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Estado de Minas

Vale tudo para segurar a alta do dólar

BC se esforça e realiza operações para tentar conter a alta da moeda, que bateu em R$ 2,30. Mas alívio veio dos EUA


postado em 01/08/2013 06:00 / atualizado em 01/08/2013 06:46

Em um dia em que o Banco Central (BC) tentou de tudo para trazer o dólar para baixo, foi a ação do Federal Reserve (Fed), a autoridade monetária dos Estados Unidos, que conseguiu interromper a escalada da moeda sobre o real. Após superar a casa dos R$ 2,30 durante o pregão, a divisa norte-americana encerrou ontem cotada a R$ 2,278, com leve alta de 0,13%. No mês, a valorização é de 2,27% e, desde maio, já chega a 14%.


A disparada só não foi maior porque o BC realizou, ainda durante a manhã, três leilões de troca de dólares, em operações que funcionam como uma espécie de venda de moeda no mercado futuro. Mesmo essas operações foram insuficientes para reverter a tendência de alta da divisa, o que só aconteceu durante a tarde, quando um comunicado do Comitê de Política Monetária do Fed levou tranquilidade aos investidores de todo o mundo.

Na nota, a instituição reforçou a decisão de manter a política de compras de títulos soberanos, o que, na prática, significa uma injeção de US$ 85 bilhões por mês na economia dos Estados Unidos. Também anunciou que manteria a taxa básica de juros entre zero e 0,25% ao ano. Na prática, uma eventual subida dessa taxa significaria o fim da farra do dinheiro barato em todo o mundo, o que poderia levar a uma fuga de aplicações em países emergentes, como o Brasil.

Mesmo que isso venha de fato a ocorrer, analistas preveem que não há outro caminho para o dólar que não seja a valorização. Dessa forma, o que hoje é visto como o teto da moeda, os R$ 2,30, pode passar a ser, em breve, o novo piso. “A gente já viu o dólar superar a barreira dos R$ 2, dos R$ 2,10 e, agora, dos R$ 2,30. Como esse movimento de alta é mundial, em caso de piora da situação econômica lá fora, é bem possível que o câmbio assuma facilmente esses R$ 2,30 como um novo patamar”, disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal.

Juros

Faz cinco anos, desde a crise de 2008, que a taxa de juros nos Estados Unidos não rompe o patamar de 1%. Além disso, depois da piora da situação na Europa, o Fed passou a adotar um plano de compra de títulos hipotecários, que sofreram grande desvalorização após a crise de 2008, e de papéis da dívida do governo norte-americano.

Com a sinalização de que os juros continuarão baixos pelo menos por ora, quem estava apostando em uma alta mais forte das taxas também no Brasil passou a rever suas análises. Foi o que aconteceu, por exemplo, no mercado de juros futuros. Ontem, assim que o dólar rompeu a casa dos R$ 2,30, houve um aumento das apostas de alta nas taxas no país, principalmente com contratos com vencimento em janeiro de 2014. Esse movimento foi revertido logo em seguida, após o comunicado do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) – o Comitê de Política Monetária (Copom) dos EUA. Com isso, os juros futuros encerraram o dia em estabilidade nos principais contratos.

A avaliação dos analistas é que, mesmo após sinais claros de retomada da principal economia do mundo, a percepção do governo norte-americano seja a de que essa recuperação ainda não atingiu o ritmo adequado, mesmo após sucessivos incentivos adotados. Por isso, a divulgação, também feita ontem, de que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu 1,7% no segundo trimestre de 2013 não surtiu o efeito esperado sobre os mercados. Apesar de o número ter vindo muito acima do esperado – o mercado apostava em uma alta bem mais moderada, de 0,9% –, há uma percepção de que o Fed considere que ainda falta muito a ser feito.

 

Brasília – O diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) Paulo Nogueira Batista criticou a ajuda financeira da instituição à Grécia. Na segunda-feira, o Fundo aprovou a liberação de US$ 1,7 bilhão como parte de um programa de reestruturação econômica que inclui  aportes da União Europeia e do Banco Central Europeu — em conjunto, eles compõem a chamada troika.

O novo crédito eleva para US$ 37,6 bilhões o total de empréstimos do FMI ao país. Nogueira Batista teme que os gregos não consigam ressarcir o Fundo. “Os recentes acontecimentos na Grécia confirmam alguns de nossos maiores temores. A implementação (das medidas de recuperação) tem sido insatisfatória em quase todas as áreas; estimativas de crescimento e da sustentabilidade da dívida continuam excessivamente otimistas”, afirmou o diretor-executivo em um texto publicado ontem.

Ele criticou as privatizações “quase paralisadas” e afirmou que documentos do fundo estão a um passo de “contemplar a moratória ou atraso nos pagamentos das obrigações da Grécia ao FMI”. A avaliação divergiu da que foi manifestada pelo chefe da missão do organismo multilateral à Grécia, Rishi Goyal, para quem “a economia grega está se reequilibrando a um ritmo notável”.

Indicado pelo Brasil, Nogueira Batista representa um grupo de 11 países no FMI. Mas esclareceu que suas ressalvas em relação à ajuda não refletem necessariamente a posição do governo. “Faço as declarações como membro da diretoria do FMI, que tem, entre outras obrigações, a de zelar pela integridade da instituição. No meu entender, o programa da troika para a Grécia coloca em risco a integridade reputacional e até mesmo financeira do Fundo”, afirmou Nogueira Batista. Ele explicou que os diretores-executivos têm um duplo mandato: a representação dos países no FMI e a própria governança da instituição.

Entre os críticos do excesso de rigor nas exigências que têm sido feitas aos gregos está a presidente Dilma Rousseff. “Eu não acredito numa saída que simplesmente obrigue a Grécia (…) a cortar todo o seu funcionalismo público, vender o Parthenon. Além de vender o Parthenon, o que mais ela pode vender? As ilhas gregas? Eu não acho que essa solução seja correta”, ironizou Dilma em 2011, a jornalistas em Nova York.

Mais tarde, em diversos momentos, a presidente afirmou que o programa de cortes de gastos públicos impostos à Grécia assemelham-se aos que foram feitos ao Brasil e a outros países latino-americanos nos anos 1980. Elas foram equivocadas, segundo Dilma, porque reduziram o crescimento econômico, atrasando ainda mais o equilíbrio. Na época, o Brasil tinha de aceitar imposições do FMI, do qual era devedor. Hoje, o país é credor.

Nogueira Batista disse que a preocupação com o efeito das medidas de ajuste na economia grega é relevante e que remete a casos do passado. “Concordo que o rigor fiscal é excessivo. Há alguma semelhança com situações passadas na América Latina, notadamente com a Argentina na época da Lei de Conversibilidade.”

O diretor-executivo esclareceu, porém, que não defende maior sacrifício por parte dos gregos, e sim que os europeus assumam maior responsabilidade na ajuda ao país, impedindo que o FMI sofra um calote.

“Não vejo como começar a superar a crise da Grécia sem alívio substancial na carga de endividamento com o setor oficial da área do euro, que detém a maior parte da dívida soberana do país. O status de credor preferencial do FMI deve ser preservado, no meu entender”, ponderou.


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