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Estado de Minas

Álcool já disputa os tanques no estado

Aumento da safra de etanol deixa o combustível mais competitivo, com valor equivalente a 70% do preço da gasolina na média do estado. Mas derivado do petróleo ainda é o preferido


postado em 08/10/2013 07:15 / atualizado em 08/10/2013 07:56

Depois de quase três anos de falta de competitividade do etanol hidratado em relação à gasolina nas revendas mineiras, o crescimento da safra da cana-de-açúcar, associado à situação de baixa do açúcar no mercado internacional, força o empate na disputa nas bombas. Nos últimos dois meses, considerando o cálculo feito para medir o custo-benefício, pelo qual o álcool para ser vantajoso precisa valer menos que 70% da gasolina, na média do estado os preços se equivalem, segundo levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Tal cenário colabora para os motoristas finalmente voltarem a optar pelo etanol. Nos oito primeiros meses do ano, o crescimento do consumo é de 35,47% ante igual período do ano passado, enquanto a procura pela gasolina aumentou 4,66%.

Nos últimos anos, o que se percebia claramente era uma derrocada da produção do etanol. Ano a ano, os produtores reduziam o volume ofertado, priorizando o açúcar. Em 2011 e 2012, o total produzido foi inferior em 26% e 17,6%, respectivamente, em relação ao ano imediatamente anterior, se considerado o período entre janeiro e agosto. O mesmo se repetia em quase todo o país. Enquanto isso, a Refinaria Gabriel Passos (Regap) e outras unidades eram obrigadas a aumentar a produção de gasolina para abastecer a frota crescente do país, apesar de não terem sido criadas novas refinarias no período.

Quando os valores empatam, Paulo Ferreira opta pelo combustível ecológico(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Quando os valores empatam, Paulo Ferreira opta pelo combustível ecológico (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Em junho, teve início movimento nas revendas de favorecimento ao consumo do etanol. Aos poucos, os primeiros postos de combustível apresentavam preços competitivos em relação à gasolina, apesar de a média estadual do valor do álcool hidratado ainda representar 72,51% do da gasolina. À época, de 10 postos visitados, em três o álcool tinha melhor custo-benefício. Mas desde janeiro o movimento de consumo de etanol tem tido forte impulso, sempre com avanços superiores a dois dígitos. O psicólogo Paulo Ferreira contribui para essa alta da demanda. “O primeiro quesito que observo é o preço. Mas quando empata tem a questão ecológica”, diz ele, que, no ano passado, usou somente a gasolina, mas voltou a optar pelo concorrente desde que encontrou preços mais acessíveis. “Só às vezes coloco um pouco de gasolina para melhorar a performance”, diz ele.

A maioria dos consumidores ainda prefere a gasolina. Como nos últimos anos o preço era bem favorável, muitos nem sequer se atentam para o comparativo de preços e vão direto em busca do derivado de petróleo. O taxista Isekson Campos, por exemplo, considera o combustível mais “prático”. Isso porque precisaria abastecer com maior frequência caso optasse pelo etanol. “A última vez que abasteci com álcool foi para viajar para o Espírito Santo, em fevereiro. Mas não foi escolha. Não tinha gasolina nas bombas”, recorda-se. No posto Wap, na Avenida Amazonas, há dois meses o preço do etanol é inferior a 70% do ofertado para gasolina. Com isso, houve aumento da procura. Hoje, entre 30% e 40% do total vendido é de álcool, segundo o chefe de pista da unidade, Talmo Júnior. “A gasolina ainda predomina”, diz.

PRODUÇÃO
As condições climáticas favoreceram o aumento da produtividade da atual safra, segundo o secretário-executivo da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos. Ele explica que a chuva nas regiões produtoras do estado permitiu grande renovação das lavouras de cana. Fora isso, as usinas aumentaram a área de plantio. A expectativa é que neste ano sejam colhidos 60 milhões de toneladas de cana, enquanto na safra passada ficou em 51,7 milhões de toneladas. Isso fez com que a safra seja estendida até a primeira quinzena de dezembro.

Talmo Júnior conta que apesar que, apesar da alta na procura, vendas de álcool são 40% do total (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Talmo Júnior conta que apesar que, apesar da alta na procura, vendas de álcool são 40% do total (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Fator decisivo para o aumento da oferta do etanol hidratado é que a grande oferta de açúcar no mercado internacional gerou excedente, reduzindo os preços da commodity e, com isso, forçando os produtores a alterar o perfil da produção. Em Minas, no ano passado, 49% do total produzido era de etanol (anidro e hidratado). Neste ano, a soma é de 56%. O restante é de açúcar. O secretário-executivo da Siamig, no entanto, afirma que, caso não sejam feitos investimentos, a produção nos próximos anos não vai crescer. Segundo ele, o fechamento de seis usinas mineiras nos últimos quatro anos em função da crise econômica internacional (no país foram 45) reduziu drasticamente a capacidade do setor. “Estamos chegando ao limite da capacidade instalada”, diz Campos.

Jogo desigual O fim do subsídio ao valor da gasolina é tido como a única solução para o etanol se tornar competitivo de fato, segundo especialistas. Apesar de o governo federal ter zerado o PIS-Cofins do setor em abril, o que corresponde a uma redução de aproximadamente R$ 0,12 por litro do combustível, a manutenção dos incentivos à gasolina para impedir a alta da inflação têm efeitos danosos para a cadeia do álcool.
A expectativa é que ainda neste mês sejam definidos os reajustes nas refinarias, podendo o derivado do petróleo ter aumento de até 10%. O aumento já foi pedido em público por representantes da Petrobras mais de uma vez. O reajuste diminuiria as perdas nas operações, uma vez que a companhia compra o produto no exterior por um preço e o revende a valor inferior no Brasil. Inclusive, estancando o problema a empresa aumentaria a capacidade de investimento em setores estratégicos.

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor-fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, adverte, no entanto, que para se ter sequência na competição entre os combustíveis o governo federal deveria equiparar os valores da gasolina ao encontrado no mercado internacional. Caso contrário, a chegada da entressafra da cana-de-açúcar vai fazer com que a gasolina volte a ser vantajosa. “É uma competição temporária. Na entressafra muda outra vez. É preciso aumentar o preço da gasolina, nunca a deixando muito defasada”, diz Pires. O ideal, segundo o especialista, seria modificar o valor do combustível toda vez que houvesse alterações nos preços do petróleo e do câmbio. (PRF)


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