A chance de os parlamentares americanos aprovarem uma lei de financiamento de curto prazo para o governo dos EUA é pequena, mas existe. No entanto, caso não seja aprovada qualquer medida para interromper a paralisação do governo, várias instituições do país devem amanhecer a terça-feira de portas fechadas. Neste caso, o mais importante é saber por quanto tempo o governo americano ficará parado.
De acordo com dados do Morgan Stanley, a maioria das 17 paralisações ocorridas com governos dos EUA desde 1976, teve curta duração, de um a dois dias. Se essa paralisação acontecer e durar menos de uma semana, provavelmente ela não terá impacto significativo na economia, estimam economistas. O grande risco, avalia Joel Bine, diretor da AlixPartners, será o clima de incerteza que a paralisação provocará, "em confluência com o debate sobre o projeto para a saúde e a perspectiva de aperto fiscal pelo Federal Reserve".
O mercado de ações e derivativos vai continuar a funcionar nesta terça-feira mesmo se as atividades do governo forem paralisadas, disseram autoridades, ainda que algumas atividades regulatórias possam desacelerar. A capacidade de manter os mercados abertos reflete a mudança da indústria em direção a um modelo de autorregulamentação que envolve agências financiadas pela indústria e supervisão interna das negociações feitas pelas próprias bolsas.
Reguladores como a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM do mercado americano) e a Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC) já detalharam nos últimos dias como vão reduzir suas operações se o Congresso dos EUA não resolver a última batalha sobre o Orçamento.
Para a indústria de energia, a paralisação do governo deve atrasar a liberação de novas permissões para a busca de petróleo e gás em terras públicas, congelar a revisão de novos planos de perfuração de postos de petróleo no mar, interromper planos de desenvolvimento do setor.
A permissão para novas explorações em minas devem ficar paradas, mas as inspeções em mineradoras devem continuar porque estão à cargo da administração estadual.
No departamento geológico dos EUA apenas 43 funcionários entre os mais de oito mil devem permanecer no trabalho, a maioria deles no Centro de Informação Nacional sobre Terremotos.
No Departamento de Transportes dos EUA os planos de operação envolvem cerca de 15.500 funcionários dos 46 mil que trabalham no local e que ficarão de licença. Segundo informações da Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) as operações de controle de tráfego aéreo, manutenção e operação de auxílio à navegação, e pedidos de investigação de acidentes, entre outras funções, serão mantidos.
Outras atividades da FAA, como treinamento de controladores de tráfego aéreo, inspeções em instrumentos de segurança, analise de desempenho de tráfego aéreo, entre outros devem permanecer paradas, caso o governo não tenha como pagar suas contas.
O setor de agribusiness deve ficar complicado porque dados cruciais do governo ficarão perdidos. Os planos do Departamento de Agricultura dos EUA é de manter em licença funcionários responsáveis por alguns relatórios semanais e diários de estatísticas que são acompanhados de perto pelos investidores. Qualquer atraso na divulgação dessas estatísticas pode afetar o mercado de commodities e ações.
Para a indústria do aço e a confiança do consumidor e das empresas a paralisação do governo americano terá um impacto maior. A indústria do aço já está caminhando na linha fina entre lucros e perdas e a paralisação vai apenas agravar esta situação.
Embora o setor tenha se beneficiado da recuperação dos fabricantes americanos de carros, as últimas margens de lucro foram corroídas pela alta nos preços do minério de ferro e pelo legado de custos atrelado aos contratos com os grandes sindicatos.
Além disso, a paralisação do governo deve afetar as expectativas para novos projetos de gastos com infraestrutura, e a incerteza deve preocupar os consumidores, que gostariam de comprar carros e equipamentos, e empresários que gostariam de investir no uso intensivo de aço.