O cenário nos canteiros de obras da construção civil em Belo Horizonte mudou. No lugar de cartazes anunciando vagas para pedreiros e carpinteiros, entraram as faixas de “Vendem-se unidades neste local”. A procura desenfreada por mão de obra para o setor na capital faz parte do passado. Tanto é que o déficit de trabalhadores, antes estimado em 20 mil operários pelo Sindicato dos Trabalhadores na Construção de Belo Horizonte (o Marreta), hoje está zerado.
O número de trabalhadores demitidos na construção civil da região metropolitana deu um salto de 76,9% de janeiro a junho deste ano, comparado ao mesmo período de 2012, segundo levantamento do sindicato, que levou em conta as cidades de Belo Horizonte, Sabará, Lagoa Santa, Nova Lima, Raposos e Ribeirão das Neves. Nos primeiros seis meses de 2013, foram homologadas 8,2 mil rescisões de contratos de trabalho, contra 2,6 mil no mesmo período de 2012. Só para se ter ideia, o número de demitidos neste ano já supera o de todo o ano passado, quando foram dispensados 4,6 mil trabalhadores com mais de um ano de carteira assinada.
“O setor da construção civil sofreu retração como um todo. Acabaram as grandes obras e os trabalhadores foram embora. A estrutura dos grandes hotéis que estão em construção, por exemplo, foi finalizada. As obras do Mineirão, Independência e Cidade Administrativa também não demandam mais. Não está faltando serviço, mas também não faltam trabalhadores”, afirma Osmir Venuto da Silva, presidente do Marreta.
A desaceleração na contratação de mão de obra é reflexo dos números da construção civil. A indústria — que já assegurou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no passado, com o setor agropecuário — registrou o primeiro resultado negativo significativo em anos no primeiro trimestre de 2013, com relação ao mesmo trimestre de 2012: queda de 1,3%. Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Simão, o primeiro semestre deste ano se revelou muito ruim para o setor. "A construção civil, em geral, acompanha a performance do país. Ainda não temos os números consolidados, mas o semestre foi de retração", lamenta. O empresário destaca que apenas a indústria da construção civil contribui com 7% da formação do PIB do país. "Mas se considerarmos toda a cadeia produtiva do setor, a participação sobe para 10%", pontua.
Apesar de sua importância para a produção de riquezas do país, no primeiro trimestre do ano, na comparação com os últimos três meses do ano passado, o desempenho da construção civil beirou a estabilidade, com retração de
0,1%, enquanto o PIB do país evoluiu 0,6% no mesmo período. No acumulado dos últimos quatro trimestres, o setor teve um resultado pífio, de apenas 0,3% de crescimento. No mesmo período, o PIB total aumentou 1,2%, revelando descompasso que não era comum no passado, de acordo com Simão. "Seguramente, não vai ser um ano bom", diz.
Em maio deste ano, os principais indicadores da construção tiveram recuo em Belo Horizonte, demonstrando que as incertezas macroeconômicas têm afetado o segmento. De abril para maio, os lançamentos caíram 87,78%, recuando de 352 para 43 apartamentos novos, segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG). O número se refletiu no volume de vendas, que registrou queda de 75,4%, passando de 313 para 77 unidades, e também na velocidade de vendas, cujo índice retraiu de 14,76%, em abril, para 4,12%, em maio.
Para o vice-presidente da área imobiliária do Sinduscon-MG, Lucas Guerra Martins, os números mostram que o segmento não está passando ileso diante do cenário econômico desfavorável. “A incerteza da conjuntura econômica foi transferida para o nosso comprador”, afirma Martins. Ele ressalta, no entanto, que o mercado está se adequando à oferta e que não há sobra de unidades. “Estamos longe de ter um problema no mercado imobiliário. Há crédito disponível e vontade do governo de financiar e diminuir o déficit habitacional. O crescimento estava focado no consumo. Mas hoje há um sentimento de que o governo deve investir em infraestrutura”, afirma. No mercado de mão de obra da construção, Martins acredita em estabilização no próximo ano. “As obras lançadas no boom da construção, há dois anos, estão sendo entregues agora”, diz.
