A recente valorização do dólar em relação ao real tem deixado em estado de atenção setores da economia que dependem da moeda norte-americana a valores mais moderados para fazer bons negócios. Importadores de perfumes, cosméticos, vinhos e alimentos de alto valor agregado e, ainda, o mercado de turismo, acompanham diariamente as oscilações da moeda, que fechou a R$ 2,24 na sexta-feira (19). Segundo representantes desses segmentos, até agora, a política adotada na ponta tem sido segurar preços o máximo possível para não perder clientes. Mas, se não houver reversão do cenário, há possibilidade de reajuste nos valores pagos pelos produtos e serviços.
De acordo com presidente da Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba), Adilson Carvalhal Júnior, desde o início do processo de dólar em alta as importadoras estão manejando os preços em ritmos variados e grande parte delas está segurando os valores. “Mas a gente acha que este mês vai ser atualizado tudo. A partir de agosto, o consumidor vai estar percebendo mais isso no ponto de vendas”, aposta o presidente. A estimativa dele é que o setor aplique reajustes de 5% a 8%. “Varia para cada produto, cada empresa importadora”, diz.
Carvalhal destaca que, antes da valorização do câmbio, 2013 já dava mostras de que não seria um ano bom para o setor de bebidas e alimentos finos. “O mercado está um pouco retraído em termos de aquecimento econômico. O primeiro trimestre foi bom, mas a Páscoa nem tanto. Maio, começo do inverno, costuma ser um bom mês, mas este ano não foi. O bolso do consumidor está mais curto. Por isso, muita gente não subiu os preços, por temor da queda de vendas. Fecharemos o ano com crescimento pequeno, de 5%. Descontando o dólar e a inflação, será um decréscimo”, destaca.
Em outro setor com forte presença de importados, o de perfumaria e cosméticos, ainda não se fala em reajuste de preços porque há esperança de um recuo da valorização da moeda norte-americana. “A gente não pretende mexer agora nos preços. Ninguém pode prever [o que acontecerá com o câmbio], pois a gente não tem como controlar a volatilidade. Tem que aguardar neste momento”, avalia Renato Rabatt, diretor financeiro da Associação dos Distribuidores e Importadores de Perfumes, Cosméticos e Similares (Adipec) e diretor-geral da importadora LVMH Perfumes e Cosméticos. Segundo Rabbat, mesmo que o câmbio force um reajuste, por enquanto são mantidas expectativas otimistas para 2013. “O dólar em alta traz até algum benefício, porque o brasileiro viaja menos e consome mais nossos produtos importados vendidos no mercado doméstico”, comenta. De acordo com ele, está previsto um crescimento de 15% nas vendas com relação a 2012.
No caso dos empresários do ramo do turismo, os custos para trabalhar aumentaram e ainda não foram repassados aos consumidores. “As operadoras, agências de viagem e companhias aéreas têm ajustado os custos internamente e quase não estão repassando para o viajante. Estão ganhando menos dinheiro. Muitas congelaram o dólar a R$ 1,99”, ressalta o vice-presidente de Relações Internacionais da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), Leonel Rossi Júnior. Segundo ele, isso não deve causar retração do setor e sim um crescimento mais modesto. “A expectativa era crescer 10% este ano e agora esperamos aumento de 5% com relação a 2012”.