Brasília – Com a inflação em ascensão e o crescimento em baixa, o pessimismo tomou conta do Brasil. A população, cansada, tenta mudar a velha política com uma onda de protestos que insiste em ocupar as ruas e ameaça regalias. Em dois meses, promessas foram feitas, uma nova agenda política começou a ser desenhada e o país sonha com outro rumo: quer deixar de ser emergente para ocupar um lugar entre os ricos e desenvolvidos. Nesse caminho, ninguém quer perder ganhos sociais obtidos com a estabilidade da economia e todos se recusam a aceitar a armadilha da estagflação. A gestão econômica duvidosa dos últimos anos fez ainda surgir uma sombra no horizonte: o sonho do pleno emprego parece perto do fim.B
“O desafio brasileiro de 2013 não é diferente do de 2003, a inflação é reflexo de uma economia em que a falta de infraestrutura sempre cria gargalos que alimentam a inflação”, observa Sandra Utsumi, diretora de renda fixa do Espírito Santo Investment Bank em Portugal. Esse custo de vida mais pesado e as limitações de infraestrutura jogam ainda combustível na insatisfação que tomou o país. Os brasileiros exigem preços e serviços melhores, mas a solução que se apresenta ao governo, uma elevação severa dos juros básicos (Selic), pode exigir da sociedade uma fatura elevada. “O remédio é amargo. Embora necessário, ele teria inevitavelmente efeitos colaterais dolorosos no curto prazo. Será que o governo está disposto a pagar esse preço?”, questionou Marcelo Carvalho, economista-chefe para a América Latina do banco BNP Paribas.
Sandra, Carvalho e todos os estudiosos da economia têm pensado sobre os anseios do Brasil nas últimas semanas. As respostas nem sempre são as que a sociedade gostaria de ouvir. Em muitos casos, são previsões de que dias piores estão por vir. “Trabalho com o cenário de aumento gradual do desemprego no segundo semestre”, afirma Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra. “O problema do baixo crescimento, em parte, vem do mercado de trabalho, não há mais tanta gente para empregar e, ao mesmo tempo, não dá para aumentar a produtividade desses trabalhadores”, explica Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central.
Demanda e oferta Para o economista do Itaú Unibanco Caio Megale, o que explica o baixo crescimento acompanhado da inflação alta são as limitações no campo da oferta. “A demanda foi estimulada por muito tempo e a oferta não cresceu no mesmo ritmo”, detalha ele, citando os gargalos do país nas áreas de logística e infraestrutura. Deixou-se chegar a um momento, acrescenta o economista, que para continuar a crescer o governo aceitou um pouco mais de inflação.
O economista-chefe do banco Espírito Santo no Brasil, Jankiel Santos, pondera que o país não se preparou para o momento de reversão das condições favoráveis no exterior, a exemplo do fim dos estímulos monetários nos Estados Unidos. A autoconfiança exagerada do governo durante o período de bonança, completa ele, deixou a economia fragilizada. “Na hora em que o mundo virou, puniu quem não fez a lição de casa”, diz. (Com Diego Amorim)