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Estado de Minas

IPCA volta a estourar a meta do governo em 2013

Custo de vida medido pelo IPCA recua para 0,26% em junho com queda no item alimentação e bebidas, mas em 12 meses registra alta de 6,7%


postado em 06/07/2013 07:21 / atualizado em 06/07/2013 13:29

Paulo Henrique Lobato, Victor Martins e Ana Carolina Dinardo

 

Com maiores reajustes no período de um ano, preços dos alimentos desaceleram de maio a junho(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Com maiores reajustes no período de um ano, preços dos alimentos desaceleram de maio a junho (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

 O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou pelo segundo mês consecutivo e fechou junho (0,26%) com o menor índice de 2013. Por outro lado, quando levado em conta o acumulado nos últimos 12 meses, o indicador (6,7%) superou, pela segunda vez no ano, o teto da meta estipulada pelo Palácio do Planalto – o governo estimou a inflação em 4,5%, admitindo uma variação de dois pontos percentuais para cima. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 Os nove grupos que compõem a inflação oficial no país apuraram altas em junho, mas seis deles acusaram deflação em relação ao mês anterior. O maior percentual foi registrado pelo item habitação (0,57%), o qual, por sua vez, ficou menor do que o de maio (0,75%). No acumulado nos últimos 12 meses, o grupo alimentação e bebidas, influenciado por condições climáticas e crises internacionais, apurou o maior crescimento (12,80%). A boa notícia é que, entre maio e junho, o índice de alta de alimentação e bebidas baixou de 0,31% para 0,04%. É o menor resultado desde julho de 2011.

 “A redução do IPCA teve forte influência dos preços dos alimentos, já que a safra atual está estimada em 186 milhões de toneladas, muito maior que a safra de 2012”, disse Eulina Nunes, coordenador de Preços do IBGE. Para ela, além da maior oferta de alimentos, a elevação dos preços tem inibido a compra de alguns produtos e essa queda no consumo está obrigando o comércio a uma redução de preços. “Há um componente agrícola favorável”, observou Eduardo Velho, economsita-chefe da Invx Global Partners.

 “Entretanto, o panorama ainda não é confortável, sobretudo olhando para 2014 e para a meta de inflação do próximo ano”, argumentou. Segundo o economista, diversos reajustes de preços foram adiados ou cancelados e podem se acumular para o próximo ano. Além disso, ele lembra que a inflação de serviços voltou a subir, passou de 0,56% em maio para 0,64% em junho e pode entrar em tendência de alta. Velho argumenta ainda que o custo de vida pode piorar devido a elevação do dólar frente o real.

 BH Na capital mineira, o mesmo grupo apurou deflação em junho (-0,09%). Esse resultado ajudou a inflação na capital a fechar o mês passado com um percentual bem inferior ao de maio: 0,2%, contra 0,47%. Foi a quinta maior alta entre as 11 capitais ou regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. No acumulado nos últimos 12 meses, o IPCA em Belo Horizonte aumentou 6,65%.

 “A maior variação (em junho) foi no grupo saúde e cuidados pessoais (0,69%) decorrente, ainda, do aumento autorizado, em 31 de março, nos preços dos remédios. Assim, o item produtos farmacêuticos teve variação de 1,15%; os serviços médicos e dentários, de 0,78%; e os planos de saúde, 0,64%. Mas houve redução nos serviços laboratoriais e hospitalares (0,13%). O grupo habitação (0,65%) foi o segundo em termos de elevação, com o aluguel residencial variando 1,3%. A taxa de água e esgoto subiu 2,27% e os artigos de limpeza, 0,66%. Houve redução de 0,39% na energia elétrica residencial”, informou Antônio Braz, técnico do IBGE em Minas.

 Juros vão aumentar

 Preocupado com a inflação e sem confiança na ajuda que poderia vir da política fiscal, o Banco Central deve subir mais os juros básicos (Selic) na próxima semana. No mercado, o consenso é de que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) elevará a taxa de 8% ao ano para 8,50%. A dúvida, porém, está em até onde pode ir esse aperto. A comunicação do BC, até o momento, não conseguiu ancorar as expectativas em torno de um número e os analista estão completamente dispersos, se dividem em apostas que variam de 9% ao ano a 10%.

 As dúvidas do mercado sobre o tamanho do ciclo de aperto monetário aumentaram, nos últimos meses, depois da disparada do dólar frente ao real. A depender de onde a cotação da divisa chegar, pode ter um forte impacto nos preços, principalmente em 2014, foco das ações da política monetária. A única certeza dos economistas e instituições financeiras é que o aumento da Selic se tornou um mal necessário, primeiro para segurar a inflação que, em junho – no acumulado em 12 meses –, ficou em 6,70%; segundo, para amenizar os efeitos de um dólar que pode superar R$ 2,30. Segundo especialistas, com a valorização de quase 11% no ano, o potencial impacto para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de um incremento de 0,62 ponto percentual na inflação anual. “Um aperto mais agressivo (nos juros) seria uma estratégia mais eficiente para ancorar as expectativas de inflação e mercados de câmbio neste momento delicado”, afirmou Fábio Akira, economista-chefe do banco J.P. Morgan.

 A elevação da Selic, além de ajudar no controle de preços e do dólar, é parte de uma estratégia do Banco Central, que tenta recuperar a credibilidade brasileira depois de dois anos de baixo crescimento, de inflação em alta e de um intervencionismo estatal classificado por integrantes do mercado como exagerado.

 Corte de gasto Na próxima semana, o governo, inclusive, se prepara para anunciar um contingenciamento adicional de pouco menos de R$ 15 bilhões. Mesmo com essa promessa, especialistas ainda não acreditam que será possível entregar um superávit primário (economia para os juros da dívida) de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Caso esse percentual fosse alcançado, contribuiria para amenizar as altas de preços no país.


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