Pressionada por gastos públicos e com apenas uma empresa interessada no leilão, a presidente Dilma Rousseff prepara o adiamento do bilionário projeto do trem-bala, ligando Campinas, São Paulo e Rio. Em reunião realizada na noite de terça-feira, no Palácio do Planalto, Dilma disse que, se o governo não conseguir mobilizar mais empresas, o leilão do Trem de Alta Velocidade (TAV), previsto para setembro, não será realizado.
A reportagem apurou que apenas a espanhola CAF, agora, está interessada no leilão. As outras empresas desistiram. A Siemens, delatora do esquema de cartel, pediu adiamento do leilão para ter mais tempo de organizar um consórcio. A avaliação majoritária no governo é que não há clima para iniciar agora um empreendimento considerado “faraônico” pelos críticos, com investimentos de R$ 34,7 bilhões, quando a população exige melhorias no transporte urbano.
Na reunião desta terça-feira, 06, Dilma disse que a prioridade, hoje, é investir em corredores de ônibus e terminais de integração. No mês passado, ao lado do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ela anunciou um pacote de R$ 8 bilhões para mobilidade urbana. O ministro dos Transportes, César Borges, e o presidente da Empresa de Planejamento e Logística, Bernardo Figueiredo, participaram da reunião com Dilma, que também contou com a presença de Guido Mantega (Fazenda), Miriam Belchior (Planejamento) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).
Risco
A presidente poderá deixar o projeto do trem-bala para o segundo mandato, caso seja reeleita, em 2014. Incertezas econômicas também pesam na decisão. A queixa generalizada no mercado é que o TAV é um projeto arriscado e de baixa rentabilidade. Outro fator de desânimo é a ausência de um sócio brasileiro de peso. Para piorar, o governo fixou uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 7% para o empreendimento. As rodovias que vão a leilão no mês que vem têm rentabilidade de 7,22%. Em conversas reservadas, ministros afirmam que há muita divergência no governo sobre o tema.
O risco de pôr um projeto emblemático de Dilma sob o comando de um cartel preocupa o Planalto, mas o nicho de fornecedores de tecnologia de trens de alta velocidade é muito restrito. Por isso, a “coincidência” entre interessados no projeto e os integrantes do conluio que agiu em governos tucanos já era de se esperar. De qualquer forma, o cartel investigado pelo Cade não é tido como um empecilho ao leilão do ponto de vista técnico.