O Banco Central (BC) projeta para o fim do ano um novo reajuste nos preços da gasolina e do botijão de gás. Pelas contas da autoridade monetária, abastecer o veículo deverá ficar até 2,85% mais caro em 2013, projeção que já considera a variação registrada até agosto, de 2,15%. Com isso, a alta acumulada até dezembro é estimada em 5%, conforme consta no mais recente relatório trimestral de inflação produzido pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Para o gás de cozinha, a alta esperada é de 2,5%. Em junho, na última divulgação do material, apenas para a gasolina era previsto reajuste no ano.
O documento contém estimativas para o comportamento dos preços de diversos produtos e serviços, como alimentos in natura e tarifas públicas. O relatório, no entanto, traz apenas projeções para a variação desses itens. Entretanto, é a partir dessas projeções que o BC chega ao número que será perseguido de toda a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Neste ano, a autoridade monetária estima que esse indicador varie 5,8%, praticamente o mesmo percentual observado em 2012, de 5,84%.
Boa parte dessa alta é justificada pela variação esperada nos preços da gasolina, que, pelas contas do BC, responde por aproximadamente 3,84% de todo o IPCA. Outros derivados do petróleo que influenciam nessa conta são o gás de bujão, com peso de 1,08%, o óleo diesel, com 0,13%, e o gás veicular, com 0,12%.
No documento, o Copom esclareceu que “uma fonte relevante de risco” para a inflação reside no comportamento das expectativas para os custos de produtos e serviços, impactados negativamente por incertezas que cercam a trajetória de preços “com grande visibilidade, como o da gasolina e o de transportes urbanos”.
O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, explicou que as projeções contidas no relatório de inflação são apenas “hipóteses de trabalho” da autoridade monetária. “(O reajuste) é uma decisão que não cabe a nós”, concluiu. Ele explicou, porém, que a alta projetada de 5% ao ano, dos quais 2,15% já ocorreram, não diz respeito apenas à alta de preços do combustível nas refinarias. “Há outras questões que consideramos, como impostos, preços nas bombas etc.”, disse.
Preços administrados
Os preços da gasolina, da eletricidade e de outros itens chamados de administrados se tornaram uma ameaça ao trabalho do BC. Controlados por decisões governamentais, são um problema que pode estourar, segundo analistas, a qualquer momento sobre o custo de vida do brasileiro. A autoridade monetária, durante divulgação do Relatório de Inflação, se mostrou preocupada como o tamanho desse controle e com o potencial de estrago. Carlos Hamilton Araújo disse que o Copom compartilha da visão do mercado de que não é possível segurar esses reajustes eternamente.
O diretor explicou que desde 2007 os preços administrados crescem em ritmo muito inferior ao restante e que essa diferença tende a se reduzir, ou seja, esse itens que estão em nível baixo devem apresentar elevação. “Temos de ter foco no objetivo, à medida que os administrados passem a subir mais, se os outros preços diminuírem a velocidade não é um problema”, afirmou.
No documento, a instituição mostra o tamanho dessa disparidade. Enquanto os monitorados apresentaram inflação acumulada em 12 meses, até agosto, de 1,3%, os chamados comercializáveis (bens de consumo duráveis ou não) se elevaram 6,8%. Os não comercializáveis, que englobam os serviços, subiram 8,4% no período.
Juro de dois dígitos é real
Brasília – Acabou a era do dinheiro barato no Brasil e no mundo. Governos, empresas e consumidores, segundo o Banco Central, terão de pagar mais caro para se financiar. A mensagem, uma das principais do Relatório Trimestral de Inflação, documento apresentado ontem pela autoridade monetária, levou parte do mercado a mudar as apostas para os juros básicos (Selic). Uma taxa de 10% ao ano ao fim de 2013, antes vista como pouco provável, começa a aparecer como inevitável.
Diante da mudança da política monetária nos Estados Unidos, que ameaça tirar estímulos mensais de US$ 85 bilhões à economia, os juros norte-americanos começaram a subir no mercado secundário e arrastaram para cima taxas ao redor do mundo, sobretudo em países emergentes. “O Sumário Executivo do documento teve um tom bastante agressivo. Logo no primeiro parágrafo a autoridade monetária deixa claro que o período do dinheiro barato deve chegar ao fim em breve”, destacou André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. “Não chega a ser uma novidade isso, mas pelo destaque dado pelo BC para esse fato, fica evidente sua preocupação”, observou.
