Brasília - Em sua primeira manifestação pública sobre o avanço do grupo espanhol Telefónica, dono da Vivo, rumo ao controle societário da italiana Telecom Italia, dona da TIM no Brasil, a presidente Dilma Rousseff desautorizou ontem, em Nova York, as declarações sobre o tema feitas na véspera pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Ele tinha se posicionado contra o controle compartilhado das duas maiores operadoras de telefonia móvel do país pela mesma companhia, pois resultaria em recuo na competição de mercado, algo “muito negativo” para o consumidor.
A presidente classificou a fala de Bernardo como uma mera “opinião”, sem refletir a posição oficial do governo, ressaltando que quem deve determinar a chance ou não de a Telefónica controlar duas operadoras é o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão responsável pela garantia da livre concorrência.
A reação da presidente ocorreu em seguida ao encontro que teve, na terça-feira, com o presidente mundial da Telefónica, Cesar Alierta. Essa conversa, segundo ela, tratou “dos vários investimentos que a empresa faz no Brasil”. Estrela de um seminário dedicado à apresentação dos programas de concessões de infraestrutura a empresários e investidores estrangeiros, a presidente procurou também mostrar postura amigável ao capital privado.
Ainda na terça-feira, Bernardo afirmou a jornalistas que a empresa líder da telefonia móvel (Vivo) não pode controlar a vice-líder e até sugeriu a venda da TIM para uma empresa que ainda não tivesse presença nesse mercado. “Seria mais de 50% do mercado nas mãos de um grupo, com uma concorrente a menos no mercado”, sublinhou o ministro anteontem. Segundo dados de julho da Anatel, a Vivo detém 28,6% do mercado e a TIM, 27,2%. A Claro tem 24,9% e a Oi, 18,6%. O restante, com menos de 1%, é dividido entre pequenas operadoras regionais.
Em reforço à posição firmada pelo ministro, o conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Marcelo Bechara condenou ontem uma possível fusão das duas maiores empresas de telecomunicações no Brasil, por considerá-la uma “concentração muito forte e não bem-vinda”.