Quem está fora do mercado, olhando o problema por dentro, tem a impressão de que as estatísticas não refletem a realidade e de que há lacunas que precisam ser preenchidas. Graduado em filosofia e mestre em ciências da religião, Thiago José Tuna Franco, de 29 anos, tem dificuldade de se recolocar. Depois de ingressar no mercado de trabalho em 2007, e lecionar em cursos técnicos, profissionalizantes e faculdades, em 2011, ganhou uma bolsa de estudos para o mestrado na PUC Minas. “Eu ganhava R$ 1.300 para estudar e, enquanto isso, não podia trabalhar (requisito da empresa que ofereceu a bolsa). Fiquei dois anos afastado do mercado e, desde março, quando terminei o mestrado, tento uma recolocação”, conta.
Para Thiago, buscar oportunidades está cada vez mais difícil. “As empresas preferem contratar mão de obra mais barata a ter profissionais mais qualificados”, acredita. O filósofo afirma que só vê mercado para ciências humanas na área acadêmica ou no mercado e que pode levar em consideração, sim, uma mudança de área de atuação. “Agora, vou tentar um doutorado e, se não conseguir entrar logo, vou mudar o foco e arriscar uma colocação em outra área”, diz, explicando que também tem MBA em Gestão, formação que nunca explorou profissionalmente.
A mestranda em estudos linguísticos e análise do discurso da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maira Guimarães terminou a licenciatura em letras e já ingressou no mestrado. Sem nunca ter atuado na área e com formação prevista para 2015, ela conta que estar afastada do mercado gera medo e insegurança. “Ter uma especialização é bom para o currículo, mas, como não posso conciliar o estudo com o trabalho por exigência da bolsa, fico cada vez mais distante do mercado. Não tenho experiência, e isso vai me atrapalhar quando eu concluir o mestrado”, acredita.
Conjuntura
O cenário econômico atual também emperra o aproveitamento dos profissionais “superqualificados”. Para Luiz Claudio Teixeira de Oliveira, diretor do Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Ibmec-DF), gargalos logísticos estão mais aparentes, o consumidor está endividado e a inadimplência, em alta. "As empresas pararam de fazer investimentos e o adiamento nas contratações é o próximo passo", analisa.
Nesse contexto, a prática, e não a teoria, ganha força. "Não adianta um doutor querer um cargo de um executivo. Os prediletos são os que vêm do MBA e não se distanciaram do dia a dia", diz. O pecado dos acadêmicos, ressalta Oliveira, é o longo tempo sem contato com o mundo real. Investem polpudas quantias na educação, mas não pensam em desenvolver características laborativas básicas. "A saída é a busca de uma terceira via, principalmente para quem já ultrapassou os 35 anos. Esses não serão mais os funcionários de carteira assinada", aconselha.