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Estado de Minas

Banco Central anuncia superpacote para tentar conter alta do dólar

BC vai despejar mais de US$ 100 bi no mercado até dezembro para conter alta da moeda dos EUA, que ontem recuou para R$ 2,432


postado em 23/08/2013 06:00 / atualizado em 23/08/2013 07:12

Diante dos riscos cada vez maiores de a inflação sair do controle, por causa da disparada do dólar, e para que não ser obrigado a aumentar, além do desejado, a taxa básica de juros (Selic), o Banco Central anunciou ontem a maior intervenção da história do país no mercado de câmbio. A autoridade monetária venderá mais US$ 60 bilhões, de hoje até 31 de dezembro, para corrigir o que considera excessos nas cotações da moeda norte-americana, que já bateram em R$ 2,45, o maior nível desde 2008. Levando-se em conta que, desde o início de 2013, já foram despejados no sistema US$ 45 bilhões, a megaoperação poderá alcançar US$ 105 bilhões, o correspondente a 28% das reservas internacionais brasileiras, de US$ 373,5 bilhões.


Segundo o BC, de segunda a quinta-feira, serão feitos leilões diários no valor de US$ 500 milhões cada de swap cambial, uma espécie de venda futura de dólares. Às sextas-feiras, a intervenção se dará por meio de leilões de linhas em dólar, com compromisso de recompra, de US$ 1 bilhão. Ao anunciar a intervenção, a autoridade monetária ressaltou que o objetivo é “prover hedge (proteção) cambial aos agentes econômicos e dar liquidez ao mercado”. A última vez que o BC havia jogado tão pesado com o mercado foi em 2008, logo depois do estouro da bolha imobiliária norte-americana. À época, as intervenções somaram US$ 50 bilhões. Antes disso, somente em 2002, quando os investidores empurraram o dólar a R$ 4, temendo a vitória do então candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva. Naquele período, as intervenções, de US$ 50 milhões, foram chamadas de “rações diárias”.

O BC destacou, porém, que não se furtará em fazer operações adicionais, “se julgar necessário”, caso o mercado insista em provocar distorções nos preços da divisa dos Estados Unidos, que ontem foi cotada a R$ 2,432 para venda, com queda de 0,78%. A presidente Dilma Rousseff, que, nos últimos dias, reuniu-se com um grupo de ministros em busca de medidas para “suavizar” a alta do dólar, considera aceitável um valor máximo de R$ 2,30, para ajudar a competitividade da indústria nacional.

Caminho cristalino

A medida, definida dentro do governo como um “caminho cristalino” dado aos investidores pelo BC, foi bem recebida pelos especialistas. “Trata-se de uma forte mudança na estratégia do governo e, na nossa opinião, a forma correta para conter a alta do dólar ante o real”, disse Aloísio Teles, diretor da Nomura Securities. “As intervenções vão aumentar a previsibilidade do mercado, o que pode ser o caminho mais eficiente para tirar os excessos de volatilidade do sistema”, emendou.

Na avaliação do diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Macroeconômicos do Bradesco, Octavio de Barros, o BC está no caminho certo. “A medida é uma maneira de tentar ajustar a taxa de câmbio aos efetivos fundamentos da economia doméstica e global. Isso é vital para descartar uma aceleração dos juros”, afirmou. Para o economista, a perspectiva é de que o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na semana que vem, promova mais duas rodadas de alta de 0,50 ponto percentual cada na taxa básica de juros (Selic) até o fim do ano. A se confirmar esse quadro, o indicador passará dos atuais 8,50% para 9,50% ao ano.

No entender do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o BC afastou o risco de pânico no mercado, que estava gerando problemas para a inflação. "Ao mesmo tempo em que contém pressões inflacionárias, o BC evita que a especulação prejudique empresas altamente endividadas em moeda estrangeira", frisou. "O cambio no atual patamar atrapalha muita gente. A dívida externa privada saiu de US$ 100 bilhões, em 2008, para US$ 180 bilhões, agora. Tem muita gente exposta", acrescentou. O dólar mais contido também ajuda o governo a administrar melhor o reajuste dos combustíveis que virá nos próximos meses para ajudar a Petrobras.

Preços da gasolina nos postos de BH estão menores do que no último reajuste, o que vai reduzir impacto do novo aumento no bolso(foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
Preços da gasolina nos postos de BH estão menores do que no último reajuste, o que vai reduzir impacto do novo aumento no bolso (foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
Não dá mais para segurar

A chance de a gasolina e o diesel sofrerem aumento nos próximos dias ficou ainda mais provável e já deixa consumidores apreensivos. A política de combate à inflação via controle dos preços e a incapacidade da Petrobras em atender a demanda nacional de combustíveis apertaram o caixa da estatal de forma insustentável. O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estima prejuízo mensal de R$ 700 milhões para a companhia em razão da defasagem dos preços dos combustíveis. “A empresa precisa de fôlego”, resumiu José Maria Rangel, representante dos empregados no conselho de administração.

O estresse, que já dura cinco anos, atingiu o auge nos últimos dias com o dólar alcançando patamar acima de R$ 2,40. A esse nível, a diferença entre os preços do combustível importado e o cobrado dos consumidores chega a 30%, segundo cálculos do mercado. Esse descompasso, no entanto, só poderia ser eliminado de forma escalonada, mas, de olho na inflação, o governo considera um reajuste de, no máximo 10%, ou menos que isso.

Os rumores sobre o aumento ganharam força na quarta-feira, após a notícia de que a presidente Dilma Rousseff havia definido os reajustes naquele dia, em reunião, no Palácio da Alvorada, com a presidente da Petrobras, Graça Foster, que seguiu para uma viagem à China. A situação é agravada porque a estatal terá, em breve, de desembolsar bilhões de dólares em razão de ser a única operadora em todos os leilões do pré-sal, participando com pelo menos 30% dos investimentos.

Com os preços nos postos abaixo dos valores praticados antes do último reajuste da gasolina, Belo Horizonte deve sentir menos o impacto do aumento que será anunciado para os preços nas refinarias. O porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, descartou que o reajuste dos combustíveis tenha estado na pauta do encontro. Mesmo assim, as ações da estatal dispararam no pregão de ontem, com ganho de 5,71% nos papeís preferenciais (PN). refletindo a esperança e o alívio dos investidores.


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