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Estado de Minas

Banco Central avisa que os juros vão a 10%

Ata da reunião do Copom reforça preocupação com a inflação e abre as portas para aumento maior da Selic em novembro


postado em 18/10/2013 06:00 / atualizado em 18/10/2013 07:17

O Banco Central (BC) deu ontem um sinal claro de que pode, já a partir de novembro, enterrar uma das maiores bandeiras políticas do governo Dilma Rousseff: o juro básico abaixo de 10% ao ano. A ata que explica a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de ter elevado a taxa Selic de 9% para 9,5%, na semana passada, traça um cenário preocupante para a inflação. A palavra, inclusive, aparece no documento 40 vezes, contra 34 menções no relatório de agosto.


Em cada menção, um alerta: “Taxas de inflação elevadas subtraem o poder de compra de salários e de transferências, com repercussões negativas sobre a confiança e o consumo das famílias”, diz um trecho, que menciona o risco de que “essas distorções se manifestam, por exemplo, no encurtamento dos horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos, bem como na deterioração da confiança de empresários”. Em outro parágrafo, os diretores detectam que a “elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos 12 meses contribui para que a inflação ainda mostre resistência”.

Para o mercado, a única conclusão a que se pode chegar é de que o BC escancarou as portas para um aumento ainda maior dos juros básicos. Antes da divulgação da ata, a maioria das apostas dos economistas ouvidos pelo EM era que a Selic subira apenas 0,25 ponto em novembro, para 9,75%, permanecendo nesse patamar durante todo o ano de 2014. “Agora ficou claro que o BC trabalha com a possibilidade de um ajuste maior, de 0,5 ponto, e que pode fazer até mais, caso a inflação não mostre perda de força”, disse o economista Antonio Madeira, da LCA Consultores.

Dentro da equipe econômica o clima é de apreensão. O governo avalia que um descontrole dos preços como ocorreu em meados deste ano pode minar a campanha da presidente Dilma em 2014. Mas também está convencido de que elevar os juros para acima de 10% ao ano poderá significar um perigoso precedente para a oposição, que ganhou o reforço de peso com a aliança entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva, ambos do PSB.

Mesmo assim o mercado entende que não há outro caminho para o BC que não seguir com a alta dos juros, doa a quem doer. A percepção de que as coisas estão piores do que se imaginava levou o Itaú Unibanco, o maior banco privado do país, a rever, em apenas três horas, a projeção para o comportamento dos juros até o fim de 2014.

No primeiro comunicado encaminhado a clientes, por volta de 9h30, os economistas da instituição diziam manter, “ainda que por enquanto”, a previsão de apenas mais uma alta de 0,25 ponto na Selic em novembro. Três horas depois, reviram a aposta. “Esperamos, agora, uma nova alta 0,50 ponto, em novembro, e uma última elevação, de 0,25 ponto, em janeiro de 2014, levando a Selic para 10,25% no ano que vem”, escreveu o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, que entre 2000 e 2003 ocupou o posto de diretor de Política Econômica do BC, até o início do governo Lula.

A avaliação do mercado é que a autoridade monetária aumentar a dose dos juros para sinalizar comprometimento em cumprir as metas de inflação, levando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta, de 4,5%. Durante muito tempo o BC ficou desacreditado por, segundo acreditam os economistas, ter cedido às pressões da presidente Dilma Rousseff para levar a Selic ao menor patamar histórico, 7,25%.

Esse nível de juros, apesar de ter durado apenas cinco meses, foi suficiente para provocar um verdadeiro rombo na confiança dos agentes econômicos. O passo seguinte foi uma deterioração da inflação. Em 2013, houve apenas um mês, em setembro, que o IPCA ficou abaixo dos 6% ao ano. Como a missão do presidente do BC é entregar uma inflação menor do que a de 2012, quando o índice acumulou alta de 5,84%, o mercado acredita que ele terá que mostrar pulso firme e retomar as rédeas da política monetária.

“O BC rompeu com o Planalto”, cravou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, em relatório encaminhado a clientes. “Para quem (ainda) tinha dúvidas do comprometimento da autoridade monetária com o sistema de metas (para a inflação) e da sua independência em relação à administração federal, depois da ata de hoje (ontem) não resta (qualquer) dúvida”, disse.

 

Mantega rebate críticas

Rosana Hessel e Antonio Temóteo

Brasília – O ministro da Fazenda Guido Mantega rebateu as críticas de especialistas do mercado e dos futuros candidatos da oposição de que está havendo um “retrocesso” na condução da economia do país. “Os fundamentos da economia são sólidos, com uma inflação sob controle e que há dez anos não ultrapassa as metas estabelecidas”, afirmou ele durante a abertura de sua apresentação do cenário macroeconômico na cerimônia de divulgação do oitavo balanço do segundo programa de aceleração do crescimento (PAC 2), ontem, no Palácio do Itamaray.

Ele lembrou que o Banco Central não precisou dispor de suas economias em moeda estrangeira, hoje em US$ 369,4bilhões, e destacou como uma das principais provas dessa estabilidade econômica. “Isso mostra que o país é sólido e não precisa usar as reservas em tempos de turbulência”, disse ele. Mantega, no entanto, reconheceu que 2013 não tem sido um ano fácil para a economia brasileira. “Mas a notícia boa é que o mundo está em recuperação e isso ajuda o Brasil também”, disse ele, no tom otimista de costume.

Durante a apresentação, o ministro não deixou de destacar as concessões em infraestrutura, a tábua de salvação do governo para o aumento dos investimentos no país. Segundo ele, estão R$ 291,9 bilhões estão previstos entre 2014 e 2018.

Enquanto isso, a taxa de investimento do país que patina em 18% do Produto Interno Bruto e é uma das mais baixas dos países emergentes e até mesmo da América Latina. 


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