Depois de quase três anos de falta de competitividade do etanol hidratado em relação à gasolina nas revendas mineiras, o crescimento da safra da cana-de-açúcar, associado à situação de baixa do açúcar no mercado internacional, força o empate na disputa nas bombas. Nos últimos dois meses, considerando o cálculo feito para medir o custo-benefício, pelo qual o álcool para ser vantajoso precisa valer menos que 70% da gasolina, na média do estado os preços se equivalem, segundo levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Tal cenário colabora para os motoristas finalmente voltarem a optar pelo etanol. Nos oito primeiros meses do ano, o crescimento do consumo é de 35,47% ante igual período do ano passado, enquanto a procura pela gasolina aumentou 4,66%.
Nos últimos anos, o que se percebia claramente era uma derrocada da produção do etanol. Ano a ano, os produtores reduziam o volume ofertado, priorizando o açúcar. Em 2011 e 2012, o total produzido foi inferior em 26% e 17,6%, respectivamente, em relação ao ano imediatamente anterior, se considerado o período entre janeiro e agosto. O mesmo se repetia em quase todo o país. Enquanto isso, a Refinaria Gabriel Passos (Regap) e outras unidades eram obrigadas a aumentar a produção de gasolina para abastecer a frota crescente do país, apesar de não terem sido criadas novas refinarias no período.
Em junho, teve início movimento nas revendas de favorecimento ao consumo do etanol. Aos poucos, os primeiros postos de combustível apresentavam preços competitivos em relação à gasolina, apesar de a média estadual do valor do álcool hidratado ainda representar 72,51% do da gasolina. À época, de 10 postos visitados, em três o álcool tinha melhor custo-benefício. Mas desde janeiro o movimento de consumo de etanol tem tido forte impulso, sempre com avanços superiores a dois dígitos. O psicólogo Paulo Ferreira contribui para essa alta da demanda. “O primeiro quesito que observo é o preço. Mas quando empata tem a questão ecológica”, diz ele, que, no ano passado, usou somente a gasolina, mas voltou a optar pelo concorrente desde que encontrou preços mais acessíveis. “Só às vezes coloco um pouco de gasolina para melhorar a performance”, diz ele.
A maioria dos consumidores ainda prefere a gasolina. Como nos últimos anos o preço era bem favorável, muitos nem sequer se atentam para o comparativo de preços e vão direto em busca do derivado de petróleo. O taxista Isekson Campos, por exemplo, considera o combustível mais “prático”. Isso porque precisaria abastecer com maior frequência caso optasse pelo etanol. “A última vez que abasteci com álcool foi para viajar para o Espírito Santo, em fevereiro. Mas não foi escolha. Não tinha gasolina nas bombas”, recorda-se. No posto Wap, na Avenida Amazonas, há dois meses o preço do etanol é inferior a 70% do ofertado para gasolina. Com isso, houve aumento da procura. Hoje, entre 30% e 40% do total vendido é de álcool, segundo o chefe de pista da unidade, Talmo Júnior. “A gasolina ainda predomina”, diz.
PRODUÇÃO As condições climáticas favoreceram o aumento da produtividade da atual safra, segundo o secretário-executivo da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos. Ele explica que a chuva nas regiões produtoras do estado permitiu grande renovação das lavouras de cana. Fora isso, as usinas aumentaram a área de plantio. A expectativa é que neste ano sejam colhidos 60 milhões de toneladas de cana, enquanto na safra passada ficou em 51,7 milhões de toneladas. Isso fez com que a safra seja estendida até a primeira quinzena de dezembro.
Fator decisivo para o aumento da oferta do etanol hidratado é que a grande oferta de açúcar no mercado internacional gerou excedente, reduzindo os preços da commodity e, com isso, forçando os produtores a alterar o perfil da produção. Em Minas, no ano passado, 49% do total produzido era de etanol (anidro e hidratado). Neste ano, a soma é de 56%. O restante é de açúcar. O secretário-executivo da Siamig, no entanto, afirma que, caso não sejam feitos investimentos, a produção nos próximos anos não vai crescer. Segundo ele, o fechamento de seis usinas mineiras nos últimos quatro anos em função da crise econômica internacional (no país foram 45) reduziu drasticamente a capacidade do setor. “Estamos chegando ao limite da capacidade instalada”, diz Campos.
Jogo desigual O fim do subsídio ao valor da gasolina é tido como a única solução para o etanol se tornar competitivo de fato, segundo especialistas. Apesar de o governo federal ter zerado o PIS-Cofins do setor em abril, o que corresponde a uma redução de aproximadamente R$ 0,12 por litro do combustível, a manutenção dos incentivos à gasolina para impedir a alta da inflação têm efeitos danosos para a cadeia do álcool.
A expectativa é que ainda neste mês sejam definidos os reajustes nas refinarias, podendo o derivado do petróleo ter aumento de até 10%. O aumento já foi pedido em público por representantes da Petrobras mais de uma vez. O reajuste diminuiria as perdas nas operações, uma vez que a companhia compra o produto no exterior por um preço e o revende a valor inferior no Brasil. Inclusive, estancando o problema a empresa aumentaria a capacidade de investimento em setores estratégicos.
