Depois do carro financiado e da TV de tela plana, a classe média brasileira agora mira a casa própria. Nos primeiros seis meses do ano, o volume de empréstimos carimbados para a compra e reforma de imóveis alcançou a marca recorde de R$ 49,6 bilhões, segundo dados divulgados ontem pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). A cifra representa uma alta de 34% sobre os R$ 37 bilhões liberados para esse fim no primeiro semestre de 2012 e diz respeito apenas às operações contratados junto ao Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), cujos recursos são custeados pela caderneta de poupança. Nessa linha de crédito, os juros cobrados do tomador variam entre 5,79% ao ano, no caso da Caixa Econômica Federal, e 15,93% ao ano, no caso da Poupex, conforme levantamento do Banco Central (BC).
Em Minas, o avanço foi ainda maior, com R$ 3,8 bilhões em imóveis financiados entre janeiro e junho, valor 57,5% superior ao apurado em igual período de 2012. A expectativa, agora, é de expansão no número de financiamentos, já que o valor máximo de imóveis dentro das regras do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) deve ser expandido de R$ 500 mil para R$ 750 mil ainda este ano. A proposta está em análise pelo Banco Central e Ministério da Fazenda. "A última vez que esse valor subiu foi em 2009. Se fôssemos corrigir só pela inflação, esse valor teria chegado a R$ 650 mil", afirmou o presidente da Abecip, Octávio de Lazari Junior, lembrando que o preço dos imóveis acumula altas bastante superiores à da inflação nos últimos anos.
Segundo a Abecip, a inadimplência do financiamento imobiliário – contratos com mais de três prestações atrasadas – é a menor entre os contratos com alienação fiduciária. Entre 2008 e 2013, enquanto o calote no cheque especial foi de 8,2%, o de veículos 6,3% e o do crédito pessoal 4,5%, o do financiamento estacionou em 1,9%. Dados do Banco Central mostram que o crédito imobiliário dentro do SFN subiu 34% em 12 meses, superando o crescimento do crédito rural (23%), indústria (11%) e pessoa física (9%).
Projeção
Tamanho é o volume de recursos utilizados para a compra da casa própria que a Abecip já projeta, ainda para 2013, que o crédito imobiliário alcance a marca igualmente recorde de 8,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Até 2015, porém, a estimativa é de que esse indicador some 10% das riquezas geradas pelo país, número ainda considerado tímido para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria de Construção (CBIC), Paulo Safady Simão. “Eu entendo que essa projeção certamente será atingida, mas considero esse patamar ainda bem baixo, se compararmos com o que acontece no mundo, o que mostra que estamos bastante atrasados quando o assunto é crédito imobiliário”, disse.
De acordo com dados do Banco Mundial, até 2010, países como Dinamarca e Reino Unido tinham mais de 100% de suas riquezas aplicadas em recursos imobiliários, colocando-os na primeira e segunda posição, respectivamente, no ranking dos 15 países que mais aplicam em imóveis. A França, a última colocada nesse levantamento, tinha, à época, mais de 40% do PIB aplicado em crédito imobiliário.
Cautela para comprar bem
No Brasil, a decisão de assumir um financiamento habitacional passa não somente por ter recursos disponíveis para que bancos possam emprestar ao tomador. Hoje, são os preços altos dos imóveis que têm afastado consumidores do sonho de adquirir a casa própria. Nos últimos cinco anos, o preço de um imóvel pronto em São Paulo, o maior mercado do país, saltou incríveis 174,5%. Quando se leva em conta a variação para todo o país, apenas nos últimos 12 meses, essa elevação já alcança 11,6%, segundo o índice Fipe-Zap, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
No mesmo período, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) acumula alta de 6,40%. Trocando em miúdos: mesmo com o custo de vida encostando no teto da meta perseguida pelo governo, de 6,5% ao ano, a variação real dos imóveis já chega a 5,2% apenas nos últimos 12 meses. Para o vice-presidente de Habitação do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Flávio Prando, essa elevação significa que os preços já estão próximos de atingir o limite. “Uma coisa é certa: não deve haver, pelo menos nos próximos meses, um aumento significativo desses imóveis. No máximo, eles devem acompanhar a inflação”, apontou. (DB)