O fechamento da balança comercial brasileira com saldo negativo faz parte das projeções de parte do setor privado. Até a segunda semana de agosto, houve déficit acumulado de US$ 4,39 bilhões, contra superávit de US$ 11,4 bilhões no mesmo período de 2012, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O principal responsável pela diferença de cenário de um ano para o outro é o petróleo.
A parada programada para manutenção em algumas plataformas brasileiras, o aumento da demanda interna pelo combustível, a queda das importações de petróleo pelos Estados Unidos e o recuo dos preços no mercado internacional contribuem simultaneamente para que o Brasil esteja exportando menos e importando mais esse produto. %u201C[O cenário da balança comercial] é o mesmo de sempre, mas agravado por essa situação [do petróleo]. Se o déficit ocorrer de fato, deve-se exclusivamente ao petróleo. Sem essa questão, haveria superávit de US$ 7 bilhões a US$ 10 bilhões. O governo diz que vai voltar [aos patamares anteriores da produção de petróleo], mas a gente não sabe exatamente quando%u201D, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A entidade, que no início de 2013 previa superávit de US$ 14 bilhões para a balança comercial, reviu em julho a estimativa para um pequeno déficit de US$ 2 bilhões. José Augusto destaca que, mesmo com a normalização da produção nacional, a venda externa do combustível enfrentará situação adversa. Além da queda nos preços em função da crise global, os Estados Unidos cederam à China o posto de maior importador do petróleo brasileiro. O país norte-americano recentemente aumentou sua produção do combustível. Graças à descoberta das reservas de gás de xisto, em médio prazo também deve tornar-se autossuficiente e o maior produtor mundial de gás e petróleo. %u201CAqueles anos dourados da década passada não são uma realidade. As commodities estão claramente se ajustando. O mundo passa por uma transformação%u201D, avalia o presidente da AEB. Para o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi, um possível déficit em 2013 precisa ser um estímulo para tornar mais competitivas as exportações brasileiras. %u201CTem que se ganhar mercado, incluir mais exportadores, compor a pauta com produtos de valor agregado, buscar acordos comerciais. Temos um programa para sensibilizar empresas a voltarem a exportar%u201D, ressalta. Segundo ele, há necessidade de se buscar principalmente inovação e diferencial para os produtos brasileiros. De acordo com o diretor, sob a ótica estrutural, os problemas a serem vencidos são custo de produção, infraestrutura deficiente, burocracia em excesso e tributação elevadas. Abijaodi vê a recente ascensão do dólar como favorável à retomada do fôlego das vendas externas. %u201CDurante muito tempo o Brasil esteve com moeda muito forte, um desestímulo grande, principalmente para o exportador pequeno e médio. Parece que o dólar vai ficar em um patamar de R$ 2,20, segundo avaliação dos bancos. Já é um apelo para chamar de novo à exportação%u201D, diz. O diretor explica que, apesar das perspectivas desfavoráveis, a CNI não bateu o martelo sobre previsão de um resultado deficitário para a balança comercial brasileira. Para ele, pode haver surpresas, principalmente ligadas ao movimento de preços das commodities. Abijaodi citou como exemplo o minério de ferro, que terminou o ano passado cotado abaixo de US$ 90 a tonelada, mas ao longo deste ano, chegou a ultrapassar os US$ 140. %u201CAinda temos seis meses daqui para frente%u201D, ressalta.