A empresa Lucra Soluções Financeiras, prestadora de serviços bancários para o Banco do Brasil que atua em frentes como recebimento de contas, saques e vendas de produtos, fechou mais de 90 pontos de atendimento em Minas Gerais e em outros três estados – Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. Em Minas, cerca de 65 municípios contavam com as unidades que aliviavam o fluxo de clientes nas agências. O negócio foi desativado depois de rompimento do contrato pela instituição financeira. A Lucra fechou as portas deixando mais de 600 funcionários sem pagamento de salários e direitos trabalhistas, como o Fundo de Garantia doTempo de Serviço (FGTS), vale-transporte, férias e décimo terceiro salário.
Trabalhadores da empresa fazem desabafos na internet em relação à situação financeira ruim em que se encontram e denunciam, em página do Facebook, que não há qualquer informação sobre o pagamento dos salários e acerto de contas. Quando procurados pelos funcionários, os administradores da Lucra não atendem telefones e nem os recebem pessoalmente. No início do mês, na ocasião da dispensa, foi feito comunicado às equipes que valores estavam retidos no Banco do Brasil, mas que em breve a situação seria contornada para dar prosseguimento às rescisões trabalhistas, o que não ocorreu. Funcionários em cargos estratégicos na gestão do negócio afirmam que o contrato teria sido rompido depois de fraude superior a R$ 6 milhões.
Alegando sigilo comercial, o Banco do Brasil não confirmou ou negou o rombo. A instituição informou somente que o bloqueio de pontos de correspondentes do banco no país é medida prevista contratualmente, aplicada para dar segurança aos usuários do sistema. “A decisão de bloqueio está amparada na inobservância de obrigações da contratada previstas na Resolução CMN 3954 e no contrato firmado com o BB”, diz o banco, em nota.
Um funcionário da empresa, que preferiu não se identificar, contou que os serviços prestados incluíam as áreas transacional (recebimentos, saques etc.) e comercial (abertura de contas e vendas de seguros). “Fazíamos também o transporte de numerário do ponto de atendimento chamado Mais BB para as agências bancárias. O procedimento, conhecido como ‘alívio’, era bem perigoso, porque carregávamos no corpo altos valores”, descreveu. “Há dezenas de centenas de funcionários em situação muito precária. A empresa não está sinalizando que terá cerca de R$ 1,4 milhão para fazer o acerto trabalhista.”
A reportagem do Estado de Minas foi até a sede da Lucra, em Divinópolis, mas encontrou as portas fechadas. Em Montes Claros, no Norte de Minas, outra cidade em que havia atividade da empresa, as duas agências estavam desativadas. Uma delas estava totalmente fechada e a outra mantinha as portas abertas, mas o sistema estava fora do ar. Três funcionários informavam aos clientes que o serviço seria restabelecido em 15 dias. Procurada pelo Estado de Minas, Neiva Borges de Araújo, responsável pela Lucra e que assinou o contrato com o Banco do Brasil, disse não ter nada a declarar sobre o caso.
Responsabilidade
“A rigor, o banco tem responsabilidade solidária pela dívida trabalhista”, afirma João Carlos Amorim, presidente da Comissão de Direitos Sociais e Trabalhistas da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas (OAB-MG). O Banco do Brasil, por meio de nota, informou que busca com a empresa contratada encontrar melhor forma de encaminhar a situação. (Colaborou Simone Lima)