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Estado de Minas

Petrobras será testada até o limite depois do primeiro leilão do pré-sal

Leilão do Campo de Libra expõe desafios relacionados com a capacidade de caixa da estatal. Ações recuam frente a temores


postado em 23/10/2013 06:00 / atualizado em 23/10/2013 08:05

(foto: Ricardo Moraes/Reuters)
(foto: Ricardo Moraes/Reuters)

Um dia depois do leilão do Campo de Libra, o primeiro do pré-sal de acordo com as regras da partilha, os olhos de analistas e investidores se voltaram para a capacidade de a Petrobras responder ao seu maior desafio. Como operadora legal da área e sócia majoritária do consórcio vencedor, com 40%, a estatal terá de redobrar os esforços para conciliar as atuais dificuldades de caixa e o seu elevado endividamento com o atual plano de investimentos e a participação no novo projeto, que custará US$ 80 bilhões até 2024.

O sintoma da emergente preocupação veio da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Após a euforia da véspera, com o anúncio da parceria entre a Petrobras e as europeias Shell e Total, quando as ações da estatal subiram mais de 5%, ontem, os papéis preferenciais recuaram 1,6% e os ordinários (com direito a votos), 1%. As indefinições em torno da política de reajuste de combustíveis, que têm minado os cofres da empresa, e os compromissos mais urgentes da empreitada na maior reserva petrolífera do país começaram a serem colocadas na mesa.

Até então, valia o otimismo com a composição do grupo vencedor no leilão de Libra, que revela apoio à liderança técnica da petroleira brasileira, e alívio com a redução da presença chinesa, representada pelas estatais CNPC e CNOOC. Apesar do ágio zero resultante da ausência de competição, especialistas consideraram favorável à Petrobras a vitória com o lance mínimo de 41,65% em óleo excedente que terá de ser entregue à União.

A primeira pressão direcionada contra a estratégia da empresa, depois da ressaca com as notícias de segunda-feira, veio da dúvida sobre a sua engenharia financeira para depositar, até o fim de novembro, os R$ 6 bilhões equivalentes a sua parcela dos R$ 15 bilhões do bônus de assinatura do contrato de partilha. Esses recursos são esperados, desesperadamente, pelo governo federal para engordar o minguado superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) deste ano.

“A companhia não terá dificuldade em cumprir a sua parte, tendo feito o lance que analisou estar condizente com as suas possibilidades. O governo não está cogitando fazer aporte do Tesouro na empresa. Se for o caso, o mercado está aberto para fazer novos empréstimos a ela”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Para ele, a Petrobras terá condições de suportar o peso das despesas no desenvolvimento de Libra até 2019, quando a extração começará a dar retorno dos investimentos. A presidente da estatal, Graça Foster, afirmou na noite de ontem que o pagamento do bônus será “tranquilo, tranquilo”. Ela não adiantou nada sobre ajustes no plano de negócios da companhia.

Em reforço, o diretor de gás da Petrobras, Alcides Santoro, declarou que o desembolso para a aquisição da jazida recorde na Bacia de Santos (RJ) não vai reduzir o apetite da estatal pela próxima rodada da Agência Nacional do Petróleo (ANP), envolvendo a exploração de gás em terra firme e também a programada para o mês que vem. “O interesse no certame está mantido, não diminuiu em nada. Avaliamos o custo e o uso de gás e isso faz parte da nossa estratégia para a 12ª rodada”, resumiu.

Com menor grau de receio, o mercado também acompanha os desdobramentos jurídicos do leilão de Libra. A Advocacia Geral da União (AGU) informou que a Justiça ainda precisa analisar quatro ações, de um total de 27 que questionam a privatização do pré-sal. Na avaliação de advogados, apesar de não terem sido concedidas liminares para suspender a disputa, ainda há risco de anulação.

O diretor da ANP Helder Queiroz avisou que o próximo leilão do pré-sal deve ter mais de uma área em oferta e os blocos serão de porte menor que o de Libra. A recomendação da agência é de que não haja nenhum outro leilão na área onde se acredita existirem grandes reservas de petróleo, no prazo de dois anos, dada a demanda de investimentos em Libra.

Grupo sólido

A presidente Dilma Rousseff descartou ontem fazer qualquer mudança no polêmico modelo de partilha, criado especificamente para o pré-sal e que estreou com o leilão do Campo de Libra. Ela considerou o certame bem-sucedido, apesar de ter tido apenas um consórcio, que venceu com o lance mínimo. “Aqueles que querem mudar isso mostrem as suas faces e defendam. Não atribuam ao governo o interesse em modificar qualquer coisa. O governo está satisfeito com modelo de partilha”, afirmou.

Ela chamou de “sólido” o grupo vencedor do leilão. No dia anterior, em pronunciamento, Dilma deu um tom triunfal ao resultado da licitação, como largada para uma nova fase exploratória com ganhos sociais, e negou ter privatizado riqueza tão importante do país.

Em Lisboa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o leilão de Libra foi um grande salto do governo brasileiro e que o dinheiro arrecadado com a produção do petróleo será investido na educação e na saúde.

O senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG), criticou o governo ao atribuir à Dilma a maior “privatização da história brasileira”, a do Campo de Libra. Para ele, o leilão foi um “enorme fracasso”. “Devo dar as boas-vindas à presidente da República ao mundo das privatizações, agora no setor do petróleo. E talvez não seria favor algum o governo do PT poder orgulhar-se de dizer que fez a maior privatização de toda a história brasileira”, enfatizou. Já o pré-candidato do PSB à Presidência, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, afirmou que o modelo de partilha “precisa ser aperfeiçoado”. Ele reclamou da falta de competição.

Sem preocupações

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem não estar preocupado com a possibilidade de valorização do real em consequência do ingresso de dólares no Brasil para o pagamento do bônus de assinatura do contrato para a exploração do Campo de Libra. O montante, de R$ 15 bilhões, deverá ser entregue ao governo em até um mês.

“A injeção (de recursos no Brasil) não será tão grande. Serão US$ 4 bilhões. No fluxo que temos, não é algo muito expressivo”, comentou o ministro. Mantega não deu detalhes, mas o valor deve corresponder ao aporte que deverá ser feito pela francesa Total e pelas chinesas CNPC e CNOOC para integralizar sua parte no valor do bônus. A anglo-holandesa Shell, que também compõe o consórcio vencedor de Libra, liderado pela Petrobras, informou que usará recursos próprios que mantém no Brasil.

Segundo Mantega, a internação dos recursos será feita normalmente pelo mercado, sem qualquer operação especial. “Não haverá interferência. As empresas trarão o dinheiro, comprarão reais e farão a transferência para o governo”, afirmou.

Ontem, o dólar teve nova desvalorização diante do real. A moeda recuou 0,48%, fechando a
R$ 2,1715 para a venda, mas a queda foi atribuída pelos analistas à expectativa de que o Federal Reserve, o banco dos Estados Unidos, vai manter inalterado pelo menos até o início de 2014 o programa de estímulos à economia, pelo qual vem despejando US$ 85 bilhões por mês no sistema bancário. A tese foi reforçada pela notícia de que, em setembro, houve um aumento de apenas 148 mil empregos fora do setor agrícola nos EUA, bem abaixo da estimativa de 180 mil, número que ainda denota fraqueza da atividade econômica.

Com Paulo Silva Pinto


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