A fusão entre a operadora brasileira Oi e o grupo Portugal Telecom (PT), anunciada ontem, sepultou de vez o projeto da “supertele” verde e amarela, defendido com entusiasmo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aprofundou a tendência de concentração no mercado nacional de telecomunicações. O memorando assinado pelas duas empresas prevê o nascimento da CorpCo, uma das 20 maiores do setor no mundo, com sede no Rio de Janeiro e 100,2 milhões de clientes no Brasil, Portugal e em outros cinco países africanos de língua portuguesa. O faturamento da multinacional é estimado em R$ 40 bilhões por ano.
A fusão ainda terá que ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Pelos termos acordados na operação, a Oi será uma subsidiária integral da CorpCo, que vai absorver a PT. Ao fim do processo, os investidores do grupo português terão entre 36,6% e 39,6% da nova empresa. Ela já era a principal acionista individual da operadora brasileira, com 23,6% no capital.
O valor das ações da Oi negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) disparou logo na abertura do pregão, que fechou em queda de 0,15%. Após alcançar picos de 10%, os papéis preferenciais (PN) fecharam com a maior alta do dia (5,21%), a R$ 4,44, enquanto os ordinários (ON) subiram 3,58%, a R$ 4,63. Ao contrário da Oi, as ações da rival Vivo caíram 2,29%, enquanto as da TIM subiram 0,56%.
Zeinal Bava, presidente da Oi e futuro comandante da CorpCo afirmou que a fusão resultará em corte de custos de investimentos e de operações, graças à maior escala e à simplificação da governança. Ele estimou que essas economias cheguem a R$ 5,5 bilhões. “A ambição é estar entre os maiores competidores globais, assumindo uma vocação multinacional, num setor em profunda transformação”, disse.
Para viabilizar a consolidação dos dois balanços, está previsto um aumento de capital da Oi entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões. Os atuais acionistas da Telemar Participações e de um fundo de investimento administrado pelo BTG Pactual vão participar dessa operação com R$ 2 bilhões.
A operação bilionária visa melhorar a frágil situação financeira da Oi e competir em pé de igualdade com as concorrentes. A nova empresa já nasce com dívida líquida de R$ 41,2 bilhões, o equivalente a 3,3 vezes sua geração de caixa medida pelo Ebitda, sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação dos ativos. O processo deve ser concluído no primeiro semestre de 2014.
APROVAÇÃO
Aparentemente, o governo não oferecerá qualquer resistência à fusão da brasileira Oi com a Portugal Telecom (PT). O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, considerou o anúncio de ontem apenas “uma estratégia que está se consolidando”, sem enxergar riscos para a livre concorrência no mercado de telefonia nacional.
Ele lembrou, após participar de uma audiência no Senado, que a PT sinalizou na direção do acordo ao deixar o grupo de controle da operadora Vivo e se tornar sócia majoritária da Oi. “Vamos chamar as duas empresas para conversar e entender o negócio. Mas, em princípio, não vejo nenhum problema na fusão”, disse.
As declarações do ministro contrastam com as que ele fez na semana passada, ao comentar o acordo entre a controladora da Vivo, a Telefónica, e a Telecom Italia, dona da TIM Brasil. A operação conjuntura das duas maiores empresas do setor no país, foi considerada por Bernardo como ilegal. A reação do ministro, inicialmente contrária à concentração, foi desautorizada pela presidente Dilma Roussef, que delegou o julgamento do caso apenas ao órgão de defesa da concorrência (Cade).