Belo Horizonte e Brasília – A empresa terceirizada Adminas, que deu o calote em seis órgãos do governo federal, desapareceu, permaneceu incomunicável por mais de um mês e só ressurgiu esta semana, após ter seus bens bloqueados pela Justiça, admitiu que não tem mais condições de operar por causa do alto endividamento e fechou as portas. No entanto, a proprietária da Adminas, Marilene Correia, já abriu uma nova empresa terceirizada, com endereço quase no mesmo local e com nome muito parecido, a RHMinas.
O calote da Adminas nos ministérios da Integração, Justiça, Desenvolvimento Agrário, Banco do Brasil, Agência Espacial Brasileira (AEB) e Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) deixou mais de 1 mil funcionários sem salários, que saíram às ruas para protestar.
O representante da Adminas, o advogado Maurílio Ramos de Sá, que apareceu somente na última audiência promovida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) 10ª Região, depois que a empresa teve seus bens bloqueados, revelou que a companhia realmente não tem mais condições de operar, mas disse desconhecer que a dona, Marilene Correia, tenha criado uma nova empresa para continuar as atividades ou que já tenha sido sócia de outras companhias prestadoras de serviços terceirizados.
Entretanto, documentos comprovam que Marilene recentemente abriu a RHMinas que, pelo número pequeno de funcionários, apenas 28, está iniciando as suas operações. Em Minas Gerais, documentos da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg) revelam que Marilene já esteve vinculada a pelo menos cinco empresas do ramo: Adminas, RHMinas, Mega Serviços, Conscientizar Saúde Ocupacional e Conscientizar Treinamento Empresarial. Três delas especializadas em terceirização de mão de obra, uma de treinamento técnico sobre segurança e saúde ocupacional e outra especializada em realizar exames médicos e implantação de normas de segurança e saúde do trabalho, além de normas ambientais. Todas elas estão em situação ativa no sistema da Jucemg.
Nas certidões emitidas pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Marilene Correia aparece como sócia administradora apenas da Adminas e da RHMinas, junto com sua filha, Maria Aparecida Correia. Na primeira, com início de atividade em 9 de agosto de 2005, o capital social é registrado em R$ 3,949 milhões, sendo 99% de Marilene e apenas 1% de Maria Aparecida. Já a RHMinas começou as atividades em 20 de dezembro de 2012. Marilene tem 95% de participação com capital de R$ 38 mil e Maria Aparecida tem 5%, com R$ 2 mil.
A recém criada RHMinas está registrada com sede na Rua Padre Marinhho, 7, em local diferente da Adminas, que fica na Avenida do Contorno, 3.526. Porém os dois endereços são em um mesmo prédio de esquina que tem duas entradas diferentes. A reportagem esteve no local e as duas portarias estavam fechadas.
Ao lado da portaria da Adminas, um funcionário de uma outra loja disse que todos os dias alguém vai ao local procurando pela empresa, inclusive oficiais de Justiça. Ele afirmou ainda que antigos funcionários da empresa disseram que os donos da Adminas pretendiam abrir um outro empreendimento com nome diferente. Na outra portaria, da RHMinas, há várias correspondências no chão, com nomes diferentes de pessoas e empresas. Uma pessoa que trabalha ao lado afirmou que no local funcionava uma empresa de terceirização de serviços que foi fechada em junho.
As empresas Conscientizar Saúde Ocupacional e Conscientizar Treinamento Empresarial tiveram alterações de sócio/administrador registradas em um último arquivamento em 19 de outubro de 2011 e 12 de junho de 2012. A gerente da Conscientizar Saúde Ocupacional, Vanessa Souza, afirmou que Marilene Correia não integra mais o quadro da empresa. Ela disse que trabalha no local há quatro meses e nunca ouviu falar dessa sócia. Os donos da empresa não foram encontrados para comentar o caso.
A Mega Serviços iniciou as atividades em outubro de 1994 e já registrou nove alterações contratuais, a última delas em julho. Com capital de R$ 100 mil, o único sócio-administrador citado na certidão atual também não foi encontrado para comentar o caso. (Com Simone Kafruni)