O novo cenário abateu, ainda, uma das principais bandeiras da presidente Dilma Rousseff para a campanha de 2014: a promessa de manter a Selic no menor nível da história.“O custo do financiamento aumentou, não só para o Tesouro Nacional, aumentou para todo mundo e não apenas para o Brasil”, defendeu Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica do BC. O executivo explicou ainda que as taxas de juros para quem toma crédito começaram a se elevar, um efeito do aumento da taxa básica a partir de abril. “Esse aumento pode refletir também, ao menos em parte, o aumento do custo nos mercados internacionais”, disse.
Ruído
O documento gerou ainda burburinho no mercado financeiro em função das colocações acerca da política fiscal. Para a autoridade monetária, não há problema em um superávit (economia para pagar os juros da dívida) menor. Parte dos analistas entendeu a fala como mais uma mostra de que o Banco Central cedeu às pressões do Palácio do Planalto e do Ministério da Fazenda. A elevação da taxa básica, inclusive, já estaria combinada com a presidente, que cedeu à necessidade de aperto monetário diante da corrosão inflacionária sobre as vendas do varejo e do poder de compra das famílias. “Acredito que há bastante trabalho a ser feito pela política monetária em termos de combate à inflação”, disse Carlos Hamilton.
As projeções do BC reforçam também a percepção de que a carestia resiste. Nem mesmo depois de a instituição apertar a taxa básica, que subiu de 7,25% ao ano em abril para 9% em agosto – e tem chances de bater na casa dos 10% até o fim do ano –, os preços se colocaram em direção ao centro da meta de inflação, definida em 4,5%. Pelo contrário, as previsões da autoridade monetária são de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) permaneça longe desse alvo e chegue ao terceiro trimestre de 2015 em 5,5%.
“O documento fortalece a nossa tese da necessidade de elevação maior da taxa básica de juros. A despeito da redução da inflação projetada para 2013, de 6% para 5,8%, a previsão de IPCA para 2014 aumentou de forma relevante”, observou Eduardo Velho, economista-chefe da Invx Global Partners. (DB/VM)
O documento contém estimativas para o comportamento dos preços de diversos produtos e serviços, como alimentos in natura e tarifas públicas. O relatório, no entanto, traz apenas projeções para a variação desses itens. Entretanto, é a partir dessas projeções que o BC chega ao número que será perseguido de toda a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Neste ano, a autoridade monetária estima que esse indicador varie 5,8%, praticamente o mesmo percentual observado em 2012, de 5,84%.
Boa parte dessa alta é justificada pela variação esperada nos preços da gasolina, que, pelas contas do BC, responde por aproximadamente 3,84% de todo o IPCA. Outros derivados do petróleo que influenciam nessa conta são o gás de bujão, com peso de 1,08%, o óleo diesel, com 0,13%, e o gás veicular, com 0,12%.
No documento, o Copom esclareceu que “uma fonte relevante de risco” para a inflação reside no comportamento das expectativas para os custos de produtos e serviços, impactados negativamente por incertezas que cercam a trajetória de preços “com grande visibilidade, como o da gasolina e o de transportes urbanos”.
O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, explicou que as projeções contidas no relatório de inflação são apenas “hipóteses de trabalho” da autoridade monetária. “(O reajuste) é uma decisão que não cabe a nós”, concluiu. Ele explicou, porém, que a alta projetada de 5% ao ano, dos quais 2,15% já ocorreram, não diz respeito apenas à alta de preços do combustível nas refinarias. “Há outras questões que consideramos, como impostos, preços nas bombas etc.”, disse.
Preços administrados
Os preços da gasolina, da eletricidade e de outros itens chamados de administrados se tornaram uma ameaça ao trabalho do BC. Controlados por decisões governamentais, são um problema que pode estourar, segundo analistas, a qualquer momento sobre o custo de vida do brasileiro. A autoridade monetária, durante divulgação do Relatório de Inflação, se mostrou preocupada como o tamanho desse controle e com o potencial de estrago. Carlos Hamilton Araújo disse que o Copom compartilha da visão do mercado de que não é possível segurar esses reajustes eternamente.
