Brasília – A produção industrial desabou em julho e reforçou as projeções negativas para o comportamento da economia no terceiro trimestre, quando analistas acreditam que a atividade brasileira deve retroceder até 0,5%. A forte queda em todas as categorias de uso – bens de capital, intermediários e de consumo – resultaram num recuo total de 2% naquele mês, anulando o crescimento de 2,1% registrado no mês anterior. Entre fortes oscilações, o setor insiste em se manter empacado, com uma irrisória alta de 0,6% nos últimos 12 meses.
Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) minaram de vez as poucas análises que sustentavam uma expectativa de retomada da indústria no início deste segundo semestre. O recuo expressivo e disseminado – atingiu 15 dos 27 ramos pesquisados – foi o terceiro do ano. Antes, a produção já havia apresentado retração significativa em maio (-2%) e em fevereiro (-2,4%). Desta vez, além de “devolver” o ganho do período anterior, a perda de fôlego confirma a tendência de ritmo mais fraco ao longo do ano.
Restrições no acesso ao crédito e o comprometimento da renda dos brasileiros continuaram puxando o consumo das famílias para baixo, na análise do IBGE, o que atingiu em cheio o parque fabril. Com peso de 10% na produção industrial, o segmento de veículos automotores recuou 5,4% em julho. As indústrias farmacêuticas, embora representem apenas cerca de 4% do total, tiveram a maior redução – 10,7% – e também contribuíram bastante para o resultado negativo do mês.
Para adaptarem a produção a uma demanda bem menor que a esperada, as fábricas têm feito paradas estratégicas em todo o país, além dos ajustes no quadro de funcionários. Incertezas diante do mercado internacional deixam os industriais ainda menos otimistas. “Não consigo ver melhora. Estamos sem poder de investimento”, diz José Alves, há 24 anos no ramo moveleiro. Na última década, o total de operários comandados por ele reduziu de 400 para 150.
As queixas de Alves se assemelham a de tantos outros representantes do setor, e se intensificaram nos últimos anos. Ele reclama dos “impostos que estrangulam o setor” e da dificuldade de financiamento. Em Brasília, onde atua, a dificuldade para crescer é ainda maior. “Não temos competitividade alguma”, lamenta ele, que já comprou um terreno no Entorno goiano da capital do país, com a intenção de ter acesso a novos incentivos fiscais e, assim, reduzir despesas.
A situação do “núcleo” do setor industrial também chamou a atenção do sócio-diretor da Nobel Planejamento, Luiz Gonzaga Belluzzo. Para ele, as repetidas taxas negativas revelam a fragilidade que ainda prevalece na indústria brasileira. Outro ponto observado pelo economista é o declínio da produção de bens de capital (-3,3%), refletindo um processo de diminuição dos investimentos, ao contrário do cenário do primeiro semestre.
GANHOS ANULADOS
O banco inglês Barclays, ao analisar os dados da indústria, reafirma que a atividade brasileira está perdendo força no terceiro trimestre. O Itaú Unibanco destaca que as primeiras estatísticas de agosto também sugerem “fraqueza”, o que leva a instituição a projetar queda da produção industrial no período. A economista do ABC Brasil Mariana Hauer descarta a possibilidade de o resultado de agosto ter sido melhor que o de julho.
A produção de julho em relação ao fim de 2012, apesar de todas as dificuldades persistentes enfrentadas pelo setor, mostra uma melhora de 1,1%. Mas o gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, André Macedo, lembra que os ganhos têm sido anulados e que há claros sinais de arrefecimento na produção. “Precisaremos acompanhar os próximos dois meses, mas o setor industrial opera no terceiro trimestre em ritmo bem mais baixo que os anteriores”, compara.