Marinella Castro e Zulmira Furbino
José, Thales, Gécio, Marco Antônio. Além do corajoso projeto de ser pai, eles têm em comum uma outra rotina de investimento e riscos. Fisgados pelas oportunidades de trabalho, atraentes mas longe de casa, eles fazem parte de um contingente que cresce no país. No popular é o emprego bate e volta; na classificação dos especialistas, a migração pendular. Pegar a estrada para encontrar a família e depois fazer o caminho de volta, rumo ao trabalho, é rotina para milhares. Pesando a favor da decisão estão as melhores oportunidades na profissão, novos desafios, importante impulso na renda e na qualidade de vida da família. Difícil na história é enfrentar as condições ruins das estradas e a saudade de casa.
Thales Chácara, 33 anos, analista de tecnologia, pai de Daniel (6 anos) e Gabriela (3 anos), viaja mais de 800 quilômetros por semana, entre a vinda para Belo Horizonte no domingo e a volta para Teófilo Otoni, na sexta-feira. Como ele, o médico Marcos Antônio Magalhães, de 36, pai do pequeno Marco Bruck Magalhães, de seis meses, todos os domingos à noite sai de Belo Horizonte e segue rumo a Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. Lá ele coordena a disciplina de urgência e emergência no câmpus da Universidade de São João del-Rei, e só volta quatro dias depois. “Faço isso desde o início de 2012. Fico em Divinópolis com o coração em BH. O celular funciona o dia inteiro e à noite também”, desabafa. Ele explica que fez concurso na faculdade porque como intensivista tinha uma rotina muito pesada.
Que o diga o engenheiro José Roberto Nassif, de 42, que ao mesmo tempo administra com precisão dois grandes projetos. Em Belo Horizonte sua dedicação é para a família: o filho Lucas, de 4 anos, e a esposa, Ana Luiza. Em Nova Era, a 130 quilômetros de casa, é gerente de implantação do mineroduto Minas-Rio, projeto da companhia Anglo American. “É preciso energia para administrar a rotina”, diz o engenheiro, que faz o chamado pêndulo, desde que Lucas completou 11 meses. Segundo Nassif, as oportunidades em sua área de atuação são grandes no interior. Como a distância de Belo Horizonte, onde mora a família, é relativamente curta, sábado de manhã ele enfrenta a BR-381 e volta para passar o fim de semana em casa. “Trabalhar longe é um desafio grande, um exercício a mais que pode compensar pela infraestrutura e a logística que se tem”, diz ele, que já teve experiências mais distantes, em Goiás e São Paulo.
FENÔMENOS
Para a família de Thales Chácara, a alternativa também é se dividir entre duas oportunidades, no interior e na capital. Enquanto a mãe das crianças, Adriana, que é professora, aproveita o avanço da educação, em Teófilo Otoni, no Norte de Minas, onde tem dois empregos, Thales há um ano trabalha em Belo Horizonte, na Telbrax, como analista de novas tecnologias e tendências de mercado. O projeto da família é cansativo, mas tem dado certo. Os encontros são pelo Skype durante a semana. Nos feriados, sábados e domingos, eles estão sempre juntos. “As oportunidades de trabalho aqui (BH) foram boas para mim e lá (Norte de Minas) são interessantes para minha esposa”, conta ele, que hoje está comemorando o Dia dos Pais em casa com Daniel, Gabriela e Adriana.
Migração, agora, encurta distância
Para Cláudio Salvadori Dedecca, professor do Centro de Estudos Sindicais e da Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a migração em função do trabalho mudou de natureza no país. “Ela agora é de distância mais curta. É claro que ainda existem as de longa distância, mas hoje as viagens são muito mais de natureza intrarregional do que de uma região para a outra”, observa.
Guilherme Veloso Leão, gerente de Economia e Finanças da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), explica que, apesar da concentração dos investimentos do estado, regiões como o Norte de Minas, Sul, Triângulo, entre outras, receberam investimentos significativos nos últimos anos, o que justifica a abertura de novas oportunidades de trabalho dos que optaram por investir na profissão longe de casa.
Durante dois anos, o administrador de empresas Gécio de Souza viajou de avião e de ônibus entre Ouro Branco, na Região Central do estado, e Vitória (ES) para encontrar nos fins de semana a filha, Giulia (5 anos), e a mulher, Fátima. No interior de Minas, ele participa de um projeto de expansão no setor de aços planos. A experiência deu tão certo e o vai e vem valeu a pena. Na última semana, a família mudou-se para Minas. “Trocamos a praia e a cidade grande pela calma do interior.” Segundo ele, o risco das estradas e a saudade de casa foram os grandes fatores na tomada de decisão. (ZF e MC)