Brasília – A desvalorização do dólar em relação ao real nesta semana está sendo observada pelo governo como uma janela de oportunidade para aumentar o valor da gasolina nas refinarias. O reajuste poderá vir nas próximas semanas, e não em meados de outubro, como se esperava antes.
Para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, em vez de ficar mais barato, o dólar teria se valorizado, acomodando-se em até R$ 2,70, caso se tivesse cumprido a profecia de parte do mercado, para quem o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciaria na quarta-feira passada a suspensão da política de injeção de recursos na economia do país.
O dólar além de R$ 2,50 colocaria em risco o cumprimento do teto do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 6,5%, pela influência generalizada da moeda norte-americana nos preços de produtos importados, ou dos que são produzidos aqui e vendidos para fora. Nesse cenário, o aumento da gasolina seria pouco provável.
O reajuste neste momento teria um benefício extra: evitar um aumento no início de 2014, quando haverá outros fatores de pressão nos preços. “É melhor ter um pouco mais de inflação neste ano e menos no próximo”, explicou Solange Srour. Para o economista e diretor de gestão da Vetorial Asset, Pedro Paulo Silveira, a desaceleração da carestia e o aperto de caixa da Petrobras aumentam as possibilidades de reajuste neste momento.
Segundo o economista David Zylbersztajn, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), seria necessário elevar 30% no preço do combustível para recuperar a defasagem de preços que prejudica a Petrobras. Zylbersztajn acredita, porém, que o reajuste ficará bem abaixo disso, em torno de 10%. “Isso não vai resolver os problemas de caixa da empresa, apenas vai reduzir as perdas”, afirmou.
Câmbio e inflação
Embora tenha acelerado ontem, a tendência do dólar é perder valor em relação ao real. Em setembro, até quarta-feira, a divisa já havia perdido 5,21% do seu valor perante o real. Nesse período, a moeda brasileira foi a que mais se valorizou frente à divisa dos Estados Unidos em todo o mundo, segundo levantamento divulgado ontem pela consultoria de informações financeiras CMA. No ano, porém, a queda acumulada ainda é forte: de 10,05%. Perdendo força, o dólar exerce menos pressão sobre os preços internos e alivia a inflação, que voltou a acelerar com a alta da moeda dos EUA.
Pelo segundo mês consecutivo, a prévia da inflação oficial acelerou. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) em setembro chegou a 0,27%, contra 0,16% em agosto e 0,07% em julho. O resultado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou pouco abaixo do esperado pelo mercado, mas o suficiente para manter a preocupação dos analistas com a trajetória do indicador. Mesmo sem reajuste de combustíveis, o grupo dos transportes puxou o avanço da carestia, saindo de uma deflação de 0,30% em agosto para um aumento de 0,30% este mês. O principal vilão foram as passagens aéreas, que encareceram 16,08%.
Mas se considerado o acumulado em 12 meses, o IPCA-15 recuou de 6,15% para 5,93% e, pela primeira vez em 2013, ficou abaixo de 6%. Embora esta possa ser considerada uma boa notícia, economistas lembram que os aumentos nos grupos seguem difusos e em patamares acima do índice geral. “O captador de inflação foi generalizado”, destaca Marco Oviedo, economista do Barclays. Os preços dos serviços resistem em desacelerar e o repasse do dólar — que agora se mostra acomodado em torno de R$ 2,20 — apenas começou a ser percebido em setembro, na avaliação do mercado. O acumulado de 12 meses do índice geral abaixo dos 6% reflete uma desaceleração da inflação dos alimentos.