, o indicador terminou o ano passado em 66,8% do PIB. Desde 2006, a Índia liderava esse ranking. Antes, a Argentina ocupava o posto.
No domingo, o BIS citou em relatório anual que o Brasil opera a dívida bruta em um campo considerado inseguro pela instituição. Mesmo com a lembrança de que "não existe uma regra exata para definir metas para dívida", "cálculos supõem um nível seguro para a dívida de 60% do PIB para economias avançadas e de 40% do PIB para economias emergentes". Ou seja, o Brasil está 28,5 pontos acima do patamar considerado ideal para países em desenvolvimento.
No fim de abril, o economista especialista em finanças públicas José Roberto Afonso chamou atenção para o aumento da dívida bruta. "É importante atentar para a forma peculiar como o Brasil amarrou a política fiscal com a creditícia diante da crise. Se nas economias avançadas banco central e governo diretamente tiveram de socorrer empresas e bancos e dar suporte ao fomento para retomada, cena semelhante se passou aqui, com o endividamento público alimentando a expansão do crédito e reduzindo bancos estatais ao papel de meros agentes do Tesouro Nacional, o maior credor da economia", disse em artigo publicado em O Estado de S.Paulo no fim de abril.
O BIS e o FMI usam uma metodologia diferente da do BC para a dívida bruta. Pelo atual cálculo usado pelo Banco Central do Brasil, a dívida bruta é menor e está em 59,2% do PIB.