CAMINHO INVERSO Há dois anos, quando houve a escassez de mão de obra na construção civil, os salários eram altos, o valor cobrado pelos profissionais para os serviços em casa ficaram exorbitantes e muita gente abandonou empregos como de vendedores e caixas de padaria para ir para os canteiros de obras. Hoje o caminho mais comum é o inverso. Muita gente que sai não quer mais voltar. É o caso do servente de obras Ricardo Santos Martins, de 28 anos. Ele atuou na função por dois anos e cinco meses, mas a obra, um condomínio no Bairro Floresta, acabou e seu contrato foi rescindido. Com o dinheiro que recebeu R$ 2,62 mil), ele pretende fazer cursos de ajudante de montador de móveis e de mecânico. “Com esses cursos, posso ter uma profissão que consiga manter por mais tempo, além de gerar outras oportunidades”, diz.
Preços do serviços continuam altos
A estabilidade de trabalhadores nos canteiros de obra ainda não teve reflexos nos preços dos serviços domésticos, que sofreram escalada de valores pela escassez de profissionais nos últimos anos. O valor da diária do pedreiro, pintor, eletricista e bombeiro na capital hoje varia de R$ 150 a R$ 200, segundo o Marreta. “Mas o preço ainda deve cair. A crise econômica atinge primeiro a construção civil, depois o resto da população”, observa Venuto.
Em junho deste ano, o preço da mão de obra de serviços em casa teve alta de preço de 1,77% em Belo Horizonte, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPC-A), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta ficou acima da média nacional, de 1,43%. Se levado em conta o acumulado do ano, a alta no preço dos serviços em casa na capital chega a 7,41%, contra 5,04%, em média, no país.
Ana Lúcia Silva dos Santos trabalhava como auxiliar administrativa em uma obra no Bairro Sion. Saiu há um mês. Com o dinheiro que vai receber, ela pretende fazer um curso na área de costura. “Estão precisando de costureiras nas facções. E não trabalhamos para uma empresa só. São várias”, diz.
De janeiro a maio deste ano, o setor da construção civil gerou 17,54 mil empregos em Minas Gerais, contra 28,39 mil no mesmo período de 2013. “O setor continua a gerar vagas, mas em ritmo menor. Há maior equilíbrio entre oferta e demanda”, afirma Ieda Vasconcelos, economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). (GC)
O número de trabalhadores demitidos na construção civil da região metropolitana deu um salto de 76,9% de janeiro a junho deste ano, comparado ao mesmo período de 2012, segundo levantamento do sindicato, que levou em conta as cidades de Belo Horizonte, Sabará, Lagoa Santa, Nova Lima, Raposos e Ribeirão das Neves. Nos primeiros seis meses de 2013, foram homologadas 8,2 mil rescisões de contratos de trabalho, contra 2,6 mil no mesmo período de 2012. Só para se ter ideia, o número de demitidos neste ano já supera o de todo o ano passado, quando foram dispensados 4,6 mil trabalhadores com mais de um ano de carteira assinada.
“O setor da construção civil sofreu retração como um todo. Acabaram as grandes obras e os trabalhadores foram embora. A estrutura dos grandes hotéis que estão em construção, por exemplo, foi finalizada. As obras do Mineirão, Independência e Cidade Administrativa também não demandam mais. Não está faltando serviço, mas também não faltam trabalhadores”, afirma Osmir Venuto da Silva, presidente do Marreta.
A desaceleração na contratação de mão de obra é reflexo dos números da construção civil. A indústria — que já assegurou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no passado, com o setor agropecuário — registrou o primeiro resultado negativo significativo em anos no primeiro trimestre de 2013, com relação ao mesmo trimestre de 2012: queda de 1,3%. Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Simão, o primeiro semestre deste ano se revelou muito ruim para o setor. "A construção civil, em geral, acompanha a performance do país. Ainda não temos os números consolidados, mas o semestre foi de retração", lamenta. O empresário destaca que apenas a indústria da construção civil contribui com 7% da formação do PIB do país. "Mas se considerarmos toda a cadeia produtiva do setor, a participação sobe para 10%", pontua.
