Além disso, o país continuará crescendo abaixo da média mundial e dos vizinhos latino-americanos. Ao divulgar a nova versão do Panorama Econômico Global sob o título “Dores do crescimento”, o FMI reduziu de 3,3% para 3,1% a expectativa de crescimento mundial, neste ano, e de 5,3% para 5% a estimativa de expansão dos países emergentes, no mesmo período. “Apareceram novos riscos, em particular de um maior período de desaceleração do crescimento de economias emergentes. E esses riscos aumentaram”, disse o Fundo.
O conselheiro do departamento de Pesquisa do FMI, Thomas Helbling, demonstrou preocupação em relação à inflação no Brasil, que se mantém acima da meta do governo, e ele disse que “recorrer a um estímulo monetário adicional seria inadequado”. Na sua avaliação, o país tem muitas limitações para crescer mais. “Após uma década de expansão, o Brasil alcançou limitações, como a infraestrutura e o mercado de trabalho, que limitam seu potencial de crescimento”, afirmou Helbling em entrevista coletiva, ontem, em Washington. Ele sinalizou que o governo brasileiro precisa estimular os investimentos em infraestrutura para poder elevar suas taxas de crescimento e manter seus objetivos da política fiscal. Em relação aos recentes protestos sociais no Brasil, Helbling afirmou que essas manifestações não foram incorporadas ao relatório, mas elas refletem o descontentamento da população com o baixo crescimento econômico do país e da má qualidade dos serviços públicos.
O FMI destacou ainda que a expansão global foi afetada por uma crescente volatilidade nos mercados financeiros desde o último relatório, publicado em abril. “Os emergentes foram os mais afetados. Os recentes aumentos das taxas de juros nas economias avançadas e a volatilidade nos preços dos ativos provocaram algumas fugas de capitais nas economias mais frágeis, provocando a desvalorização das moedas locais”, afirmou o órgão.
A projeção de uma desaceleração maior entre as nações em desenvolvimento feita pelo FMI acende mais um sinal de alerta em relação ao baixo crescimento das nações que sustentaram a expansão global desde a última crise e que, daqui para frente não conseguirão ter o mesmo desempenho na hecatombe financeira após 2008. As atenções estão voltadas para China que deverá crescer cada vez menos. O Fundo estima que o país asiático terá uma expansão de 7,8%, este ano, e de 7,7%, em 2014. A China continua preocupando os especialistas. Alguns já estimam que o país asiático crescerá abaixo de 7% em 2015. A Capital Economics, por exemplo, calcula que Pequim terá uma expansão de 6,5% em 2015. A consultoria britânica prevê que o Brasil crescerá 3% em 2015, abaixo dos 3,2% previstos para 2014. Além disso, estima que a inflação do país continuará acima da meta de 4,5% ao ano estipulada pelo governo brasileiro.
O economista sênior para a América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood, também aposta em uma maior desaceleração na China, e ele lembra que isso não deverá ajudar muito o Brasil que tem o país asiático como maior parceiro comercial e principal destino de nossos produtos básicos, que ancoraram os superávits dos últimos anos. Ele destacou ainda que o país também enfrenta muitas dificuldades em relação às mudanças da política monetária dos Estados Unidos.
O país necessita gerar crescimento do PIB a partir de suas fontes internas. Para isso, precisará ter ganhos de produtividade, uma vez que o desempenho da indústria brasileira é decepcionante”, afirmou. “O Brasil ainda tem oportunidades de mercado atraentes, mas será necessário fazer reformas políticas e se o país quiser atrair investimentos estrangeiros consideráveis”, completou Wood.
Indústria de Minas cresce e revê meta
O modesto aumento de 0,65% do faturamento da indústria de Minas Gerais em maio, descontadas as influências sazonais, reforçou a necessidade de revisão das expectativas de crescimento do setor para 2013, que a equipe econômica da Federação das Indústrias do estado (Fiemg) discutirá no fim de junho. A instituição começou o ano com projeções de expansão superior a 3% da produção, já rebaixadas a 2,51%. A perspectiva, agora, diante de um ambiente mais desfavorável, é de que esse número não vá se sustentar, reconhece o presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg, Lincoln Gonçalves Fernandes.
“O cenário mudou rapidamente, com a redução do ritmo de crescimento da China (grande compradora de produtos mineiros) e, no Brasil, com a tendência de não cumprimento de superávit comercial. Embora em queda nos últimos meses, a inflação se mantém em nível elevado, sofrendo o repique do dólar valorizado”, afirma o industrial. Apesar do aumento de 5,13% da receita da indústria mineira de janeiro a maio, frente ao mesmo período do ano passado, o levantamento feito regularmente pela Fiemg indica queda expressiva em três segmentos importantes para o desempenho econômico do estado, dos 16 ramos pesquisados.
A metalurgia básica, que engloba as usinas produtoras de aço, enfrenta retração de 12,11% e as fábricas de produtos de metal, especialmente as estruturas metálicas, tiveram corte de 33,44% do faturamento no acumulado do ano. Neste último segmento, há redução do nível de emprego desde janeiro. A receita dos fabricantes de produtos químicos, por sua vez, caiu 5,07% até maio. A indústria automotiva, que vinha se preservando de números no vermelho, registrou diminuição de 11,34% em maio, na comparação dessazonalizada ante abril.
Em alta O resultado de maio poderia ter sido pior não fosse a retomada de preços e das exportações da indústria extrativa mineral, em especial a do minério de ferro, que proporcionou expansão de 18,47% do faturamento. As fábricas de máquinas e equipamentos contribuíram, com receita 8,51% superior a de abril. Entre os 16 setores analisados pela Fiemg, nove perderam faturamento em maio. Na média do setor, as horas trabalhadas subiram 0,43% e o nível do emprego variou 0,66%, com ajuste sazonal. A soma dos salários pagos cresceu 4,84%.
O fechamento mais alentado dos indicadores da indústria de Minas de janeiro a maio ainda reflete um primeiro trimestre que surpreendeu pelo bom desempenho e retrata algumas das medidas recentes do governo de estímulo às fábricas, observa o gerente do Departamento de Economia da Fiemg, Guilherme Veloso Leão. “Assistimos a uma grande oscilação de indicadores econômicos e isso fragiliza as nossas expectativas”, afirma.