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Estado de Minas

Valorização do dólar faz preço de alimentos e eletrodomésticos subir; gasolina deve pesar

Taxa de inflação no país salta de 0,03% em julho para 0,24% em agosto


postado em 07/09/2013 06:00 / atualizado em 07/09/2013 06:56

Brasília – O temor do Banco Central (BC) de que a escalada do dólar sobre o real pudesse bater pesado na inflação tinha justificativa. Após ter variado apenas 0,03% em julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o parâmetro oficial para medir o custo de vida no país, encerrou agosto com elevação de 0,24%. No ano, o indicador acumula alta de 3,43%, e, em 12 meses, chega a 6,09% – o oitavo mês consecutivo em que a carestia fica acima de 6%, superando de longe o centro da meta que, em tese, deveria ser perseguida pelo governo, de 4,5% ao ano. Para setembro, além do câmbio, há um risco de que a inflação seja fortemente impactada por um novo vilão: o reajuste dos combustíveis.

"Nós temos a expectativa de que, ainda neste mês, o governo conceda um novo reajuste à Petrobras, elevando os preços da gasolina e do diesel. Por conta disso, projetamos que o IPCA de setembro deverá subir 0,57%, mais que o dobro da elevação registrada em agosto, de 0,24%", comentou o economista Fábio Romão, da consultoria LCA. Na visão dele, mesmo que não haja qualquer correção nos preços dos combustíveis, a inflação já subiria 0,44%.


A maior pressão sobre os preços vem principalmente do dólar, que, mesmo após as pesadas intervenções do BC sobre o câmbio, continua a mostrar força. Há três semanas, a autoridade monetária divulgou um plano de venda de moeda nos mercados futuros, por meio de operações de swap, além de vendas com compromisso de recompra, os leilões chamados leilões de linha. Combinadas, as medidas deverão injetar cerca de R$ 100 bilhões no mercado brasileiro apenas em 2013, contando todas as operações anunciadas no ano.

Como o plano só foi divulgado em 22 de agosto, não houve tempo suficiente para reverter a pressão que o câmbio já exercia sobre os preços no país até aquela data. A gerente de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Irene Maria Machado, disse que "vários setores" foram afetados pela alta do dólar, mas citou que a maior pressão foi sentida no grupo alimentação.

Impacto

O professor de economia da FGV/IBS, Mauro Rochlin, lembra que os efeitos são sentidos principalmente sobre os produtos importados, que com o dólar mais caro, acabam onerando o importador, que repassa os custos para o consumidor. O impacto, segundo Rochlin, pode ser sentido, principalmente, no preço de produtos alimentícios. Entre eles, a farinha de trigo (que saiu de 1,33% em julho para 2,68% em agosto), com impacto no preço de pães, bolos, macarrão e outros derivados.

Outro vilão foi o feijão preto, que subiu 3,74% no mês e 27,86%, no acumulado dos últimos 12 meses. Irene explica o porquê: "Apesar de a safra do carioquinha estar boa, a gente importa feijão preto da Argentina e também da China", disse. E não é só o feijão chinês que pesou no bolso do brasileiro. "Até peixe congelado a gente importa da China", alertou.

Outros itens também trazidos de fora, como os eletrodomésticos (geladeiras, fogões e máquinas de lavar), ficaram mais caros em agosto. Ao todo, os artigos de residência subiram 0,89%, três vezes mais do que a alta registrada em julho, de 0,28%. Romão aponta que a maior contribuição para essa alta foi a elevação nos preços de eletrodomésticos, que, após subirem apenas 0,13% em julho dispararam outros 1,43% no mês passado. "Também aqui a gente observa o efeito do dólar", assinalou.

Moderação

Mas o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros, afirma que o repasse da alta do dólar para a inflação está acontecendo de maneira mais lenta e difusa do que o observado em outros momentos da economia. Na manhã de ontem, a FGV divulgou o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que acelerou de 0,14% em julho para 0,46% em agosto. "Está havendo, sim, repasse cambial, mas está sendo moderado, está acontecendo aos poucos", disse. Um dos motivos para a demora no repasse é o fato de as indústrias estarem com estoques em alta. "O repasse vai ser diluído no tempo e talvez também na intensidade" afirmou.


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