Os produtos importados começam a subir de preço por conta da forte desvalorização do real. Na segunda-feira, a moeda norte-americana avançou 0,92% e fechou o dia cotada a R$ 2,30. Somente neste ano, o dólar subiu 12,47%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), registrou uma alta de 2,20% no preço do televisor em julho na cidade de São Paulo. No mesmo período, a inflação do notebook foi de 0,47%, e a do microcomputador de 0,27%. O setor de eletroeletrônicos é grande importador.
Por enquanto, porém, a pressão do câmbio é limitada. A alta do dólar não deve elevar os índices de inflação de julho. O próprio IPC teve desvalorização de 0,13% no mês passado, depois de alta de 0,32% em junho. O IBGE divulga na quarta-feira, 07, os dados do IPCA de julho e a expectativa de boa parte do mercado é de que a inflação fique próxima de zero.
“O IPCA deve trazer boas notícias, mesmo que já esperadas, para o governo”, disseram analistas da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) por meio do Informativo Semanal de Economia Bancária. “A expectativa dos analistas é que o índice venha em torno de zero, o que deve trazer a variação acumulada em 12 meses dos atuais 6,70% para 6,24%.” “A se destacar ainda o forte recuo nas expectativas para a inflação nos índices não oficiais, em especial o IGP-M deste ano, cuja mediana das projeções recuou de 4,94% para 4,69%”, concluíram os economistas.
Pressão
Os especialistas avaliam, porém, que haverá efeito significativo do câmbio na inflação. Durante uma palestra em evento do setor automobilístico, o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore disse que o movimento de desvalorização do real em relação ao dólar pressiona a inflação. Ele avalia que a taxa de repasse do câmbio para o IPCA numa estimativa “otimista” está acima de 5%.
Na avaliação de Pastore, a tendência é do câmbio ficar ao redor de R$ 2,30. Segundo Pastore, a desvalorização do real “não é transitória”. Ele destacou que esse fato está relacionado com a migração de uma parte dos capitais que estão nos mercados emergentes para os EUA e o avanço do déficit das contas externas no Brasil. Para Pastore, o déficit em transações correntes deve subir de US$ 52 bilhões em 2012 para US$ 80 bilhões este ano.
“Contudo, a depreciação do câmbio precisa ser contida pela política monetária e fiscal ou ambas”, destacou. “No entanto, como o governo passa por uma crise de confiança, com as manifestações de ruas, a economia política sugere que os governantes ficam um pouco mais cautelosos para reduzir gastos”, destacou. “Eu preferiria que o ajuste viesse da parte fiscal, mas não vejo o governo mudando. O superávit primário está muito baixo e a contabilidade criativa está ativa.”
Segundo Pastore, o IPCA deve subir perto de 6% neste ano e atingir 6,5% em 2014. “A inflação no País está reprimida”, comentou, referindo-se às medidas que o governo adotou para conter a elevação dos preços, como a decisão de não elevar as tarifas de passagens de ônibus. “Sem preços administrados, a inflação no Brasil está rodando perto de 8%.” As informações são do jornal
O Estado de S.Paulo
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