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Estado de Minas

Pais enfrentam a distância dos filhos para conseguir um emprego melhor

Quilômetros separam pais que trabalham longe da família. Rendimentos e melhores condições compensam sacrifício


postado em 11/08/2013 07:03 / atualizado em 11/08/2013 07:51

Marinella Castro e Zulmira Furbino

O Skype mantém o contato diário de Thales Chácara com a mulher e os filhos, que moram em Teófilo Otoni(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
O Skype mantém o contato diário de Thales Chácara com a mulher e os filhos, que moram em Teófilo Otoni (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)

José, Thales, Gécio, Marco Antônio. Além do corajoso projeto de ser pai, eles têm em comum uma outra rotina de investimento e riscos. Fisgados pelas oportunidades de trabalho, atraentes mas longe de casa, eles fazem parte de um contingente que cresce no país. No popular é o emprego bate e volta; na classificação dos especialistas, a migração pendular. Pegar a estrada para encontrar a família e depois fazer o caminho de volta, rumo ao trabalho, é rotina para milhares. Pesando a favor da decisão estão as melhores oportunidades na profissão, novos desafios, importante impulso na renda e na qualidade de vida da família. Difícil na história é enfrentar as condições ruins das estradas e a saudade de casa.

Thales Chácara, 33 anos, analista de tecnologia, pai de Daniel (6 anos) e Gabriela (3 anos), viaja mais de 800 quilômetros por semana, entre a vinda para Belo Horizonte no domingo e a volta para Teófilo Otoni, na sexta-feira. Como ele, o médico Marcos Antônio Magalhães, de 36, pai do pequeno Marco Bruck Magalhães, de seis meses, todos os domingos à noite sai de Belo Horizonte e segue rumo a Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. Lá ele coordena a disciplina de urgência e emergência no câmpus da Universidade de São João del-Rei, e só volta quatro dias depois. “Faço isso desde o início de 2012. Fico em Divinópolis com o coração em BH. O celular funciona o dia inteiro e à noite também”, desabafa. Ele explica que fez concurso na faculdade porque como intensivista tinha uma rotina muito pesada.


Os pais que vivem na estrada confirmam as informações do último censo apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, que apontou a intensificação do fenômeno. Como explica Tadeu de Oliveira, pesquisador do IBGE, as migrações continuam a ocorrer dentro das regiões metropolitanas, sendo o ímã as capitais, mas na última década foi nas cidades médias entre 20 mil e 500 mil habitantes, que ela se intensificou. Essas localidades passaram a puxar a mão de obra para fora das saturadas metrópoles. Para Tadeu Oliveira, o trabalho é a grande motivação desse movimento.


Que o diga o engenheiro José Roberto Nassif, de 42, que ao mesmo tempo administra com precisão dois grandes projetos. Em Belo Horizonte sua dedicação é para a família: o filho Lucas, de 4 anos, e a esposa, Ana Luiza. Em Nova Era, a 130 quilômetros de casa, é gerente de implantação do mineroduto Minas-Rio, projeto da companhia Anglo American. “É preciso energia para administrar a rotina”, diz o engenheiro, que faz o chamado pêndulo, desde que Lucas completou 11 meses. Segundo Nassif, as oportunidades em sua área de atuação são grandes no interior. Como a distância de Belo Horizonte, onde mora a família, é relativamente curta, sábado de manhã ele enfrenta a BR-381 e volta para passar o fim de semana em casa. “Trabalhar longe é um desafio grande, um exercício a mais que pode compensar pela infraestrutura e a logística que se tem”, diz ele, que já teve experiências mais distantes, em Goiás e São Paulo.

FENÔMENOS

O médico Marcos Antônio Magalhães sofre com as saudades do pequeno Marcos Bruck durante a semana(foto: Arquivo Pessoal)
O médico Marcos Antônio Magalhães sofre com as saudades do pequeno Marcos Bruck durante a semana (foto: Arquivo Pessoal)
Tadeu de Oliveira aponta que a primeira lógica das migrações é moradia. Daí o fato de muitos trabalharem nos grandes centros e morarem na região metropolitana, onde o custo é mais baixo. Em outra direção, a expansão da atividade produtiva para cidades de médio porte, seja pelos incentivos fiscais, que atraem o capital para o interior; seja pelos recursos naturais, como minério, óleo e gás; seja o ritmo das fronteiras agrícolas; seja pelo mercado de turismo e serviços. Juntos esses fenômenos estimulam a geração de emprego fora das metrópoles e intensificam as migrações.


Para a família de Thales Chácara, a alternativa também é se dividir entre duas oportunidades, no interior e na capital. Enquanto a mãe das crianças, Adriana, que é professora, aproveita o avanço da educação, em Teófilo Otoni, no Norte de Minas, onde tem dois empregos, Thales há um ano trabalha em Belo Horizonte, na Telbrax, como analista de novas tecnologias e tendências de mercado. O projeto da família é cansativo, mas tem dado certo. Os encontros são pelo Skype durante a semana. Nos feriados, sábados e domingos, eles estão sempre juntos. “As oportunidades de trabalho aqui (BH) foram boas para mim e lá (Norte de Minas) são interessantes para minha esposa”, conta ele, que hoje está comemorando o Dia dos Pais em casa com Daniel, Gabriela e Adriana.

Aviões fizeram parte da rotina de Gécio de Souza por dois anos. Agora, Giulia e Fátima vivem em Ouro Branco(foto: Arquivo Pessoal)
Aviões fizeram parte da rotina de Gécio de Souza por dois anos. Agora, Giulia e Fátima vivem em Ouro Branco (foto: Arquivo Pessoal)


Migração, agora, encurta distância

Para Cláudio Salvadori Dedecca, professor do Centro de Estudos Sindicais e da Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a migração em função do trabalho mudou de natureza no país. “Ela agora é de distância mais curta. É claro que ainda existem as de longa distância, mas hoje as viagens são muito mais de natureza intrarregional do que de uma região para a outra”, observa.


Guilherme Veloso Leão, gerente de Economia e Finanças da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), explica que, apesar da concentração dos investimentos do estado, regiões como o Norte de Minas, Sul, Triângulo, entre outras, receberam investimentos significativos nos últimos anos, o que justifica a abertura de novas oportunidades de trabalho dos que optaram por investir na profissão longe de casa.


Durante dois anos, o administrador de empresas Gécio de Souza viajou de avião e de ônibus entre Ouro Branco, na Região Central do estado, e Vitória (ES) para encontrar nos fins de semana a filha, Giulia (5 anos), e a mulher, Fátima. No interior de Minas, ele participa de um projeto de expansão no setor de aços planos. A experiência deu tão certo e o vai e vem valeu a pena. Na última semana, a família mudou-se para Minas. “Trocamos a praia e a cidade grande pela calma do interior.” Segundo ele, o risco das estradas e a saudade de casa foram os grandes fatores na tomada de decisão. (ZF e MC)

 


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