Mãe de três crianças, Karine da Cunha Silva, de 30 anos, passou a tarde de ontem pesquisando preços de brinquedos: “Ainda não decidi o que comprar, mas vou gastar menos do que no ano passado, pois estou tendo uma alta despesa com material de construção”. Ela não é a única consumidora de Belo Horizonte a rever as despesas da família com os presentes do Dia das Crianças. Pesquisa divulgada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) concluiu que o tíquete médio em razão da data será menor que o de 2012. No ano passado, a maioria (59,57%) dos pais gastou até R$ 100 com o presente. Desta vez, a maioria (61,5%) desembolsará no máximo R$ 75 (veja quadro).
O resultado é um Dia das Crianças morno para o varejo de todo o país. Outro estudo, divulgado ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), concluiu que o volume de vendas em razão da data deve crescer 4,9% este ano. Se confirmado, será o menor crescimento desde 2004 (quando houve avanço de 3,1% sobre 2003). Em Belo Horizonte, o percentual de crescimento previsto também não é grande: de 2,5% a 3%, sendo que o faturamento deve oscilar de R$ 2,21 bilhões a R$ 2,24 bilhões.
O economista Fábio Bents, da CNC, avaliou que a desaceleração do faturamento real do varejo no Dia das Crianças está inserido num amplo contexto, que leva em conta justificativas como a inflação e a alta dos juros. cumula alta de 6,5%, bem acima da taxa de 2012 (3,5%). Também contribuem a desvalorização do real e o encarecimento do crédito. A atual taxa média de juros ao consumidor (36,2%), a mais alta desde maio de 2012, desestimula a contratação de novos empréstimos. A concessão real de recursos às pessoas físicas em 2013 cresce abaixo da média de 2012 (6,3% contra 9,9%)”, esclareceu o especialista.
Para o consumidor, segundo a CDL-BH, os preços dos presentes estão mais caros neste ano em razão da inflação (26,96% dos entrevistados), da alta do dólar (15,99% das respostas), dos reflexos no Brasil da crise econômica mundial (10,66%) e da relação demanda e oferta (5,96%). Vale lembrar que uma das consequências da desaceleração da concessão de crédito, como observou o economista da CNC, pode ser o aumento da inadimplência. Para fugir dos juros do crédito, o levantamento da CDL mostra que a parcela de consumidores que disse que vai pagar as compras com dinheiro (32,49%) é maior que a que recorrerá ao cartão de crédito (27,76%).
“Nessa loja, cerca de 80% das vendas são à vista”, calcula Vaneide Lucas Lima, gerente da loja De R$ 1 a R$ 99, no centro da capital. A comerciante é mãe de duas crianças, de 2 e 3 anos, e, assim como a revelou a pesquisa da CDL-BH, também planeja gastar, em média, menos de R$ 75 com os presentes que irá entregar em 12 de outubro. “Mas também vou comprar para minhas sobrinhas, que são gêmeas”, acrescentou a gerente da loja, que funciona na esquina da Avenida Afonso Pena com Rua Tupinambás.
Quem esteve lá foi a encarregada de departamento pessoal Jaqueline de Souza, de 48 anos: “Vim comprar um presente para minha sobrinha. A considero como minha filha”. Jaqueline levou uma boneca. No estudo da CDL, porém, a maioria dos consumidores (20,47%) disse que pretende comprar jogos diversos. Em seguida, aparecem carrinhos (15,35%), roupas (14,71%), calçados (9,17%), jogos educativos (9%), eletro/eletronônicos (7,25%), bicicletas (3,41%), livros (2,35%), instrumento musical (0,85%) e outros (2,99%). As bonecas receberam 14,29% das respostas.
Embora o faturamento médio do comércio nacional deva subir 4,9%, segundo a CNC, o volume de brinquedos comercializado em todo o país em razão do Dia das Crianças deve ter expansão de 6,9%.
Maioria vai comprar na última hora
Mesmo com o valor da compra mais baixo, a expectativa dos lojistas é de grande movimento na semana do Dia das Crianças, a quarta melhor data para o varejo, atrás do Natal, Dia das Mães e Dia dos Namorados. Isso porque boa parte dos consumidores entrevistados pela Câmara de Dirigentes Lojistas da capital informou que deixará as compras para a última hora: 68,63% só vão às lojas em outubro. Outros 22,98% pretendem ir às compras até o fim de setembro. A minoria (8,39%) já garantiu o sorriso dos pequenos.
O diagnóstico da CDL trouxe um dado curioso: 17,5% dos pais pretendem comprar os presentes em lojas de rua. A maioria (31,65), porém, irá aos shoppings, enquanto 14,33% optam pelos centros comerciais. Os shoppings populares devem atender à demanda de 4,89% dos pais. É o mesmo percentual de quem fará as compras pela internet.
A maior parte dos consumidores (58,92%) informou que o Dia das Crianças vai ficar “só no presente”, mas 41% destacaram que “haverá outras comemorações”, como passeio no parque (20,38%), almoço fora do lar (12,74%), visita ao zoológico ou ida ao cinema (6,37%) e viagem (1,59%). (PHL)