Brasília – O varejo já repassou para os consumidores tudo o que podia de reajuste de preços. Agora, está absorvendo, ao reduzir margens de lucro, o peso da carestia. Os dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que enquanto o produtor ou o atacadista elevou os preços, no ano passado, em 6,5%, o comércio acomodou três pontos percentuais desse total como custo da operação e passou para os consumidores os 3,5 pontos percentuais de diferença. “Em 2013, essa a absorção da inflação tem sido menor em virtude do menor crescimento das vendas. Nos últimos 12 meses encerrados em junho de 2013, os preços ao produtor subiram 7,7% e no varejo 6,1%”, explica o economista Fabio Bentes, da CNC.
Luiz Henrique Oliveira, de 37, é servidor público e também sente o fardo dos preços altos na hora de fazer as compras mensais. “Não tem muita escapatória. O jeito é procurar pelas promoções”, conta. A solução, para ele, foi reduzir as idas ao mercado para duas vezes na semana ante as três que fazia até três meses atrás. “Cheguei a gastar R$ 200 em uma semana comprando pouca coisa”, lembra. Para Oliveira, os vilões do orçamento têm sido o macarrão, o leite e o feijão. “É um absurdo o quilo do feijão custar R$ 5,99. Não há salário que aguente”, diz. Ele acrescentou ainda que se for comprar mesmo tudo que precisa a fatura dispara. “Aí a conta vai para R$ 1 mil por mês”, afirma.
Poder de compra Bentes, da CNC, atribui ao enfraquecimento do mercado de trabalho a redução no consumo, que diminui as margens dos comerciantes e favorece os repasses de preços. A empregada doméstica Aldenora Amorim Santos, de 36, sabe bem o que é isso. Sem carteira assinada há um ano, ela tenta se virar da forma que pode para deixar as contas da casa em dia.
“Às vezes faço algumas faxinas e recebo R$ 80 ou R$ 100 por dia”, disse. Com o poder de compra mais reduzido, ela só leva para casa o que está em promoção. “Não tem jeito, está tudo mais caro. Se encontro um calçado por mais de R$ 70, tento sempre um desconto”, comentou.
Outro fator a reduzir o consumo é que, cada vez mais, as pessoas relutam em tomar crédito. Compras parceladas, para a advogada Tatiane Ferreira Martins, de 28, não são uma opção. Ela trocou recentemente a máquina de lavar e a televisão pagando à vista. “Eu e meu marido usamos a restituição do Imposto de Renda e o 13º salário para isso. Sei que o momento não é favorável para comprar a longo prazo”, disse.