A alta do dólar fez o Índice de Commodities do Banco Central (IC-Br) apresentar em junho a elevação mais expressiva desde julho do ano passado, quando tinha avançado 7,82%. De acordo com o Banco Central (BC), o índice ficou em 5,34% no mês passado, depois de subir 0,55% em maio e de um primeiro quadrimestre de baixas.
Segundo a economista da MCM Consultores Carolina Sato, a elevação do indicador de junho se deve quase que exclusivamente à desvalorização do real em relação ao dólar. Pelos cálculos da analista, a taxa real de valorização da moeda norte-americana no mês passado foi de 6%, levando-se em consideração as variações médias. "As commodities, em si, estão mais para queda do que para alta. Desde o início do ano, elas desabaram", considerou.
O impacto do dólar sobre o conjunto de preços foi, portanto, superior à queda dos produtos. No primeiro semestre do ano, o IC-Br ainda registra recuo de 2,43%. Houve uma redução da baixa no acumulado do ano em junho por causa dos resultados de maio (0,55%) e junho, que sentiram a influência do câmbio. Com isso, o BC tem mais um ingrediente para analisar na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana.
Na divulgação do último Relatório Trimestral de Inflação, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, frisou que o repasse do dólar para a inflação brasileira é menor atualmente do que há uma década. Antes, o presidente do BC, Alexandre Tombini, tinha salientado que uma "política monetária adequada evita que a queda do câmbio nominal atinja a inflação". Mas essa não é uma avaliação consensual de analistas do mercado financeiro.
Estudo da MCM revela, por exemplo, que é preciso um aumento de um ponto porcentual da taxa básica de juros, a Selic, para zerar o impacto inflacionário de uma elevação de 10% na taxa de câmbio. Vale lembrar que foi praticamente esta magnitude de alta que o dólar registrou nos primeiros seis meses do ano: uma valorização de 9,10%. "A passividade da política monetária frente a movimentos de depreciação do real eleva o pass-through (repasse) cambial em cerca de 1,5 ponto porcentual", descreve o trabalho da consultoria.
No mês passado, de acordo com o BC, houve avanço de 5,73% no segmento agropecuário, que inclui itens como carne de boi, óleo de soja, trigo, açúcar, milho, café, arroz e carne de porco, entre outros, ante abril. O grupo energia subiu 4,40% na comparação mensal. Nesse segmento, são incluídos preços de petróleo, gás natural e carvão. O preço de metais, entre eles alumínio e minério de ferro, registrou alta de 4,30% na mesma comparação.