As vendas no varejo não ajudarão a impulsionar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em razão do cenário adverso atual. De acordo com o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar/Fia), Claudio Felisoni, um novo ciclo de consumo forte, como o visto em 2010, vai demorar a acontecer, porque a renda da população está bem comprometida com dívidas anteriores e em razão da inflação.
"Temos três fatores que impulsionam o PIB: consumo, investimentos e exportações. Não veremos mais aquele consumo forte. Os investimentos até melhoraram, mas os prazos de maturação transcendem 2013. E nas exportações estamos vendo queda dos preços das commodities, perda da competitividade, apesar de um câmbio favorável à receita, mas nocivo aos custos", explicou. "É bem provável que o crescimento do PIB fique abaixo das projeções de 2,7% para o ano", ressaltou.
O professor também ressaltou que o aumento do consumo da classe média registrado nos últimos anos foi graças a uma estabilização de preços. "Se não houver um controle efetivo dos preços dos itens, o rendimento da massa não vai aumentar mais e o consumo continuará patinando", ressaltou, dizendo que não adianta o governo anunciar medidas de estímulo ao consumo se não há avanço de renda.
No caso das vendas do varejo ampliado em todo o País, o Provar/Fia projeta um crescimento de 1,3% entre abril e junho ante alta de 6,1% do mesmo período de 2012, com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Para julho a setembro, a expectativa é de um porcentual de 1,1% ante alta de 5,6% dos mesmos meses do ano passado.
Manifestações
Sobre as manifestações recentes, o professor acha que não há interferências nas vendas. "A desaceleração do consumo é muito mais reflexo dessa situação de inadimplência e desemprego. Mas os protestos dos caminhoneiros podem atrapalhar sim, porque é desabastecimento. A economia é um sistema e, quando há quebra em um elo, desestabiliza todo o sistema."
Felisoni ainda comentou que as empresas - não somente do setor varejista - já estão revendo seus planos de investimentos. "Há uma situação de economia instável. Mas agora há a instabilidade política, o que não se via há anos", declarou.