A chanceler alemã Angela Merkel disse, um mês antes das eleições, que a Grécia não deveria ter sido autorizada a entrar na zona do euro, acusando seus rivais políticos de ter deixado isso acontecer. Ela colocou a culpa da dívida do euro e da recessão em seus opositores de centro-esquerda, dizendo que, enquanto o governo do Partido Social-Democrata (SPD) contribuiu para criar as causas da crise.
"A crise emergiu depois de muitos anos, através de erros fundacionais do euro - por exemplo, a Grécia não deveria ter sido admitida na zona do euro", disse Merkel, recebendo aplausos dispersos durante a campanha na terça-feira em Rendsburg, ao norte, mostrou o canal de televisão NTV.
A líder conservadora reiterou que seu predecessor, o chanceler do SPD, Gerhard Schroeder, consentiu com a entrada da Grécia em 2011 e com um enfraquecimento do pacto de estabilidade do bloco monetário, decisões que ela considerou como "fundamentalmente erradas".
No último sábado, em suas viagens de campanha, ela também atacou os sociais-democratas, dizendo: "não precisamos ouvir de pessoas que admitiram a Grécia na zona do euro que hoje temos problemas com a Grécia". A crise da zona do euro e a conta que os contribuintes alemães podem ter que pagar por isso se tornaram questões polêmicas na campanha para as eleições de 22 de setembro, para as quais Merkel permanece como favorita.
Merkel ainda é a política mais popular na Alemanha, com uma aprovação pessoal muito maior que a de seu rival, Peer Steinbrueck, em parte porque ela é amplamente vista como a pessoa que comandou a maior economia da zona do euro, com segurança, em meio à crise da zona do euro.
Enquanto Grécia, Espanha e outros países do sul continuam atolados na recessão com enorme desemprego, a economia alemã, alimentada pelas exportações, deve crescer 0,3% este ano, segundo projeção do FMI, e possui uma taxa de desemprego de apenas 6,8%.
O ministro das Finanças, Wolfgang Schaeuble, reacendeu o debate na semana passada, quando admitiu que a Grécia precisará de um terceiro resgate internacional no próximo ano, depois de sugerir que esta era só uma possibilidade. O SPD imediatamente aproveitou o comentário franco do ministro para acusar o governo de Merkel de ter tentado enganar os eleitores, até as eleições, sobre os verdadeiros custos que o governo alemão pode ter que enfrentar com outro resgate.
O chanceler Steinbrueck, ministro das Finanças do primeiro mandato de Merkel em uma grande coalizão de governo de esquerda e direita, alertou que gostaria de saber mais detalhes sobre sua posição no debate televisionado no domingo.
Ele acusou a coalizão de governo dos conservadores, de Merkel e seus parceiros, os Democratas Livres, de tentar "distribuir pílulas para dormir e tentar esconder o fato de que estabilizar a zona do euro terá um custo". Steinbrueck defendeu mais ajuda e mais solidariedade para o sul da Europa - lembrando como a Alemanha pós-guerra foi ajudada por seus vizinhos - e propôs uma versão moderna do "Plano Marshall", financiado em parte por uma taxa de transação financeira.
O ex-chanceler Schroeder, que perdeu as eleições para Merkel em 2005, acusou o regime dela de mentir sobre os problemas da Grécia, afirmando em um evento de campanha na semana passada que está apoiando Steinbrueck. A Grécia, desde o começo da crise da dívida em 2010, já recebeu dois resgates da zona do euro e do Fundo Monetário Internacional, avaliados em um total de 240 bilhões de euros que permitiram ao país endividado permanecer na zona do euro.
Pagando o preço de seis anos de recessão e uma severa austeridade, agora a Grécia enfrenta uma dívida de financiamento de 10 bilhões de euros para 2014 e 2015. Merkel insistiu que a Alemanha só pode ser bem sucedida com uma Europa forte e competitiva globalmente e manteve uma abordagem de "solidariedade com responsabilidade", oferecendo alívio financeiro em troca de cortes financeiros dolorosos.