A fruticultura de Minas Gerais - quarto produtor brasileiro - vive ciclo positivo desde o começo dos anos 2000, com aumento da produtividade e da produção de boa parte dos principais cultivos, principalmente aqueles que miraram o mercado internacional ou almejam alcançar o exterior. As barreiras à expansão, contudo, surgem do lado de fora da porteira, critica Pierre Vilela, coordenador da assessoria técnica da Federeção da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg). "O produtor busca eficiência sempre. A partir da porteira, chegam os problemas, uma série de fatores, do transporte aos intermediários que compõem o custo Brasil", afirma.
"Volume não vai faltar. Temos de definir é a questão da durabilidade da fruta para que ela mantenha o sabor", afirma o produtor Ilson Diniz do Carmo, enquanto acompanha a seleção das tangerinas graúdas, que pesam até 400 gramas, no galpão mantido pela Fazenda Vira Sol. Ilson e os sócios Geraldo, Ednei e Celso, todos da mesma família, pioneira no negócio, conduzem a plantação, distribuída em 120 mil pés, em Belo Vale e na vizinha Piedade das Gerais.
Expansão As lavouras contam com a vantagem da expansão da produtividade que alcança, em média, 40 quilos por planta, e pode crescer, influenciada pelos plantios novos, segundo Vladimir Eustáquio de Almeida, engenheiro-agrônomo do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG). Veterano no negócio, o produtor Simão Januário do Carmo, de 70 anos, acompanha a plantação e negocia com atacadistas de São Paulo ou do Paraná, que batem às portas do Sítio Boca Calada.
Simião lembra a decisão que parecia arriscada no fim dos anos 70, quando plantou os primeiros 2.500 pés de tangerina no município. "Naquele dia eu pensei: A gente plantou com tanto exagero para a época que não poderia resultar em outra coisa. Ou o comprador vai a São Paulo ou no Simião. Hoje temos mais de 70 mil pés em produção", afirma.
A área plantada na cidade, de 1,5 mil hectares, cresceu 10% no ano passado. Apesar do estado precário das rodovias no Brasil, a evolução da tecnologia dos caminhões ajudou bastante a encurtar as distâncias das plantações ao consumidor. A carga que demorava 18 horas para chegar ao Sul da Bahia, hoje pode levar menos de 12 horas e a carreta que precisava de 5 horas para entregar a mercadoria em Belo Horizonte faz, hoje, o trajeto em uma hora e meia.
Em meio a exigências
Até a manga Palmer e o limão Tahiti estarem prontos para embarcar ao exterior as fazendas e os produtores investem na qualidade das frutas e se adaptam à regras duras estabelecidas pelos compradores. Só participa do mercado europeu quem tem pelo menos uma certificação, em geral, a chamada GlobalG.A.P. (do inglês Global Partnership for Good Agricultural Pratice), organização privada com sede em Colônia, na Alemanha. O trabalho de adaptação ao novo perfil do negócio das frutas na Região Norte de Minas está completando seis anos e promoveu uma espécie de transformação entre os agricultores, conta Jorge Luiz Raimundo de Souza, presidente Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte).
"Quando começamos a nos preparar para exportar muitos produtores não conheciam nem mesmo Belo Horizonte. Hoje, ele vão para Portugal", afirma. Cerca de 90% das frutas são destinadas ao porto de Roterdã, na Holanda, e de lá são distribuídas para Alemanha, França e Portugal. A escolha do frete está associada aos volumes exportados e à durabilidade das frutas para enfrentar o trajeto até o consumo.
A manga já foi despachada pelo aeroporto de Confins, na Grande BH. Neste mês, o frete aéreo alcançou US$ 1,50 por quilo, ao passo que o transporte marítimo custava US$ 0,35, em média, por quilo. Por avião, entre Janaúba e o aeroporto do local da comercialização (Lisboa ou Amsterdã), o transporte leva 30 horas, em média. Se a opção for a via marítima, serão 25 dias, também na média. Os embarques por navio saem dos portos de Salvador (BA) e Santos, depois de percorridos 1 mil a 1,280 mil quilômetros desde Jaíba ou Janaúba. A carga sai em carretas transportando conteineres refrigerados ao custo de R$ 5 mil a R$ 6 mil, com capacidade para carregar 550 caixas de 20 quilos.