Vera Batista
A menos de quatro meses para o pagamento das remunerações extraordinárias de fim de ano, o brasileiro tem várias opções para antecipar o 13º salário. As relações com os bancos, nem sempre fáceis na hora de buscar crédito, tornam-se bem mais desimpedidas nessa modalidade. A propaganda da oferta do dinheiro é atrativa; o acesso é simples e a transação, rápida — pode ser feita em qualquer agência ou mesmo no caixa eletrônico da instituição financeira. A liberação na conta do cliente ocorre, quase sempre, de imediato. Diante de tanta facilidade, o consumidor acaba se encantando e se esquecendo de que tudo o que entra fácil no bolso tem, invariavelmente, alto custo.
Levantamento feito pelo Estado de Minas junto aos seis maiores bancos do país revela taxas cobradas nessas linhas especiais de financiamento variando de 1,99% a 3,09%, em média, ao mês. Dependendo do perfil de consumo e do relacionamento do cliente com a instituição financeira, os encargos podem até dobrar. O Bradesco cobra os juros maiores, a partir de 3,09% mensais, e antecipa até 80% do valor do 13º salário. Do empréstimo, 40% devem ser pagos até 30 de novembro e o restante, até 20 de dezembro — prazo máximo, fixado por lei, para que o empregador deposite o vencimento extra na conta do trabalhador que tem a carteira assinada.
O Santander oferece a menor taxa, a partir de 1,99% ao mês. Na instituição, o cliente pode antecipar até 100% do 13º salário, pagando o empréstimo de uma única vez, até 20 de dezembro. Outras instituições, como o HSBC (2,49% mensais), Banco do Brasil (2,59% ao mês) e Caixa (2,79% ao mês) impõem valores mínimos e máximos para a operação: de R$ 100 a R$ 20 mil. Além dos juros, o consumidor paga o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que é de 0,38% sobre o total, independentemente do prazo. O tributo pode ser financiado e incluído no valor da prestação.
De maneira geral, os bancos procuram combinar as datas de pagamento do empréstimo com as do recebimento do 13º pelos clientes. Por isso, é bom estar atento ao cronograma. Para os trabalhadores formalizados, a primeira parcela deve ser paga pelo empregador até 30 de novembro e a segunda, até 20 de dezembro. É importante destacar que, sobre a primeira parte, não incide o Imposto de Renda nem é feito o recolhimento para a Previdência Social. Esses descontos são feitos somente quando a última parcela é depositada pela empresa.
Aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) vão receber a primeira metade da remuneração extraordinário do dia 26 a 6 de setembro. No caso de servidores públicos, a regra é diferente. O adiantamento inicial é feito em julho, com base no salário de junho. O restante é pago em dezembro, com base nos vencimentos de novembro.
Vantagem é sair do sufoco
Os especialistas em educação financeira desaconselham tomar empréstimo para antecipar o 13º salário, se o objetivo for o consumo imediato. A alternativa pode ser proveitosa, sim, para o pagamento de dívidas, depois de feitas as contas dos encargos pagos. Não vale a pena lançar mão de recursos que, quando tiverem que ser pagos, no futuro, podem pesar no bolso e até impedir gastos necessários. O melhor é o consumidor esperar alguns meses pelo dinheiro, que é seu por direito.
A antecipação do 13º, com os juros atuais, só é recomendada para quem está com a corda no pescoço e precisa trocar uma dívida cara por outra mais barata. Nunca para quem quer comprar produtos supérfluos. "Taxa de até 1,99% ao mês ainda é razoável. Acima disso, é um absurdo. Quando se fazem as contas, percebe-se que os juros podem ficar muito parecidos com os cobrados no cartão de crédito ou no cheque especial. Ninguém consegue estabilidade permanente com dinheiro emprestado", alerta Luiz Felizardo Barroso, consultor e presidente da Cobrart Gestão de Ativos.
Jurandyr Sell Macedo consultor do Programa Uso Consciente do Dinheiro do Itaú Unibanco, compartilha dessa opinião. "Quando se fala em pegar ou não o adiantamento do 13º salário, é importante saber para quem vale a pena. Em alguns casos, a taxa do cartão de crédito e do cheque especial ultrapassa os 8,5%. Quem tem débitos nessas linhas e percebe que o desembolso diminuirá pode ter a antecipação como um bom instrumento para sair das dificuldades", ressalta.
Mesmo assim, é importante ficar atento para não cair em armadilhas. Quem está pagando juros altos deve abrir o olho e verificar se, na troca das dívidas, a taxa realmente cai. Algumas vezes, a instituição financeira reduz os juros, mas aumenta o prazo. (VB)