Ações estruturadas para elevar a gastronomia mineira ao patamar que merece se tornaram prioridade do governo de Minas. Iniciativas como a internacionalização do setor, com a participação de representantes da cozinha mineira em eventos de peso como o Madrid Fusion e, agora, na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, na Alemanha, entre os dias 9 e 13, como convidados especiais, representando a culinária brasileira, têm-se revelado de grande valia. De acordo com o secretário de Turismo do estado, Agostinho Patrus Filho, a união dos esforços, em que ele destaca a participação do jornal Estado de Minas como importante incentivador, apresenta bons resultados, servindo de indicador o crescimento de 93,2% do número de visitantes no estado nos últimos quatro anos, que passou de 13 milhões de visitantes para 25 milhões.
Autores a caminho de Frankfurt para uma das principais feiras editoriais do mundo
Turistas ouvidos por amostragem revelaram no ano passado à Associação Brasileira de Agência de Viagem ( Abav ) que a primeira imagem que vem à cabeça quando se fala de Minas Gerias é a gastronomia. O pão de queijo, o queijo, a cachaça e o café, juntos, formam 12,47% da imagem de Minas Gerais identificada pelos visitantes. Imagem que o governo quer ver ainda mais fortalecida.
Números expressivos, como o que revela que 19% do PIB mineiro (de cerca de 351 bilhões) de 2012 está atrelado à gastronomia, são um estímulo a mais para dar prosseguimento a iniciativas que promovam a mudança da percepção de valor do setor, como o batizado Gastronomia do morro, em que cinco renomados chefs de BH serão recebidos este mês por outros cinco chefs do Aglomerado Santa Lúcia. Durante 14 dias, cozinharão uns para os outros, de forma recíproca. As turmas tentarão, cada qual à sua maneira, replicar os pratos preparados. “Em parceria com Senac, Fecomércio, BDMG, Sebrae e Junta Comercial, os chefs do morro terão seus estabelecimentos formalizados, a mão de obra empregada qualificada e financiamento especial para melhorar os seus empreendimentos”, explica Patrus. Em entrevista exclusiva ao caderno Feminino & Masculino, o secretário fala sobre os trabalhos desenvolvidos para dar visibilidade a essa tradicional cozinha, segundo ele, um patrimônio de Minas, – com um projeto de lei encaminhado à Assembleia Legislativa de Minas que cria, dentro da Secretária de Turismo, a Superintendência
de Gastronomia.
A gastronomia mineira no Madrid Fusion foi um catalisador das ações para a internacionalização da culinária mineira, fazendo com que ela recebesse mais este convite para se mostrar na Alemanha?
De certa maneira, sim. Depois da participação de Minas Gerais no Madrid Fusion, como estado homenageado, os chefs participantes começaram a receber muitos convites para apresentações fora do país. Penso que o governo é um indutor desse trabalho, que desde o início teve a participação das federações, de Comércio, Agricultura e Indústria. Estamos fazendo um trabalho importante, mas não podemos nos esquecer da iniciativa privada que tem dado também a sua contribuição.
Como Minas Gerais chegou à Feira Internacional de Frankfurt?
A participação da gastronomia mineira na Feira Internacional do Livro de Frankfurt surgiu a partir do fato de o Brasil ser o homenageado da feira. Trata-se de um evento importante, prestes a completar 64 anos de realização. Foi pensado então um espaço dedicado à literatura gastronômica e uma cozinha show, onde os chefs pudessem mostrar os sabores do Brasil. Em razão de Minas Gerais estar fazendo um belo trabalho gastronômico com ações estruturadas e apoiadas pelo governo, nos tornando referência também fora do Brasil, recebemos o convite feito pela Câmara Brasileira do Livro, sob o argumento de que a gastronomia de Minas Gerais vive um grande momento e que era importante nossa participação.
O senhor concorda?
O mundo está reconhecendo o nosso esforço, vendo e respeitando o nosso trabalho. Também é dado importante que 19% do PIB mineiro do ano passado esteve atrelado à gastronomia. Dos turistas brasileiros que vêm a Minas Gerais, 22% deles apontaram a gastronomia como primeira imagem que vem à cabeça. E dos turistas, em geral, de dentro e fora do país que visitam nosso estado, 22% deles gastam com alimentação. É bom enfatizar que a gastronomia mineira é uma referência no Brasil. Em um segundo momento, é claro que nossa participação em eventos no exterior e promoções como o Festival de Gastronomia de Tiradentes contribuem para espalhar, difundir essa culinária, fortalecendo essa imagem. Além disso, hoje é cada vez mais valorizada, no mundo, a cozinha de raiz, local, aquela que mantém suas tradições, seus ingredientes e produtores regionais. È a chamada “Gastronomia de terrois”. Minas é sinônimo disso. Temos grandes chefs e produtos únicos que não se encontram em nenhum outro lugar do mundo. O que a Câmara Brasileira do Livro enxergou foi o que a Espanha também percebeu ao nos fazer estado homenageado do evento. A chancela do Madrid Fusion, nesse sentido, nos deu a garantia desse reconhecimento.
Como ocorrerá a participação de Minas em Frankfurt?
