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Estado de Minas

3,5 milhões de crianças e adolescentes ainda pegam no batente no país

No entanto, presidente festeja na internet queda no número


postado em 09/10/2013 06:00 / atualizado em 09/10/2013 07:05

Com quase 12 anos, o menino C. trabalha entregando compras para clientes de supermercado no Bairro Santa Efigênia, em BH(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Com quase 12 anos, o menino C. trabalha entregando compras para clientes de supermercado no Bairro Santa Efigênia, em BH (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)

"Tá vendo… É trabalhador desde cedo. Novinho e já ajuda em casa." A observação, feita por uma senhora que aparenta ter mais de 70 anos, reflete a condição do franzino C., que, perto de completar o aniversário de 12 anos, em vez de jogar bola com os amigos para quem sabe um dia realizar o sonho de ser o novo Messi, auxilia a idosa e outras dezenas de fregueses de um supermercado a levar as compras para casa em troca de R$ 5 ou R$ 10, às vezes até mesmo uma moeda de R$ 1. Pelas ruas e ladeiras do Bairro Santa Efigênia, o garotinho empurra o carrinho cheio de sacolas, atravessando sinais abertos para conseguir concluir o serviço o quanto antes e poder conseguir uns trocados a mais para conseguir comprar um tablet, uma chuteira ou quem sabe duas novas manetes do videogame, quebradas pelo irmão mais novo meses atrás.

A impiedosa rotina, no entanto, não é exclusividade de C., se repetindo com milhões de meninos e meninas. Apesar de a presidente da República Dilma Rousseff (PT) ter comemorado ontem, na internet, a redução dos números nas últimas décadas, o caminho até a erradicação do trabalho infantil no país ainda é bem longo: são 3,5 milhões de crianças e adolescentes, de 5 a 17 anos, trabalhando para ajudar nas contas de casa no Brasil. Em Minas, são quase 350 mil na mesma situação.

Se o crescimento econômico permitiu a muitos filhos brasileiros alcançar um futuro melhor que o presente dos pais, no caso de C., ele parece estar fadado a repetir a trajetória paterna. Todos os dias, depois de sair da escola e almoçar enquanto faz o dever de casa, o jovenzinho acompanha o pai até o supermercado, onde o mais velho faz entregas de carro. Nem sempre C. consegue empurrar sozinho o carrinho cheio. Ontem à tarde ele conduzia as compras da idosa, que, sabedora do percurso acidentado, logo ligou para um neto encontrá-la perto de casa para ajudar a puxar o carrinho no morro que antecede a chegada. A volta é menos custosa e, para aliviar o dia, C. se diverte fazendo manobras pelas descidas com o carrinho já vazio.

Até o horário de voltar para casa é o mesmo. “Lá pras 7, 8 (horas da noite), eu volto com ele”, diz C. É o tempo de tomar banho, comer algo e dormir para descansar para a rotina do dia seguinte. Sábado e domingo tudo se repete, mas com horários mais flexíveis, afinal o estabelecimento fecha às 14h. Sorte mesmo é quando chove ou o supermercado está vazio. “Aí dá para eu voltar para casa e brincar um pouco”, mas, por enquanto, o dinheiro não é suficiente para os novos controles do videogame. “Já juntei uns 50 e poucos. Tinha mais. Mas meu pai às vezes pede: ‘filho, me empresta um dinheiro aí’. E eu vou e dou”, conta ele, que, apesar de não se lembrar há quanto tempo trabalha, só conseguiu juntar pouco mais de R$ 30 com as entregas.

Enquanto C. ia e vinha pelas ruas da capital mineira, em Brasília, a presidente comentava pelo Twitter os avanços no combate ao trabalho infantil anunciados na 3ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil. “Estamos fazendo nossa parte. Entre 1992 e 2011, o Brasil reduziu em 57% o número de crianças e adolescentes em trabalho infantil”, disse Dilma pelo microblog, na sequência, em novo post, afirmando que “é uma discussão importantíssima para o futuro de todos nós: lugar de criança é na escola!”.

No caso de C., mesmo com o esforço do trabalho diário, ele consegue manter-se na escola. Mas o retrato das crianças e adolescentes que estudam e trabalham é crítico. Em Minas, segundo o último Censo, o nível de jovens que deixou de frequentar as salas de aula é bem maior entre os que trabalham, comprometendo assim seu futuro profissional. Entre 10 e 13 anos, por exemplo, 10,3% dos ocupados deixam de ir à escola, enquanto entre os que não trabalham a evasão escolar é de apenas 1,9%.


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