Se comparados com os resultados de maio, quando 1.877 vagas foram cortadas e houve queda de 0,06% nas contratações, o desempenho da construção em junho foi melhor, mas levando-se em conta o resultado do mesmo mês do ano passado, quando foram criados 4.244 postos, o setor recuou cerca de 50,7%. Em Minas Gerais, onde foi registrado saldo líquido de empregos de 28.064 vagas e crescimento de 0,66% na comparação com o mês anterior, a construção civil teve o quarto pior desempenho entre os setores.
No balanço da construção civil, as demissões superaram as contratações em 187 postos de trabalho, representando queda de 0,05%. No estado, a elevação foi justificada principalmente pela agropecuária, que criou 27.054 postos, sendo 21.826 relativos às atividades de cultivo de café, e 3.767 vagas no setor de serviços.
Para Plínio Campos, coordenador técnico da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Fundação João Pinheiro, que será divulgada na semana que vem e abre os números do mercado de trabalho de outros segmentos da construção civil, os resultados podem ser jutisficados pelo “humor estremecido do mercado.” “O país não está crescendo e, numa situação como essa, a tendência é de que as pessoas diminuam o consumo, principalmente de bens duráveis”, explica. Ainda de acordo com Campos, há uma notável “acomodação do mercado imobiliário, que faz com que o ímpeto da construção civil seja diminuído.”
Copa do mundo
O professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em mercado de trabalho Mário Rodarte explica que os números apontam a dificuldade de a mão de obra construção civil seguir crescendo em um momento em que grandes projetos, como os relativos à Copa, já foram encerrados. “As empresas contrataram bastante nos anos anteriores, mas agora as pessoas contratadas, mesmo em um número menor, estão dando conta dos projetos que essas empresas têm nas mãos”, diz. Mário lembra ainda o crescimento tímido de 1,9% nas contratações do setor, nos últimos 12 meses. “Uma coisa é crescer depois de um período de crise, mas manter o crescimento depois do crescimento é algo que não é trivial”, reforça.
No resultados colhidos para o país, depois da construção civil, o segundo pior resultado foi o da indústria de transformação, que gerou 7.922 postos, com crescimento de apenas 0,09%, seguido do comércio, com 8.330 postos, que cresceu 0,9%. Já a agricultura, pelo segundo mês consecutivo, liderou as aberturas de vagas formais, com 59.019 postos, crescimento de 3,65%. O setor de serviços cresceu 0,27%, com um saldo líquido de empregos formais de 44.022, mostrando reação em relação ao mês anterior, quando 21.154 postos foram gerados.
Na sala de espera do Sindicato dos Trabalhadores na Construção de Belo Horizonte, nenhuma dificuldade para encontrar profissionais assinando a rescisão de seus contratos de trabalho. O pedreiro João Ventura Filho foi dispensado pela primeira vez, depois de 17 anos na profissão. Ele trabalhava para uma construtora, que finalizou a obra em que ele atuava. “Por agora, não quero voltar a trabalhar como pedreiro”, diz.
A atividade da construção civil no Brasil continuou a se retrair em junho, acompanhando o enfraquecimento da atividade econômica, segundo a pesquisa “Sondagem da Indústria da Construção”, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade informou que o indicador, que mede o nível de atividade do setor, caiu para 44,3 pontos em junho, contra 46,9 pontos em maio. O índice vai de zero a cem pontos e resultados abaixo de 50 indicam retração. O nível de atividade do setor da construção não cresce desde março de 2012 e desde dezembro apresenta retração.
“Há alguns meses a construção vem mostrando retração, o que se intensificou em junho”, afirma Danilo Garcia, economista da CNI e responsável pela pesquisa. Como o setor trabalha com períodos mais longos, de dois anos, diz, tem mais dificuldades para se adaptar em cenários negativos. A construção civil em relação à usual para o mês ficou em 42,3 pontos em junho, o que demonstra atividade menor do que o normal para o mês. Esse é o pior resultado da série, que se iniciou em 2009. Em maio, esse indicador apontava 44,8 pontos.
Reflexo da queda da atividade, o indicador do número de empregados ficou em 45,5 pontos em junho, ante 47,4 pontos em maio deste ano. Desde abril de 2012, a construção não expande o quadro de funcionários, segundo a CNI. A entidade observa que a redução no quadro de funcionários é disseminada entre as empresas do segmento. “O cenário negativo da economia leva as empresas a se adaptarem na oferta de trabalhadores”, observa Garcia.
INCERTEZAS A pesquisa da CNI mostrou que os três segmentos da indústria – construção de edifícios, obras de infraestrutura e serviços especializados – mostram desaquecimento. O que apresenta maior retração é o de construção de edifícios. “Há incertezas por parte do consumidor em relação ao futuro, o que prejudica sua disposição a assumir financiamentos de longo prazo”, diz o economista.
O desempenho negativo da indústria da construção em junho levou os empresários do setor a reduzir o otimismo em relação à atividade de suas empresas para os próximos seis meses. Apesar de o indicador de julho ter atingido 54,6 pontos, o que demonstra esperança de retomada na atividade, esse é o menor resultado desde o início da série, em 2009. Em junho, o índice foi de 55,9 pontos.