Conhecer novas culturas e ter experiências profissionais fora do país. Cada vez mais brasileiros adultos estão partindo para o exterior na intenção de viver algo diferente e aprender outro idioma. A expectativa da Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais (Belta) é de que o mercado cresça 15% neste ano. Em 2012, cerca de 175 mil brasileiros foram estudar no exterior, movimentando uma bolada de mais de U$ 1 bilhão.
O tempo em que se pensava que intercâmbio era exclusivo para adolescentes já passou e os cursos têm se adaptado ao público com mais de 18 anos. Os intercâmbios têm durações variadas entre duas semanas durante as férias, três a seis meses ou até mesmo dois anos, em países como Canadá, Estados Unidos ou Inglaterra. Com o aumento da demanda por intercâmbios adultos, além dos cursos regulares que não têm limite de idade, foram surgindo outras modalidades, como intercâmbio familiar, graduação, pós-graduações e especializações. “O aumento do poder aquisitivo do brasileiro proporcionou esse crescimento que deve permanecer nos próximos anos. Há intercâmbios de todos os tipos, que atendem a todos”, afirma o coordenador regional de Minas Gerais da Belta, Gabriel Lloyd.
O objetivo desses brasileiros é construir carreira. Pesquisa da Belta revela que em 2012 73,8% das pessoas que viajaram para estudar no exterior tinham entre 18 e 30 anos, 20% tinham até 17 anos e 6,2% entre 31 e 50 anos. “O cenário no Brasil está favorável para a construção de carreiras. O mercado está globalizado e cada vez mais multinacionais, que valorizam pessoas com vivência de outras culturas, se instalam no Brasil”, revela Georgia Godoi, coordenadora de Relacionamento com o Cliente da Dasein Executive Search no Brasil, empresa especializada em recrutamento de executivos.
É o caso do engenheiro mecânico Gustavo Santos Galo, de 29 anos, que aproveitou as férias da empresa para fazer aperfeiçoar o inglês. Ele ficou em Toronto, no Canadá, por 30 dias, estudando de segunda a sexta-feira. O jovem executivo revela que procurou o intercâmbio por dois motivos: se atualizar profissionalmente no inglês e conquistar a vivência internacional para uma promoção dentro da empresa em que ele atuava. “Conhecer outras culturas e saber lidar com elas são fatores determinantes na hora de conquistar uma vaga no mercado de trabalho. É incrível como a empresa passa a valorizá-lo depois dessa experiência”, afirma.
INVESTIMENTO POSITIVO Logo que voltou do exterior, Gustavo Galo conseguiu uma promoção na empresa em que trabalhava. Pouco tempo depois, ele mudou de companhia, conseguindo uma colocação ainda melhor, resultado do investimento feito no intercâmbio. O preço pode pesar no bolso, mas a recompensa vem de imediato. O investimento feito por Gustavo na época foi de cerca de U$ 2 mil e o retorno veio junto com a promoção e depois com a melhor colocação no mercado de trabalho. “Acho que fui na hora certa e ficaria mais, se fosse possível. Já estou planejando o próximo, na Inglaterra. A vivência internacional e o inglês fluente são fatores positivos dentro de qualquer empresa”, acredita.
De acordo com a Belta, 68,1% dos brasileiros que viajaram para estudar no exterior fizeram algum curso de idiomas. Os adolescentes ainda representam uma boa fatia do mercado, já que 27,5% procuraram pelas highschool. Os adultos que passam uma temporada fora geralmente dividem o tempo entre a sala de aula e passeios, podendo escolher acomodações em casa de família, o que fica mais barato, ou casas de estudantes e hotéis, opção mais cara. A idade não importa. O que vale na hora de se inscrever num curso no exterior, é o espírito de aventura e a disposição para curtir tudo o que um programa de intercâmbio em um país estrangeiro pode oferecer.
Sem idade para aprender
A professora aposentada Gilda Helena Coelho Caldeira já arrumou a mala duas vezes, para um intercâmbio no Canadá e outro na Ilha de Malta. Nas duas oportunidades, ela aproveitou para conhecer outras cidades, além de museus, parques e destinos turísticos dos dois países e ainda conseguiu dar uma escapada para o Havaí. Apesar de o mercado já oferecer intercâmbios especializados para atender o público com mais de 50 anos, Gilda preferiu contratar um curso regular. A aposentada conta que na primeira oportunidade ela passou quatro meses no Canadá, intercalando dois em Toronto e dois em Vancouver, onde foi eleita a melhor aluna do curso. Gilda ficou hospedada em uma casa de família, onde era mais em conta, e até hoje ela mantém contato com os amigos que fez. “Eu estudei muito e dividia a sala com muitos jovens, mas isso não me impedia de aproveitar o melhor do curso. Pelo contrário, o contato com pessoas de outras idades, outros países, me fazia ficar empolgada e me dedicar cada dia mais para falar bem o inglês”, comenta.
A aposentada garante que o dinheiro gasto no intercâmbio foi muito bem empregado e afirma também que fazer a viagem para estudar custa quase o mesmo valor de uma viagem apenas de turismo. “Você paga quase o mesmo preço, mas tem o benefício de estudar e ainda conhecer outro país, outra cultura”, completa. O pensamento de Gilda Caldeira é confirmado pelo proprietário da Pier Turismo e Intercâmbio, Pedro Paulo Victer. Ele afirma que os preços de pacotes turísticos e intercâmbios, quando bem planejados, saem pelo mesmo valor. “Quando você faz um intercâmbio, é como se você passasse a fazer parte da cidade mais do que qualquer turista. Você tem uma melhor interação e inserção na sociedade”, explica.
Os países EUA, Canadá e Reino Unido permanecem entre os mais preferidos dos estudantes. Vale ressaltar que neste ano, o expressivo interesse pelo Reino Unido é exclusivamente pela Inglaterra, de acordo com levantamento da Belta. A procura por qualificação no exterior aumenta e há diversas formas de se ingressar em uma faculdade estrangeira, como o programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal, e intercâmbios de graduações, que podem ser encontrados com preços entre US$ 3,1 mil até US$ 70 mil. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), há mais brasileiros com mestrado nos Estado Unidos, 8,84%, do que os próprios norte-americanos, 6,28%.