Apesar de apenas uma empresa ter participado do leilão do campo de Libra, o fato de o processo não ter se encerrado deserto, segundo especialistas, transmite credibilidade ao mercado internacional. O presidente da Câmara da Indústria do Petróleo e Gás da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), José Luiz de Melo Aguiar, afirma que as regras impostas, tendo a Petrobras como operadora, de certa forma gerou insegurança sobre os players estrangeiros. “Mesmo não sendo sucesso total, é um passo importante para o país. O processo avançou. Vamos ter produção”, afirma Aguiar, que cita a capa da revista inglesa The Economist como prova dos arranhões sofridos pela imagem do Brasil nos últimos meses.
Sobre a não participação dos quatro gigantes do setor do petróleo no leilão (Exxon Mobil, British Petroleum, BG Group e Chevron), o economista da Gradual Investimentos André Perfeito projeta um novo panorama de parcerias para o Brasil, distante “do radar dos investidores tradicionais”. Ele avalia que a relação abalada com os Estados Unidos permite ao país buscar um novo circuito de investimentos. “O Brasil, que era amplamente superavitário com os Estados Unidos, hoje amarga um déficit crescente. Já a China tem salvado a lavoura, por assim dizer”, diz Perfeito. O economista explica que isso não significa que, a médio e longo prazo, o estreitamento de laços com chineses seja melhor, mas os norte-americanos não têm estendido a mão da maneira adequada. “Seria a hora de o Brasil estender a mão, e cobrar por isso”, afirma, ressaltando a possibilidade de algumas empresas ausentes no primeiro leilão participar de outros, em especial o do campo de Lula.
O presidente nacional do PSDB, senador eleito por Minas Aécio Neves, aponta dois lado do leilão do primeiro campo do pré-sal. Por um lado, ele diz ser importante “o reconhecimento, ainda que tardio e envergonhado por parte do governo”, da importância da participação da iniciativa privada nos investimentos. Por outro, Aécio afirma que o atraso no leilão e as “contradições do governo vêm minando a confiança de muitos investidores”. O tucano diz que, no caso da Petrobras, a perda de valor da empresa é “imperdoável e irrecuperável”.
IMPULSO Fornecedores de insumos e prestadores de serviços para o setor de óleo e gás esperam alta demanda e um intenso movimento de fusões e aquisições no Brasil, com a exploração do Campo de Libra. O grupo mineiro Georadar, sócio da americana ION em projetos de sísmica marítima, é um dos que se adiantaram a esse novo formato de atuação voltado à camada do pré-sal, informou ontem o presidente de Novos Negócios da Georadar, Celso Magalhães. “O resultado do leilão foi o previsto, mas muito bom por envolver quatro grandes operadoras e uma reserva fantástica”, afirmou.
Segundo Celso Magalhães, o Brasil não tem competência técnica e investimentos suficientes para atender toda a quantidade de serviços que surgirão no desenvolvimento de Libra. “As empresas brasileiras vão ter de se internacionalizar e as estrangeiras terão de criar joint ventures no Brasil para se tornar fornecedoras. Isso é bom porque vai trazer tecnologia e investimentos ao país num período relativamente curto”, disse.