Estamos levando três chefs: Ivo Faria, do Vecchio Sogno de Belo Horizonte, Antônio Basile, do Le Gourmet Bistrô, de Gonçalves (MG), e Ari Kespers, do Provence Cottage Bistrô, de Monte Verde (MG), e dois escritores, Maria Coeli Simões Pires (lançando o livro O queijo do Serro) e Eduardo Avelar. Todos chefs estrelados , reconhecidos pelos trabalhos que desenvolvem, seja na cozinha ou na literatura. Estamos diversificando, dando, aos poucos, oportunidades a todos de ter uma experiência internacional.
Como foram sistematizadas as apresentações?
Dentro do estande do Brasil, haverá uma cozinha e os três chefs vão preparar pratos com ingredientes de nossos terroirs para servirem aos visitantes. Teremos também um local destinado a aulas onde eles vão apresentar a cultura gastronômica mineira, regiões, inúmeros ingredientes e técnicas de preparo. Já no denominado Gastrofestival, ou Brazilian taste festival, os chefs mineiros irão cozinhar no famoso restaurante do Hotel Steingerberger, estrelado pelo Guia Michelin, considerado o melhor de Frankfurt. Serão jantares magnos, com entrada, prato principal e sobremesa. Esses jantares são divulgados na cidade com antecedência e recebem pessoas que acabam se tornando multiplicadores. O restaurante é preparado com banners de Minas e providenciamos display nas mesas contando nossa história e nossa gastronomia. São ações que repercutem muito bem. Uma pessoa amiga de BH esteve em Madri recentemente e me disse que, ao se hospedar em um hotel , teve a grata surpresa de ouvir dos recepcionistas elogios aos cozinheiros de Belo Horizonte que cozinharam no local.
O que, na sua opinião, conceitua a gastronomia?
Quando falamos de gastronomia, pensamos em restaurante, chef renomado e uma boa comida. Mas a gastronomia se inicia lá atrás. Tem o produtor, com duas, três vacas, e que produz um queijo excepcional, seja na Canastra ou na região do Serro. Falo do queijo, mas poderia ser café, doce, hortaliça, carne. Saio do produtor, atinjo o comércio justo. Esses produtos são vendidos in natura ou industrializados. Daí vem a prestação de serviço, com o vendedor na feira, os cozinheiros nos hotéis, restaurantes, enfim. É toda uma cadeia produtiva envolvida até aquele queijo ou aquele café se tornarem um atrativo turístico. Quer dizer, uma série de eventos enorme perpassa todo esse segmento, tendo uma importância social muito grande. A gastronomia gera emprego, mantém o homem no campo, gera oportunidade para o primeiro emprego das pessoas, principalmente para aquela parcela da população menos qualificada. Ela é econômica e socialmente importante.
E por que ela é importante para o turismo?
No Brasil, o custo per capita do turista internacional que nos visita é de cerca de 20 dólares por dia. Esse custo per capita na França é de 120 dólares; na Espanha; passa dos 200 dólares. Isso mostra que é uma atividade que traz divisas, que mantém o turista mais tempo nos locais. Sair para jantar, conhecer um restaurante virou um programa à parte. É uma experiência única. As pessoas contam essas visitas como algo mágico, espetacular. Fazem parte das memórias que guardam dos bons momentos que desfrutaram numa viagem. Daí a razão de o governo de Minas apoiar esse setor, porque além de econômico e socialmente representativo também é turisticamente importante. Precisamos aumentar o gasto gastronômico do turista em Minas Gerais.
O que mais esse gasto menor revela?
Uma percepção de valor equivocada da nossa gastronomia. É o que vai fazer com que aquela senhora, lá do interior, reconhecidamente boa cozinheira, possa agregar valor ao seu produto. Essa mudança de conceito é necessária. Por que ninguém está disposto a pagar 220 dólares por dia na alimentação brasileira, se temos qualidade para isso, e se dispõe a pagar na Espanha? Temos uma gastronomia de qualidade, com uma riqueza de ingredientes fantástica, e isso precisa ser divulgado dentro e fora do país, com a internacionalização da nossa gastronomia interiorizada, regionalizada. O governo quer valorizar não só o trabalho dos chefs, mas dos nossos produtos e produtores. Pagamos por um queijo importado R$ 90, mas reclamamos do preço do quilo do queijo canastra. É uma questão de perceber o valor do que é nosso. È preciso somar esforços para que essa valorização ocorra.
Essa união já está ocorrendo, não é?
Temos várias iniciativas nesse sentido: a união dos nossos chefs, a associação dos pequenos produtores. a legislação sendo modificada, o governo permitindo novas formas de maturação do queijo e certificando o produto para facilitar seu comércio fora do Estado; a qualificação profissional, a internacionalização da gastronomia mineira, sua promoção nacional e a divulgação dessas ações estruturadas que o jornal Estado de Minas tem feito com muita sensibilidade e comprometimento. O jornal tem colocado em evidência em suas páginas a gastronomia de Minas Gerais, com matérias e artigos elucidativos, cadernos especiais e publicações específicas, como o caderno Degusta e a revista Sabores de Minas. O jornal como parceiro da gastronomia mineira tem papel fundamental na promoção e valorização do setor, despertando o interesse das pessoas para um patrimônio de Minas.