Brasileiros entre 15 e 24 anos têm chance bem maior de ficar desempregados do que a média da população, revelou estudo divulgado ontem pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O documento, de 184 páginas, destaca que, em 2012, 25% da população economicamente ativa no Brasil tinha entre 15 e 24 anos. Entre os desempregados, 46% eram jovens. "O Brasil tem uma situação praticamente de pleno emprego. Mas entre os mais jovens não é assim", comentou o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría. "Em todo o mundo há este paradoxo: empresas se queixam da dificuldade de encontrar talento e os jovens da falta de vagas para trabalhar. Isso pode ser resolvido por meio de planejamento. Não para amanhã, mas para daqui a cinco anos", disse ele.
A OCDE recomenda que o Brasil aumente o montante de recursos destinados à educação. O Brasil tem elevado os gastos na área. Em 2010, chegou a 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB). O nível permanece abaixo da média dos 34 países que integram a organização, os mais desenvolvidos do mundo, de 6,3%. E mesmo na América Latina o Brasil está atrás de Argentina, Chile e México.
A decisão de destinar parte dos royalties do petróleo em educação, que foi defendida pela presidente Dilma Rousseff e virou lei, é elogiada no documento. Mas "esforços adicionais" precisam ser feitos, segundo a OCDE, sobretudo para melhorar a qualidade do ensino básico. O estudo alerta o governo para que tome o cuidado de evitar que o Programa Bolsa Família não desestimule jovens beneficiários a procurar emprego.
Desaceleração
A OCDE ainda divulgou um relatório que combina expectativa de desaceleração da economia brasileira e críticas à condução das políticas na área. O crescimento do Brasil deverá ser de 2,5% neste ano e deverá cair para 2,2% em 2014, de acordo com a instituição. Em maio, a previsão era de 2,9% para este ano e de 3,5% para o próximo. Assim, além dos números menores, a expectativa de aumento inverteu-se.
Apesar disso, para a OCDE, o Brasil deve manter o aperto da política monetária com o objetivo de levar a inflação ao centro da meta, de 4,5%, em vez de mantê-la próxima do teto, de 6,5%. Ainda de acordo com a instituição, "as regras orçamentárias no Brasil têm sido solapadas" pelo uso de "medidas pouco usuais" com o objetivo de manter o superávit primário. Ao receber ontem o relatório da OCDE, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, rebateu as críticas e recomendações de políticas ao governo brasileiro. "Não li ainda o estudo", ressalvou o ministro ao lado do secretário-geral da OCDE, Angel Gurría.