O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, afirmou nesta quinta-feira, 04, que o Brasil tem grande quantidade de gás não convencional, mas que precisa considerar questões ambientais. "Se formos caminhar no sentido de explorar de forma continuada o gás de xisto, temos que avaliar impacto ambiental, que me parece que não será pequeno", disse, lembrando que a exploração pode gerar danos aos lençóis freáticos.
Pimentel colocou que a exploração desse gás reduziu de forma significativa o custo da energia nos Estados Unidos. "Isso está relançando a economia norte americana", avaliou. "É mais ou menos um quinto do nosso custo de energia." Ele lembrou, entretanto, que os EUA têm rede de gasoduto amplamente implantada. "Para nós, o custo seria alto porque teríamos que aumentar nossa rede de gasodutos", explicou. "Esse é um cenário que preocupa a todos. A economia americana é grande parceira nossa, mas é competitiva", avaliou.
O ministro afirmou que os EUA têm capacidade de inovação e pesquisa muito superior que a brasileira e disse que o melhor caminho para enfrentar isso não é o combate, mas a associação. "Se formos enfrentar, vamos começar uma guerra que não tem saída pra nós", avaliou. Ele falou que já há empresas americanas que fazem pesquisas no Brasil e citou a General Eletric. "Não me preocupo muito com a China, mas a economia norte americana relançada com vigor que virá, essa sim poderá ser um problema. Mas será um desafio que saberemos enfrentar", disse.
Paraguai e Mercosul
O ministro acredita que o afastamento do Paraguai do Mercosul não causou prejuízos comerciais ou econômicos ao Brasil. Ele lembrou que o Paraguai foi punido com afastamento do bloco porque os integrantes do Mercosul interpretaram que ocorreu golpe de Estado no País. Sobre o retorno do Paraguai ao bloco, Pimentel disse que o novo presidente daquele País ainda não se manifestou oficialmente.
"Há rumores de que ele faria restrição em relação à presença da Venezuela na presidência pro tempore", afirmou. O ministro disse ainda, que essa questão deverá ser tratada na cúpula do Mercosul. "Interessa a todos os países do Mercosul que o Paraguai volte a ser membro pleno", colocou.
Nível do câmbio
Pimentel estimou que o câmbio não deva voltar a patamares inferiores a R$ 2,00. "Não sei qual será o patamar do câmbio, mas seguramente não voltará aos níveis abaixo de R$ 2,00, que tivemos por dois anos", afirmou, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
O ministro fez a afirmação ao ser questionado pelos senadores sobre os impactos da saída do Brasil do Sistema Geral de Preferências (SGP) dos Estados Unidos, que concede reduções tributárias totais ou parciais a produtos fabricados por países em desenvolvimento. O Brasil será excluído do programa em janeiro de 2014.
"De fato vai acabar em janeiro de 2014, já sabemos disso. Não queremos transformar em prêmio de consolação, mas podemos relativizar esse impacto se nós observarmos que o câmbio mudou de patamar. Ele ajuda", afirmou. "Se ficarmos com o câmbio em torno de R$ 2,20, isso minimiza o impacto do fim do SGP."
Disse ainda que o governo avalia a situação econômica brasileira com realismo, e não com otimismo exagerado. "Nossa obrigação é transmitir a realidade, e a realidade é que o Brasil está melhor posicionado que a maioria dos países do mundo para atravessar a crise econômica internacional", afirmou.
Pimentel disse que o Brasil vive uma situação próxima do pleno emprego, enquanto altas taxas de desemprego atingem países da Europa. Segundo ele, o crescimento de 0,6% do PIB no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2012 foi o quinto melhor resultado mundial nessa base de comparação. "Um leigo dirá que ela é baixa, mas foi a quinta maior taxa de crescimento do PIB trimestral do mundo", afirmou.
"Temos dificuldades e problemas, sabemos que temos que trabalhar com eles, mas não estamos em situação de pré-crise. Estamos enfrentando com valor e galhardia o período de travessia da crise internacional", acrescentou.
Pimentel disse que o País conta com reservas suficientes para enfrentar qualquer "tempestade cambial" e citou que a relação entre a dívida líquida e o PIB diminuiu de 60% para 35% em dez anos.