O real fechou registrando alta nesta terça-feira de 0,91%, a 2,394 por dólar, novamente acima da barreira dos 2,40, mas ainda em seu valor mínimo em mais de quatro anos, informou a consultoria CMA.
O real caiu 0,83% na segunda-feira, a 2,4160 unidades por dólar, abaixo da barreira de 2,40, pela primeira vez desde 3 de março de 2009.
Durante o dia o Banco Central voltou a intervir no mercado com ofertas de swap cambial, que equivale a uma venda futura de dólares.
Contudo, além desse mecanismo, que o BC utilizou em várias oportunidades nas últimas semanas, nesta terça-feira, também interveio no mercado de liquidez com um leilão de até 4 bilhões de dólares com compromisso de recompra futura.
Até agora, o real se desvalorizou 16,6%, após a cotação desta terça-feira.
Analistas consideram que, pelo menos a curto prazo, o real continuará perdendo força frente ao dólar, em um mercado agitado pela expectativa de um endurecimento da política fiscal nos Estados Unidos a partir de setembro, que reduziria a liquidez dos mercados.
"Existe esta situação com a provável alta das taxas nos Estados Unidos e, com isso, os países emergentes vão continuar sofrendo", disse à AFP, Luiz Gustavo Pereira, estrategista de Corretora Futura em São Paulo.
"Isso também influenciará na decisão do Banco Central do Brasil (sobre as taxas), que agora teria que se preocupar com um movimento nas taxas de juros nos Estados Unidos", comentou Pereira.
O Banco Central brasileiro, preocupado com a inflação, elevou em julho a taxa de juros anual a 8,5%, frente a uma mínima histórica de 7,25% vigente até abril.
Agora, contudo, terá que somar a sua análise o rumo da política monetária nos Estados Unidos, que influenciaria, sobretudo, no fluxo de capitais para os mercados emergentes como o Brasil, acrescentou o analista.
A inflação no Brasil foi de 6,27% em 12 meses até julho, abaixo, mas muito próximo do teto da meta oficial de 6,5%.
"As moedas de outros países emergentes também estão se desvalorizando", declarou à AFP Wellington Ramos, analista da agência classificadora de risco Austin Rating, em São Paulo.
"Devido à aversão ao risco, os investidores retiram seus ativos para colocá-los em títulos mais rentáveis, com rendimentos mais seguros", acrescentou Ramos.
Por isso, insiste Pereira, o Banco Central brasileiro poderia continuar com as altas da taxa de juros para atrair capitais.
O real esteve muito forte nos últimos anos, sendo cotado inclusive a R$ 1,50 por dólar, um nível que não foi bem recebido nem pelo governo nem pelos exportadores, que queriam uma mudança mais competitiva para a indústria brasileira.
Agora, um real mais frágil poderia pressionar a inflação, com um encarecimento das importações.
Setores produtivos, por outro lado, reivindicam a alta das taxas, que segundo eles poderia desincentivar os investimentos em um cenário de lento crescimento da economia brasileira (0,6% no primeiro trimestre em relação ao anterior).
O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, disse na segunda-feira que o governo pode atuar para impedir que a alta do dólar tenha um impacto na inflação. Há alguns dias, disse que não acreditava que o real caísse até 2,7 por dólar, como previam alguns analistas, embora tenha reconhecido a volatilidade dos mercados.
"Não sabemos onde o câmbio vai parar. Alguma influência deve ter (na inflação), mais ainda não teve", disse Mantega.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, observa "com atenção" o desempenho do mercado doméstico de câmbio e não deixará de oferecer proteção e liquidez ao mercado, sustentou na segunda-feira a instituição em nota.
Em 2012, o real fechou com queda de 8,55% e, em 2011, com queda de 11,18%, segundo dados da Bolsa de Valores de São Paulo.