Pode até soar estranho, mas, enquanto a desigualdade salarial caiu em Minas Gerais e no Brasil, a diferença entre o rendimento médio dos homens e o das mulheres subiu tanto no estado quanto no país. É o que mostrou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda na desigualdade salarial foi medida pelo Índice de Gini, um indicador mundial que oscila de zero a um e, quanto menor, melhor é o resultado. Ele se reduziu de 0,520 em 2006 para 0,476 em 2011, fechando 2012 em 0,475. No Brasil, pela primeira vez, encerrou um exercício abaixo de 0,5%: diminuiu de 0,540 em 2006 para 0,501 em 2011, indo para 0,498 em 2012.
Parte dessa queda se deve ao que os economistas chamam de era do pleno emprego. “Nota-se o crescimento na renda devido às oportunidades de emprego. A redução da taxa de desocupação está constante”, disse Luciene Longo, analista do IBGE. No Brasil, a taxa de desocupação fechou o mês passado em 5,3%. Há 10 anos havia sido de 13,1%. Em Belo Horizonte, no mesmo período de comparação, despencou de 12,1% para 4,3%. A queda na desigualdade salarial representa aumento no rendimento médio dos trabalhadores.
De 2011 para 2012, por exemplo, o rendimento médio dos trabalhadores no estado passou de R$ 1.302,00 para R$ 1.416. A alta, de 8,5%, superou a inflação nacional registrada em 2011 (6,5%) e a apurada no ano passado (5,84%). No caso do Brasil, o rendimento médio avançou 5,7%, de R$ 1.425 para R$ 1.507. Por outro lado, o aumento no contracheque não foi igual para homens e mulheres. Para ter ideia, as mineiras recebiam, em 2011, o correspondente a 67,1% da remuneração dos mineiros: R$ 1.507 contra R$ 1.012. Em 2012, o percentual foi de 66,3% – R$ 1.646 a R$ 1.092.
Na prática, o Índice de Gini e a comparação entre os rendimentos médios dos homens e mulheres mostram que a desigualdade salarial caiu em razão de o reajuste do contracheque dos trabalhadores do sexo masculino no estado ter sido superior ao do feminino. Em Minas, de 2011 para 2012, enquanto o vencimento médio deles subiu 9,2%, o delas avançou 7,9%. A economista Janice Santos Viana, analista do Obervatório do Trabalho da Secretaria do Trabalho e Emprego de Minas, avalia que a diferença se deve a um fator histórico. “O mercado de trabalho promove a discriminação de gênero, raça e cor”, avaliou Janice.
O aumento do rendimento médio pode ocorrer por vários motivos, como promoção na empresa, concurso público ou interno e proposta para receber um salário melhor em outra firma. Essa última hipótese foi que levou Sílvio César Specca, de 34, a aumentar seu contracheque em torno de 20%. “Trabalhei durante dois anos e cinco meses como desenvolvedor em uma empresa especializada em softwares. Fui convidado para um processo seletivo e assumi o cargo de analista de negócios com ênfase em desenvolvimento”, disse Sílvio.