O diretor explicou que desde 2007 os preços administrados crescem em ritmo muito inferior ao restante e que essa diferença tende a se reduzir, ou seja, esse itens que estão em nível baixo devem apresentar elevação. “Temos de ter foco no objetivo, à medida que os administrados passem a subir mais, se os outros preços diminuírem a velocidade não é um problema”, afirmou.
No documento, a instituição mostra o tamanho dessa disparidade. Enquanto os monitorados apresentaram inflação acumulada em 12 meses, até agosto, de 1,3%, os chamados comercializáveis (bens de consumo duráveis ou não) se elevaram 6,8%. Os não comercializáveis, que englobam os serviços, subiram 8,4% no período.
Juro de dois dígitos é real
Brasília – Acabou a era do dinheiro barato no Brasil e no mundo. Governos, empresas e consumidores, segundo o Banco Central, terão de pagar mais caro para se financiar. A mensagem, uma das principais do Relatório Trimestral de Inflação, documento apresentado ontem pela autoridade monetária, levou parte do mercado a mudar as apostas para os juros básicos (Selic). Uma taxa de 10% ao ano ao fim de 2013, antes vista como pouco provável, começa a aparecer como inevitável.
Diante da mudança da política monetária nos Estados Unidos, que ameaça tirar estímulos mensais de US$ 85 bilhões à economia, os juros norte-americanos começaram a subir no mercado secundário e arrastaram para cima taxas ao redor do mundo, sobretudo em países emergentes. “O Sumário Executivo do documento teve um tom bastante agressivo. Logo no primeiro parágrafo a autoridade monetária deixa claro que o período do dinheiro barato deve chegar ao fim em breve”, destacou André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. “Não chega a ser uma novidade isso, mas pelo destaque dado pelo BC para esse fato, fica evidente sua preocupação”, observou.
O novo cenário abateu, ainda, uma das principais bandeiras da presidente Dilma Rousseff para a campanha de 2014: a promessa de manter a Selic no menor nível da história.“O custo do financiamento aumentou, não só para o Tesouro Nacional, aumentou para todo mundo e não apenas para o Brasil”, defendeu Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica do BC. O executivo explicou ainda que as taxas de juros para quem toma crédito começaram a se elevar, um efeito do aumento da taxa básica a partir de abril. “Esse aumento pode refletir também, ao menos em parte, o aumento do custo nos mercados internacionais”, disse.
Ruído
O documento gerou ainda burburinho no mercado financeiro em função das colocações acerca da política fiscal. Para a autoridade monetária, não há problema em um superávit (economia para pagar os juros da dívida) menor. Parte dos analistas entendeu a fala como mais uma mostra de que o Banco Central cedeu às pressões do Palácio do Planalto e do Ministério da Fazenda. A elevação da taxa básica, inclusive, já estaria combinada com a presidente, que cedeu à necessidade de aperto monetário diante da corrosão inflacionária sobre as vendas do varejo e do poder de compra das famílias. “Acredito que há bastante trabalho a ser feito pela política monetária em termos de combate à inflação”, disse Carlos Hamilton.
As projeções do BC reforçam também a percepção de que a carestia resiste. Nem mesmo depois de a instituição apertar a taxa básica, que subiu de 7,25% ao ano em abril para 9% em agosto – e tem chances de bater na casa dos 10% até o fim do ano –, os preços se colocaram em direção ao centro da meta de inflação, definida em 4,5%. Pelo contrário, as previsões da autoridade monetária são de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) permaneça longe desse alvo e chegue ao terceiro trimestre de 2015 em 5,5%.
“O documento fortalece a nossa tese da necessidade de elevação maior da taxa básica de juros. A despeito da redução da inflação projetada para 2013, de 6% para 5,8%, a previsão de IPCA para 2014 aumentou de forma relevante”, observou Eduardo Velho, economista-chefe da Invx Global Partners. (DB/VM)