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor-fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, adverte, no entanto, que para se ter sequência na competição entre os combustíveis o governo federal deveria equiparar os valores da gasolina ao encontrado no mercado internacional. Caso contrário, a chegada da entressafra da cana-de-açúcar vai fazer com que a gasolina volte a ser vantajosa. “É uma competição temporária. Na entressafra muda outra vez. É preciso aumentar o preço da gasolina, nunca a deixando muito defasada”, diz Pires. O ideal, segundo o especialista, seria modificar o valor do combustível toda vez que houvesse alterações nos preços do petróleo e do câmbio. (PRF)
Nos últimos anos, o que se percebia claramente era uma derrocada da produção do etanol. Ano a ano, os produtores reduziam o volume ofertado, priorizando o açúcar. Em 2011 e 2012, o total produzido foi inferior em 26% e 17,6%, respectivamente, em relação ao ano imediatamente anterior, se considerado o período entre janeiro e agosto. O mesmo se repetia em quase todo o país. Enquanto isso, a Refinaria Gabriel Passos (Regap) e outras unidades eram obrigadas a aumentar a produção de gasolina para abastecer a frota crescente do país, apesar de não terem sido criadas novas refinarias no período.
Em junho, teve início movimento nas revendas de favorecimento ao consumo do etanol. Aos poucos, os primeiros postos de combustível apresentavam preços competitivos em relação à gasolina, apesar de a média estadual do valor do álcool hidratado ainda representar 72,51% do da gasolina. À época, de 10 postos visitados, em três o álcool tinha melhor custo-benefício. Mas desde janeiro o movimento de consumo de etanol tem tido forte impulso, sempre com avanços superiores a dois dígitos. O psicólogo Paulo Ferreira contribui para essa alta da demanda. “O primeiro quesito que observo é o preço. Mas quando empata tem a questão ecológica”, diz ele, que, no ano passado, usou somente a gasolina, mas voltou a optar pelo concorrente desde que encontrou preços mais acessíveis. “Só às vezes coloco um pouco de gasolina para melhorar a performance”, diz ele.
A maioria dos consumidores ainda prefere a gasolina. Como nos últimos anos o preço era bem favorável, muitos nem sequer se atentam para o comparativo de preços e vão direto em busca do derivado de petróleo. O taxista Isekson Campos, por exemplo, considera o combustível mais “prático”. Isso porque precisaria abastecer com maior frequência caso optasse pelo etanol. “A última vez que abasteci com álcool foi para viajar para o Espírito Santo, em fevereiro. Mas não foi escolha. Não tinha gasolina nas bombas”, recorda-se. No posto Wap, na Avenida Amazonas, há dois meses o preço do etanol é inferior a 70% do ofertado para gasolina. Com isso, houve aumento da procura. Hoje, entre 30% e 40% do total vendido é de álcool, segundo o chefe de pista da unidade, Talmo Júnior. “A gasolina ainda predomina”, diz.
PRODUÇÃO As condições climáticas favoreceram o aumento da produtividade da atual safra, segundo o secretário-executivo da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos. Ele explica que a chuva nas regiões produtoras do estado permitiu grande renovação das lavouras de cana. Fora isso, as usinas aumentaram a área de plantio. A expectativa é que neste ano sejam colhidos 60 milhões de toneladas de cana, enquanto na safra passada ficou em 51,7 milhões de toneladas. Isso fez com que a safra seja estendida até a primeira quinzena de dezembro.
Fator decisivo para o aumento da oferta do etanol hidratado é que a grande oferta de açúcar no mercado internacional gerou excedente, reduzindo os preços da commodity e, com isso, forçando os produtores a alterar o perfil da produção. Em Minas, no ano passado, 49% do total produzido era de etanol (anidro e hidratado). Neste ano, a soma é de 56%. O restante é de açúcar. O secretário-executivo da Siamig, no entanto, afirma que, caso não sejam feitos investimentos, a produção nos próximos anos não vai crescer. Segundo ele, o fechamento de seis usinas mineiras nos últimos quatro anos em função da crise econômica internacional (no país foram 45) reduziu drasticamente a capacidade do setor. “Estamos chegando ao limite da capacidade instalada”, diz Campos.
Jogo desigual O fim do subsídio ao valor da gasolina é tido como a única solução para o etanol se tornar competitivo de fato, segundo especialistas. Apesar de o governo federal ter zerado o PIS-Cofins do setor em abril, o que corresponde a uma redução de aproximadamente R$ 0,12 por litro do combustível, a manutenção dos incentivos à gasolina para impedir a alta da inflação têm efeitos danosos para a cadeia do álcool.
A expectativa é que ainda neste mês sejam definidos os reajustes nas refinarias, podendo o derivado do petróleo ter aumento de até 10%. O aumento já foi pedido em público por representantes da Petrobras mais de uma vez. O reajuste diminuiria as perdas nas operações, uma vez que a companhia compra o produto no exterior por um preço e o revende a valor inferior no Brasil. Inclusive, estancando o problema a empresa aumentaria a capacidade de investimento em setores estratégicos.
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor-fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, adverte, no entanto, que para se ter sequência na competição entre os combustíveis o governo federal deveria equiparar os valores da gasolina ao encontrado no mercado internacional. Caso contrário, a chegada da entressafra da cana-de-açúcar vai fazer com que a gasolina volte a ser vantajosa. “É uma competição temporária. Na entressafra muda outra vez. É preciso aumentar o preço da gasolina, nunca a deixando muito defasada”, diz Pires. O ideal, segundo o especialista, seria modificar o valor do combustível toda vez que houvesse alterações nos preços do petróleo e do câmbio. (PRF)