Apesar de sua importância para a produção de riquezas do país, no primeiro trimestre do ano, na comparação com os últimos três meses do ano passado, o desempenho da construção civil beirou a estabilidade, com retração de
0,1%, enquanto o PIB do país evoluiu 0,6% no mesmo período. No acumulado dos últimos quatro trimestres, o setor teve um resultado pífio, de apenas 0,3% de crescimento. No mesmo período, o PIB total aumentou 1,2%, revelando descompasso que não era comum no passado, de acordo com Simão. "Seguramente, não vai ser um ano bom", diz.
Em maio deste ano, os principais indicadores da construção tiveram recuo em Belo Horizonte, demonstrando que as incertezas macroeconômicas têm afetado o segmento. De abril para maio, os lançamentos caíram 87,78%, recuando de 352 para 43 apartamentos novos, segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG). O número se refletiu no volume de vendas, que registrou queda de 75,4%, passando de 313 para 77 unidades, e também na velocidade de vendas, cujo índice retraiu de 14,76%, em abril, para 4,12%, em maio.
Para o vice-presidente da área imobiliária do Sinduscon-MG, Lucas Guerra Martins, os números mostram que o segmento não está passando ileso diante do cenário econômico desfavorável. “A incerteza da conjuntura econômica foi transferida para o nosso comprador”, afirma Martins. Ele ressalta, no entanto, que o mercado está se adequando à oferta e que não há sobra de unidades. “Estamos longe de ter um problema no mercado imobiliário. Há crédito disponível e vontade do governo de financiar e diminuir o déficit habitacional. O crescimento estava focado no consumo. Mas hoje há um sentimento de que o governo deve investir em infraestrutura”, afirma. No mercado de mão de obra da construção, Martins acredita em estabilização no próximo ano. “As obras lançadas no boom da construção, há dois anos, estão sendo entregues agora”, diz.
CAMINHO INVERSO Há dois anos, quando houve a escassez de mão de obra na construção civil, os salários eram altos, o valor cobrado pelos profissionais para os serviços em casa ficaram exorbitantes e muita gente abandonou empregos como de vendedores e caixas de padaria para ir para os canteiros de obras. Hoje o caminho mais comum é o inverso. Muita gente que sai não quer mais voltar. É o caso do servente de obras Ricardo Santos Martins, de 28 anos. Ele atuou na função por dois anos e cinco meses, mas a obra, um condomínio no Bairro Floresta, acabou e seu contrato foi rescindido. Com o dinheiro que recebeu R$ 2,62 mil), ele pretende fazer cursos de ajudante de montador de móveis e de mecânico. “Com esses cursos, posso ter uma profissão que consiga manter por mais tempo, além de gerar outras oportunidades”, diz.
Preços do serviços continuam altos
A estabilidade de trabalhadores nos canteiros de obra ainda não teve reflexos nos preços dos serviços domésticos, que sofreram escalada de valores pela escassez de profissionais nos últimos anos. O valor da diária do pedreiro, pintor, eletricista e bombeiro na capital hoje varia de R$ 150 a R$ 200, segundo o Marreta. “Mas o preço ainda deve cair. A crise econômica atinge primeiro a construção civil, depois o resto da população”, observa Venuto.
Em junho deste ano, o preço da mão de obra de serviços em casa teve alta de preço de 1,77% em Belo Horizonte, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPC-A), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta ficou acima da média nacional, de 1,43%. Se levado em conta o acumulado do ano, a alta no preço dos serviços em casa na capital chega a 7,41%, contra 5,04%, em média, no país.
Ana Lúcia Silva dos Santos trabalhava como auxiliar administrativa em uma obra no Bairro Sion. Saiu há um mês. Com o dinheiro que vai receber, ela pretende fazer um curso na área de costura. “Estão precisando de costureiras nas facções. E não trabalhamos para uma empresa só. São várias”, diz.
De janeiro a maio deste ano, o setor da construção civil gerou 17,54 mil empregos em Minas Gerais, contra 28,39 mil no mesmo período de 2013. “O setor continua a gerar vagas, mas em ritmo menor. Há maior equilíbrio entre oferta e demanda”, afirma Ieda Vasconcelos, economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). (GC)